Projectos

Nome:CATANHO, Rafael
Outros nomes:CATTANEO, Raffaele
Nascimento e morte:Lisboa?, c. 1470-1475 – Madeira, c. 1540
Descrição:Oriundo de uma família nobre genovesa, Rafael era filho de Nicolau Catanho, estabelecido em Lisboa. Por isso, Maristella Cavanna Ciappina considera a hipótese do biografado ter nascido naquela cidade e não em Génova, como os seus irmãos, Quirio e Francisco Catanho.
Ainda muito jovem, Rafael teria entrado em contacto com Cristóvão Colombo, com quem, provavelmente, participou na terceira expedição às Índias Ocidentais, em 1498. A expedição partiu da foz do Guadalquivir a 30 de Maio daquele ano. Quando chegou às Canárias, Colombo dividiu a frota em duas: três embarcações seguiriam para a Hispaniola, enquanto que as outras três rumariam a Cabo Verde. Não se conhece em qual dos dois grupos Rafael foi integrado. Porém, sabe-se que, em Setembro ou Outubro, já se encontrava em S. Domingos, onde os dois grupos voltaram a juntar-se. Alguns anos depois, Catanho regressaria novamente a S. Domingos.
Teria sido na viagem de regresso, ou depois, que Rafael se instalou na Madeira, mais exactamente em Santa Cruz, junto do irmão, Quirio. Ali, construiu uma conduta de água com o comprimento de quatro léguas e meia, na qual gastou mais de cem mil cruzados. Essa conduta destinava-se à rega das canas de açúcar da povoação.
Na Madeira, Rafael tornou-se num importante contratador dos direitos do açúcar. Em 1506, obteve o arrendamento das miunças da capitania de Machico.
Por volta de 1510, regressou ao continente e, durante alguns anos, residiu em Sevilha. Durante esse tempo, Rafael ter-se-ia esforçado por consolidar os seus laços com a comunidade mercantil genovesa estabelecida na cidade andaluz. A 6 de Fevereiro de 1512, Gonzalo Lopez conferiu uma procuração a Diego de Padilla para tomar para si 75 ducados de ouro de Rafael. A 2 de Maio de 1516, Catanho subscrevia o pagamento de 78 ducados de ouro a Pedro de Aguilar. Ainda no mesmo ano, ficava em dívida para com Álvaro Fernandes por 18 mil réis de mercadorias que este entregara a Cosme de Spinola.
Existe uma referência a um Rafael Catanho em Azamor em 1514, quando foi passado um mandado para o almoxarife da praça, António Leite, lhe pagar o ordenado relativo aos meses de Abril e Maio daquele ano. A dispersão geográfica leva-nos a colocar em dúvida se este e o biografado seriam o mesmo indivíduo.
Afinal, em finais de 1516, Catanho encontrava-se já em S. Domingos. Porém, acabaria por regressar a Portugal. Rafael (ou um homónimo) surgia, em 1517 e 1519, a capitanear o navio Belém destinado à Índia. A 16 de Março de 1518, D. Manuel concedia-lhe 100 mil réis, a descontar nos 128 700 réis que recebera de casamento, para pagamento de dívidas.
Catanho manteve igualmente os seus negócios na Madeira. No final daquele ano, Luís Doria, rendeiro das miunças do Funchal, declarava ter crédito sobre ele. Em 1523, o recebedor do almoxarifado de Santa Cruz, Fernão Rodrigues, pagou-lhe 12 mil réis de tença. No ano seguinte, a 7 de Maio, exportou, por Santa Cruz, 36 arrobas de açúcar branco, 6 de escumas e 1 barril de conservas para Lisboa.
Tal como o irmão Quirio, Rafael obteve de D. Manuel a autorização para usar no reino o seu título de nobreza. O brasão dos Catanho apresentava-se cortado ao meio, sendo a metade de cima dourada, com uma águia estendida e coroada de negro, e a de cima prateada, com três faixas azuis
Em 1526, era condecorado com o hábito da Ordem de Cristo, usufruindo de uma renda anual no valor de 12 mil reais.
Após a morte de Quirio Catanho, a tutela de Diogo Teixeira, cunhado deste e filho de Tristão Teixeira, foi confiada a Rafael. Diogo, quarto capitão de Machico, acabou por se casar com uma filha do biografado, Angela Catanho.
Por volta de 1540, Rafael suicidava-se na Madeira.
Bibliografia
Estudos:Afonso Eduardo Martins Zúquete, Armorial Lusitano. Genealogia e Heráldica, Lisboa, Representações Zairol, 1961, p. 154.
Fernando Jasmins Pereira, “Estrangeiros na Madeira entre 1500 e 1537”, Estudos sobre a História da Madeira, Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico / Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração, 1991, p. 391-392.
Luísa D’Arienzo, La presenza degli italiani in Portogallo al tempo di Colombo, Roma, Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato / Libreria dello Stato, 2003, p. 786.
Maristella Cavanna Ciappina, “Cattaneo, Raffaele”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 22, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1979, pp. 479-480.
Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, p. 295.
Pierluigi Bragaglia, Os italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira). Tese de Laurea em História Moderna na Universidade dos Estudos de Bologna – Faculdade de Ciências Políticas, Bolonha, 1992, exemplar policopiado, pp. 394-395.
Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, pp. 53-54.

Fontes:ANTT, Corpo Cronológico, parte I, maço 59, n.º 90.
Idem, Ibidem, parte II, maço 48, n.º 19; maço 78, n.º 80 e 156; maço 134, n.º 73.
Fernando Jasmins Pereira e José Pereira da Costa (prefácio, leitura e notas), Livros de Contas da Ilha da Madeira 1504-1537, vol. I, Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, 1985, pp. 74, 117, 166, passim.