Projectos
Nome: | CACENA, Lucas de |
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Outros nomes: | CASSANO, Luca / CASSANA, Luca |
Nascimento e morte: | Génova, c. 1458 - Angra do Heroísmo, 1538 |
Descrição: | Nascido numa família genovesa rica mas de origem popular, a qual se encontrava estabelecida na Península Ibérica desde o início do século XV, Lucas era filho de Bartolomeo Cacena e irmão de Francisco Cacena. Seria também irmão ou primo de André Cacena. Ele, Francisco e André Cacena integravam uma companhia comercial da qual Lucas era o sócio maioritário, tendo uma quota de três quartos. Lucas chegou aos Açores, pelo menos, nos primeiros anos da década de 80 do século XV. Fixou-se em Angra do Heroísmo e tornou-se no maior mercador italiano da ilha Terceira. A rua onde residia acabou por adoptar o seu nome, travessa de Lucas de Cacena (actualmente travessa das Minhas Terras). Em 1585, a travessa ainda mantinha aquele nome. Em conjunto com Vicente Dias, Lucas participou de viagens de descoberta de territórios no Atlântico. Segundo o testemunho de D. Fernando Colombo, Vicente Dias teria avistado um novo território a Oeste quando navegava entre a costa da Guiné e a Terceira. Comunicou esse facto a Lucas e convenceu-o a armar um navio para ir até àquela nova ilha. Embora tenha solicitado a colaboração do irmão Francisco, Lucas não conseguiu convence-lo e acabou por partir apenas com Vicente Dias em busca do novo território, que os dois viajantes acabariam por não encontrar. Segundo Pierluigi Bragaglia, estas viagens teriam ocorrido num período entre 1486 e 1491. Certo é que teriam sido anteriores à viagem de Colombo. Por outro lado, permanece a dúvida se Cacena teria efectivamente participado nas viagens de Vicente Dias em demanda das “ilhas perdidas” ou se apenas as financiara. Entretanto, Lucas construíra em Angra uma das mais prósperas casas comerciais dos Açores. Os seus negócios estendiam-se também às ilhas Graciosa, S. Jorge e Pico e ter-se-iam mesmo alargado até às Canárias. A comunicação entre os Açores e Sevilha era constante: era trocado pastel da Terceira por azeite da Andaluzia. Além do comércio a grosso, Lucas também praticava o comércio a retalho. Nas suas casas, tinha uma loja, onde vendia objectos sumptuários. Até ao ano da sua morte, Lucas e o irmão Francisco geriam o pastel da Terceira. O seu testamento refere que todo o pastel de 1538 pertencia à companhia da qual eles dois possuíam dois quintos, enquanto as restantes partes eram de Tommaso Spinola e Battista Grimaldo, genoveses estabelecidos em Toledo. Mantendo contactos com os Corte Reais, com os Merens e outras personagens da elite social da Terceira, Lucas gozava de um estatuto de fidalgo. A 22 de Julho de 1530, obteve carta de armas da nobreza. O seu brasão era um escudo em campo de ouro com uma meia lua vermelha no topo, ao centro, e, em baixo, três faixas pretas; o elmo era de prata, aberto e guarnecido em ouro, com uma coroa de folhas em ouro, vermelho e preto e, por timbre, um meio leopardo de ouro com uma meia lua vermelha no peito. Pela mesma altura, foi-lhe conferida uma carta de naturalização portuguesa e, no ano seguinte, ele aparecia já designado, na documentação, como “fidalgo da Casa Real”. Lucas foi o único Cacena a obter um título nobiliárquico. Em testamento, deixou ao irmão Francisco dois mil cruzados, ao irmão João cem cruzados, às filhas de André Cacena mil cruzados, ao irmão Pedro a mesma quantia e à irmã Ana de Cacena outros mil cruzados, os quais ela só viria a usufruir após o seu casamento, com Pero de Revoredo. Contemplou também alguns escravos e deixou quinhentos réis a cada confraria de Angra e outras quantias destinadas a obras de caridade. Tendo vinculado as suas herdades a uma capela, estipulou que deveria ser cantada uma missa diária em seu nome no convento de S. Francisco, onde o seu corpo seria sepultado. O seu filho Francisco, cuja mãe era Catarina Lourenço, com quem Lucas nunca chegara a casar-se,ficou como administrador único dessa capela e de toda a sua fazenda. |
Bibliografia | |
Estudos: | Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, p. 293. Pierluigi Bragaglia, Os italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira). Tese de Laurea em História Moderna na Universidade dos Estudos de Bologna – Faculdade de Ciências Políticas, Bolonha, 1992, exemplar policopiado, pp. 516-603. Idem, Lucas e os Cacenas. Mercadores e Navegadores de Génova na Terceira (Sécs. XV-XVI), Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais / Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1994. Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, pp. 48-52. Ugo Tucci, “Cassana (Cazzana, Cazona), Luca”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 21, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1978, pp. 433-434. |
Fontes: | ANTT, Chancelaria de D. João III, liv. 52, fls. 141-141v e 143. |