Projectos

Nome:CARREGA, Franco André
Outros nomes:CARREGA, Francisco André
Nascimento e morte:Génova, c. 1606 – Lisboa, 6/6/1676
Descrição:Filho de Jerónimo Carrega e de Aurélia Ceva, Franco André era irmão de Simão e Inocêncio Carrega, mercadores estabelecidos em Cádis e que foram habilitados a familiares do Santo Ofício, e de Marco António Carrega, língua no tribunal da Inquisição de Sevilha. Tomás e Madalena Carrega, residentes em Génova, eram também seus irmãos.
Franco André, logo na sua juventude, seguiu para Cádis, onde trabalhou com os irmãos mais velhos, ali estabelecidos. No início da década de 30, estabeleceu-se em Lisboa. O irmão Inocêncio havia-o incumbido de representar os negócios da família na capital portuguesa.
Pouco depois de ter chegado a Lisboa, Franco entrou para a irmandade da igreja de Nossa Senhora do Loreto. Em 1636, era já escrivão da confraria.
Ainda no decorrer desse ano, iniciou-se o seu processo de habilitação a familiar do Santo Ofício. Os testemunhos de mercadores genoveses residentes em Lisboa, como António Maria Conti ou Estevão Rogell, demonstraram como Carrega mantinha vivos os laços com a sua terra natal e com os irmãos estabelecidos em Cádis. Aliás, naquela cidade foi feita uma diligência a fim de averiguar se Franco era realmente irmão legítimo de Simão, Inocêncio e Marco André Carrega. Provada a sua limpeza de sangue, a 17 de Junho de 1637, recebia carta de familiar do Santo Ofício.
Nos anos seguintes, Franco manteve-se activo em Lisboa quer no campo dos negócios, quer como confrade do Loreto. A 16 de Abril de 1651, o seu nome era mencionado na sessão da junta da confraria como tendo concedido, junto com Nicolau Micon e João Jerónimo Ghersi, quatro contos de réis destinados à reconstrução da igreja de Nossa Senhora do Loreto após o incêndio que a havia devastado.
Micon e Ghersi eram os principais parceiros comerciais de Carrega. Os três mercadores entraram com 1200 mil réis para a Companhia Geral de Comércio. Segundo um padrão de 1 de Novembro de 1664, do trespasso dessa quantia, recebiam um juro anual de 60 mil réis no estanco do tabaco. Após a morte dos três sócios, foi a irmandade de Nossa Senhora do Loreto quem passou a beneficiar do juro.
A sociedade de Carrega, Micon e Ghersi mantinha negócios com vários mercadores genoveses estabelecidos em Portugal como António Maria Conti e César e João Tomás Ghersi. Negociavam num vasto leque de mercadorias que ia desde açúcar até tabaco, passando por sedas, pimenta e coral. A dispersão dos seus contactos comerciais era muito significativa, passando pelos arquipélagos atlânticos, Brasil, Índia e algumas das principais cidades mercantis europeias como Génova, Livorno, Veneza, Barcelona, Amesterdão, Londres, Hamburgo e Paris.
A proximidade que tinha com Nicolau Micon é particularmente visível no inventário dos seus bens realizado após a sua morte. Os dois moravam numas casas em cima do Muro dos Cubertos, na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, sendo cada um proprietário de metade. Aliás, grande parte dos bens de Carrega era também de Micon. Por exemplo, os dois haviam comprado umas casas na rua do Ferregeal ao Dr. João da Fonseca de Mendonça.
Nunca tendo casado e sem deixar descendência, Carrega nomeou como seus testamenteiros César e João Tomás Ghersi e como herdeira a igreja de Nossa Senhora do Loreto. O testamento foi aberto a 10 de Junho de 1676 e decretava que o seu corpo deveria ser sepultado na sacristia daquela igreja.
Tudo o que havia herdado dos irmãos Tomás e Madalena Carrega, Franco deixou aos sobrinhos Diogo, Madalena e Ana Maria Carrega, filhos de Simão. Outro herdeiro de Carrega foi o seu cunhado João Gonçalves, o qual herdou a sua parte nas casas na rua do Ferregeal, um juro de 50 mil réis e mais 200 mil réis em dinheiro. Uma pequena parte da sua herança foi também entregue a instituições religiosas de capuchinhos e teatinos.
Carrega instituiu capelas para que fossem rezadas missas quotidianas pela sua alma na igreja de Nossa Senhora de Loreto. Os bens imóveis vinculados foram: uma morada de casas em cima dos Muros dos Cubertos, na qual viviam os irmãos César e João Tomás Ghersi e que rendia 100 mil réis anuais; uma morada de casas no Beco dos Açúcares e outras no Moinho de Ventos, ambas arrendadas a Paulo Valério, que rendiam 55 mil réis e 25 mil réis respectivamente.
O testamento decretava que o resto da sua fortuna deveria ser aplicado pelos testamenteiros em bens livres, cuja renda passaria a integrar as capelas instituídas. Os irmãos Ghersi adquiriram, assim, padrões de juro: um de 233 994 réis assentado no estanco do tabaco, comprado a Manuel de Pádua; e um outro de 400 mil réis no almoxarifado das três casas dos azeite, adquirido à Fazenda Real. Ambos os padrões foram comprados em 1677.
Bibliografia
Estudos:Teresa Leonor Magalhães do Vale, Escultura Italiana em Portugal no Século XVII, Lisboa, Caleidoscópio, 2004, p. 58.

Fontes:ANTT, Chancelaria de D. Afonso VI, liv. 9, fl. 66v.
Idem, Habilitações do Santo Ofício – Francisco Andrea Carrega, maço 4, doc. 196.
Arquivo Paroquial de Nossa Senhora do Loreto, Livro das actas das sessões da junta da Irmandade da Igreja de Nossa Senhora do Loreto, 1651-1744.
Idem, “Treslado do Inventario e avaliação dos bens de Franco André Carrega, findo em 1680”, Caixa XII.