Projectos

Nome:GHERSI, João Tomás
Outros nomes:GUERSI, João Tomás
Nascimento e morte:Génova, c. 1640 – Lisboa, 1/1/1700
Descrição:Membro de uma família de mercadores de Génova mas com raízes no reino de Sabóia, João Tomás era filho do capitão Simão Ghersi e de Maria Madalena Ghersi e irmão de César e Francisco Ghersi.
Ainda antes de 1655, João Tomás estabeleceu-se em Lisboa. Bastante activo em operações comerciais e financeiras, era ao lado do irmão Ghersi que desenvolvia grande parte dos seus negócios. Foram os dois quem, em 1674, emprestaram 1 600 mil réis aos irmãos Sebastião Rui de Barros, Fernão de Castel Branco e Manuel de Barros, cavaleiros da Ordem de Cristo. Como garantia do pagamento da dívida, foram-lhes entregues as chaves de um armazém no lagar do Sebo, em Lisboa, onde estavam armazenados 114 barris de anis, e hipotecadas umas casas na rua da Vinha e outras na Rua Fremosa.
Também foi ao lado do irmão César que João Tomás exerceu o cargo de tesoureiro-mor da confraria de Nossa Senhora do Loreto no ano de 1676.
João Tomás e César Ghersi viviam numa morada de casas, em cima do Muro dos Cubertos, na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, as quais eram propriedade de Nicolau Micon e de Franco André Carrega. Os dois irmãos foram os testamenteiros destes dois mercadores, ficando encarregues de aplicarem a riqueza dos falecidos em bens cujo rendimento reverteria para as capelas instituídas em favor da igreja de Nossa Senhora do Loreto.
A ascendência de João Tomás Ghersi na sociedade e economia lisboetas levou a que, a 26 de Novembro de 1685, fosse habilitado a entrar na ordem de Cristo. A 10 de Maio do ano seguinte, recebia a carta de hábito, tal como o alvará para ser armado cavaleiro. Ghersi receberia uma tença de 12 mil réis. A 6 de Julho, D. Pedro II acrescentava-lhe mais uma mercê de 8 mil réis anuais como recompensa pela assistência prestada durante a nunciatura de Marcelo Durazzo.
Em 1687, João Tomás era habilitado a familiar do Santo Ofício, tal como já o era o irmão César. As testemunhas de um e outro processos praticamente coincidem e neles se destacam os nomes de vários mercadores genoveses estabelecidos em Lisboa como Pelegio Trença, João Tomás Castro ou João Félix Bonfilho. Foi referido que João Tomás seria pai de dois filhos naturais: Catarina Teresa, religiosa professa no mosteiro da Anunciada, e Matias Tomás, ambos filhos de Clara Maria, filha de um inglês residente em Lisboa, Ricardo Croque. Porém, no seu testamento, são mais os filhos mencionados: Francisca Romana, freira no mesmo convento; uma noviça do convento de Nossa Senhora dos Cardais das Carmelitas Descalças; Maria, Joana, José e António Ghersi, este último a trabalhar em Génova, na casa do primo Bartolomeu Ghersi.
Ao falecer, João Tomás deixou um extenso rol de propriedades. Nos anos que antecederam a sua morte, havia ainda avolumado o seu património ao comprar, a 23 de Maio de 1698, os bens deixados em herança por Vicente Fernandes e Maria Moreira, entre os quais se encontravam umas casas grandes na rua Direita de Nossa Senhora dos Remédios e umas outras que ficavam por detrás dessas, em frente ao adro da igreja de Santo Estêvão.
João Tomás escreveu o seu testamento em Dezembro de 1699, umas semanas antes de falecer. Decretava que o seu corpo deveria ser sepultado na sacristia da igreja de Nossa Senhora do Loreto e nomeava como testamenteiro o padre Manuel Soares da Silva e o sobrinho Pedro Francisco Ravara. João Tomás estabeleceu um morgado com os seus bens e os do irmão César, do qual nomeou como primeiro administrador o sobrinho Bartolomeu, filho de Francisco Ghersi, residente em Génova. O primeiro vínculo tinha o valor de 150 mil cruzados e era constituído pelas casas que havia adquirido em 1698. Deveriam ser rezadas três missas quotidianas na igreja de Nossa Senhora do Loreto, pela sua alma e pela do irmão.
O seu principal herdeiro foi o filho Matias Tomás, embora João Tomás também tenha contemplado os outros filhos, nomeadamente António Ghersi, que herdaria 20 mil cruzados, e José Ghersi, o qual, caso chegasse a ser clérigo, como era sua vontade, receberia 8 mil cruzados para satisfação das bulas. Visto serem menores, nomeou como seu tutor Pedro Francisco Ravara.
O testamento de João Tomás contemplou ainda, entre outros, Bartolomeu Ghersi, o qual ficou com a sua parte na nau Nossa Senhora do Loreto, capitaneada por João Augustim Germano; o padre Manuel Soares da Silva, com 200 mil réis; e o padre Apolinário José, capelão da igreja do Loreto, com 50 mil réis. Deixou também 50 mil réis aos teatinos da Divina Providência e 30 mil réis aos capuchinhos de Santos-o-Novo.
Bibliografia
Estudos:Teresa Leonor Magalhães do Vale, Escultura Italiana em Portugal no Século XVII, Lisboa, Caleidoscópio, 2004, pp. 58-59.

Fontes:ANTT, Chancelaria de D. Pedro II – Padrões, Doações, Ofícios e Mercês, liv. 17, f. 281; liv. 53, f. 205.
Idem, Chancelaria da Ordem de Cristo, liv. 66, ff. 201v-202, 271-271v.
Idem, Habilitações da Ordem de Cristo, Letra J, maço 93, doc. 96. 26 de Novembro de 1685.
Idem, Habilitações do Santo Ofício – João, maço 19, doc. 488. 2 de Fevereiro de 1687.
Arquivo Paroquial de Nossa Senhora do Loreto, Caixa XI. “Sobre as tres capellas de Cézar e João Thomaz Guersi”; “Escriptura em Razo nas Notas de Bernardo Cardozo em 1674 de 1600$ rs a 6 ¼ dados por Cezar e João Thomas Guersi de seu proprio ao D.r Sebastião Rui de Barros e seus Irmaos com hipoteca de 114 Barris de anil e em falta duas moradas de cazas”
Idem, Caixa XII - “Treslado do Inventario e avaliação dos bens de Franco André Carrega, findo em 1680”
Idem, Livro dos títulos das capelas instituidas por João Thomaz Ghersi na Igreja Italiana de Nossa Sra. do Loreto 1702.