Projectos

Nome:GHERSI, César
Outros nomes:GUERSI, César
Nascimento e morte:Génova, 1628 - Lisboa, 29/3/1697
Descrição:Filho do capitão Simão Ghersi, mercador, e de Maria Madalena Ghersi, moradores em Génova e já falecidos em 1674, César era irmão de João Tomás e de Francisco Ghersi.
César Ghersi estabeleceu-se em Lisboa ainda durante o reinado de Afonso VI. O seu poder económico cedo conquistou o favor régio. O monarca chegou-lhe a dar autorização para poder enviar ao Brasil o seu navio Bom Jesus, do qual era mestre e capitão António Vaz Quaresma, e regressar ao reino fora da frota e com a carga que desejasse.
Em 1674, encontrava-se já plenamente integrado na sociedade lisboeta, sobretudo entre os seus conterrâneos estabelecidos naquela cidade. Residia junto ao Muro dos Cubertos, numas casas que eram propriedade de Franco André Carrega e de Nicolau Micon, e era uma figura de destaque na confraria de Nossa Senhora do Loreto. Por volta desse ano, contratou o pintor genovês João Domingos da Ponte para decorar o tecto da igreja. Além disso, exerceu vários cargos na confraria. Nomeadamente, em 1676, era tesoureiro-mor, ao lado do irmão João Tomás.
A 20 de Fevereiro de 1674, César recebia uma provisão de familiar do Santo Ofício. Entre as testemunhas do processo de habilitação, encontravam-se vários mercadores genoveses com negócios e casa em Lisboa e que o conheciam desde o tempo em que ainda residia em Génova. Eram os casos de João Bartolomeu Cazareja, João Tomás Castro, João Domingos e João Bernardo Guilhom, Pelegio Trença ou João Félix Bonfilho.
Foi em sociedade com o irmão João Tomás que César manteve grande parte dos seus negócios. Os dois, ainda nesse ano de 1674, emprestaram 1 600 mil réis a Sebastião Rui de Barros, Fernão de Castel Branco e Manuel de Barros, irmãos e cavaleiros da Ordem de Cristo. Em garantia, os três entregaram aos Guersi as chaves de um armazém no lagar do Sebo, em Lisboa, onde se encontravam 114 barris de anis. Também hipotecaram umas casas na rua da Vinha e outras na rua Fremosa.
Em 1675, os irmãos Ghersi foram os testamenteiros de Nicolau Micon e, um ano depois, de Franco André Carrega. César era, então deputado da Junta do Tabaco e foi quem apresentou o testamento daquele mercador genovês. Em 1680, foi na casa onde residiam César e João Tomás que o inventário dos bens de Carrega foi realizado. Tanto no caso de Micon como no de Carrega, os Ghersi foram encarregues de aplicarem a riqueza dos falecidos em bens cujo rendimento seria vinculado às capelas instituídas.
Durante a estadia de D. Luís de Sousa em Roma, César foi o responsável pelos câmbios da embaixada. Numa missiva de 3 de Abril de 1677, o arcebispo queixava-se dos câmbios serem desfavoráveis à coroa portuguesa enquanto que, por outro lado, Ghersi enriquecia à sua custa. Anos mais tarde, a 25 de Maio de 1684, era-lhe passada uma carta de quitação sobre a quantia de 15 457 503 réis do provimento das moradas do embaixador português na cúria romana durante o ano de 1680.
Nos anos seguintes, César manteve viva a sua actividade financeira. A 14 de Novembro de 1686, adquiria um padrão de juro no valor de 30 mil réis sobre o rendimento do tabaco. Após a sua morte, este padrão passou para o sobrinho Matias Tomás Guersi, filho de João Tomás.
César acabaria por falecer na sua residência, junto ao Muro dos Cubertos, deixando por herdeiro e testamenteiro o esse seu irmão.
Bibliografia
Estudos:Carlos da Silva Lopes, “O pintor João Domingos Ponte”, Revista de Arqueologia, tomo II, 1934, pp. 58-60.
Teresa Leonor Magalhães do Vale, Escultura Italiana em Portugal no Século XVII, Lisboa, Caleidoscópio, 2004, pp. 58-59.


Fontes:ANTT, Chancelaria de D. Afonso VI – Padrões, Doações, Ofícios e Mercês, liv. 26, fls. 316v-317, liv. 52, fl. 331.
Idem, Chancelaria de D. Pedro II – Padrões, Doações, Ofícios e Mercês, liv. 1, fls. 318v-320v.
Idem, Habilitações do Santo Ofício – César, Maço 1, Doc. 1, 20 de Fevereiro de 1674.
Arquivo Paroquial da Igreja de Nossa Senhora do Loreto, Livro dos títulos das capelas instituidas por João Thomaz Ghersi na Igreja Italiana de Nossa S.ra do Loreto 1702.
Idem, “Escriptura em Razo nas Notas de Bernardo Cardozo em 1674 de 1600$ rs a 6 ¼ dados por Cezar e João Thomas Guersi de seu proprio ao D.r Sebastião Rui de Barros e seus Irmaos com hipoteca de 114 Barris de anil e em falta duas moradas de cazas”, Caixa XI
Idem, Livro 1º dos Óbitos 1679-1777, fl. 8.
Idem, “Treslado do Inventario e avaliação dos bens de Franco André Carrega, findo em 1680”, Caixa XII