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Biografias

Aaron Lopez

Nome:Aaron Lopez
Outros nomes:Duarte Lopes
Nascimento e morte:Portugal, c. 1731 - Smithfield (RI), 27-28/5/1782
Descrição:Filho do segundo casamento de Diogo José Ramos, Duarte Lopes nasceu em Portugal, em local incerto, por volta de 1731. As informações sobre a sua vida antes de partir para a América do Norte são muito parcas. Sabe-se que em 1752, no momento em que embarcou rumo ao outro lado do Atlântico, era já casado com a sobrinha Ana (Abigail) Lopes, filha da irmã Isabel Maria da Rosa. É na companhia da esposa, da filha Catarina (Sarah) e do irmão Gabriel (David) Lopes que Duarte seguiu até Newport, onde aportou a 13 de Outubro de 1752. Ali foi acolhido pelo irmão Moses, então já um notável negociante de Newport. Ficou então a viver na casa do irmão, na esquina da Duke Street.
Ao chegar a Newport, Duarte foi circuncidado e adoptou o nome judaico Aaron. Porém, o nome Duarte continuou a ser usado nos negócios, em particular naqueles continuou a manter com os mercados ibéricos. E os laços com Portugal não se limitavam ao âmbito comercial. A tradição refere que Aaron Lopez teria sido responsável por levar mais de quarenta famílias cristãs-novas de Portugal para Newport. Embora não existam provas que confirmem este número, entre a abundante correspondência que Aaron trocava com os seus agentes e parceiros comerciais, encontram-se alguns indícios desse facto. Por exemplo, numa carta de 18 de Novembro de 1766 endereçada a Jeremiah Osborne, então a capitanear o navio Pitt que seguiria rumo a Portugal, Aaron recomendava-lhe que tratasse com cordialidade alguns dos seus amigos em Lisboa que pretendiam seguir viagem para a América a bordo da dita embarcação. Foi o mesmo Osborne o capitão do navio América onde embarcou o seu irmão Miguel rumo a Newport logo no ano seguinte.
Aaron começou a sua carreira comercial em Newport operando em sociedade com o irmão Moses e com o primo Jacob Rodriguez Rivera. A produção e comércio de velas de espermacete e operações de corretagem com mercadorias como cacau, cal e melaços constituíram os seus primeiros ramos de negócio. Ainda durante a década de 50, Aaron começou a actuar no comércio ultramarino, combinando o pequeno contrabando de chá com importações legais de mercadorias inglesas. O negócio das velas de espermacete tinham-no conduzido ao investimento em viagens de baleeiros para o Norte. Em Boston, contava Henry Lloyd como agente e intermediário nas negociações com os baleeiros de Nantucket. Aliás, em meados da década de 50, Boston e Newport eram os principais centros de operações da sua actividade mercantil, como atesta a correspondência trocada quase diariamente com Henry Lloyd.
Apesar da imposição da obrigatoriedade de todas as embarcações envolvidas no comércio com as colónias inglesas serem propriedade de súbditos da coroa britânica, Aaron Lopez começou a operar no comércio atlântico ainda antes de obter a necessária naturalização. O pedido que apresentara para obter a cidadania enquanto súbdito britânico foi recusado pelo Tribunal Superior de Rhode Island em 1762, sob os argumentos de que a colónia se encontrava já excessivamente povoada e que a naturalização apenas poderia seria atribuída a quem professasse o Cristianismo. Os esforços de Aaron Lopez voltaram-se então para Massachusetts e, a 15 de Outubro de 1762, em Tauton, conseguiu obter finalmente a naturalização britânica.
Se, até meados da década de 60, o seu eixo de actuação centrava-se fundamentalmente nos mercados da costa leste americana, nomeadamente em Boston, Nova Iorque, Filadélfia e Charleston, a partir de então, os negócios de Aaron passaram a cruzar o Atlântico. O mercador encontrou em Bristol o porto comercial ideal para centrar as suas operações na Europa, tendo ali, como seu correspondente, Henry Cruger Jr., filho de Henry Cruger de Nova Iorque. Era a ele que Aaron consignava embarcações carregadas de madeira e petróleo para serem vendidas em Bristol em troca de manufacturas e ferramentas. Aaron sabia que conseguiria adquirir mercadorias a preços mais baixos em Bristol do que em Londres e, desta forma, exercer uma concorrência mais forte face aos mercadores de New England. Porém, os resultados obtidos nestas operações em Inglaterra acabaram por não ser os esperados e, então, Aaron resolveu dar um novo rumo aos seus negócios.
Ele era, então, já um homem casado. Em 1763, tomara como esposa Sarah Rivera, filha do primo e sócio Jacob Rodriguez Rivera. Não era só ao nível pessoal que os laços com o primo se consolidavam. Desde 1764, eles operavam em sociedade no tráfico negreiro. Até 1768, esta sociedade conseguiu empreender um total de seis viagens para a costa africana, trocando rum e outras mercadorias por escravos. Aaron colhia então os frutos de um bem sucedido comércio triangular: adquiria melaços nas Índias Ocidentais Britânicas, os quais eram remetidos para Newport e transformados em rum que, por sua vez, era embarcado para os mercados africanos em troca de escravos.
As Caraíbas tornavam-se, assim, num ponto central da sua estratégia comercial e era fundamental encontrar alguém de confiança que representasse os seus negócios naquela área, um agente residente que negociasse directamente com os produtores e mercadores locais e assegurasse o retorno rápido e seguro das cargas de açúcar e melaço destinadas aos portos norte-americanos. Tendo o irmão Abraham Lopez, então a viver em Savanna-la-Mar, Jamaica, recusado assumir essas funções, Aaron confiou tal responsabilidade ao genro Abraham Pereira Mendes.
Em 1767, Aaron enviou um total de nove embarcações para as Índias Ocidentais. Porém, os resultados não foram os esperados. O genro não estava a responder eficientemente à confiança depositada e os mestres das embarcações lamentavam a dificuldade em entrar noutros mercados caribenhos além da Jamaica. A situação viria a mudar a partir do momento em Abraham Pereira Mendes foi substituído pelo Capitão Benjamin Wright enquanto agente de Aaron na Jamaica. Só em 1768, foram enviadas cinco embarcações para as Índias Ocidentais, quatro para a Europa, uma para África e trinta e sete pela costa leste norte-americana. A partir de 1770, as dificuldades encontradas ao início começaram a desvanecer-se e os negócios de Aaron Lopez tornaram-se cada vez mais prósperos. As suas mercadorias circulavam então pela Jamaica, Hispaniola, Suriname, Honduras, Newfoundland, Inglaterra, Holanda, Espanha, Portugal e costa ocidental africana, atravessando os impérios inglês, holandês, português e espanhol. Nos diversos destinos, contava com vários agentes, entre os quais o capitão Wright na Jamaica, Pierro Rolland e John Dupee na Hispaniola, o capitão Nathaniel Hathaway nas viagens para o Suriname, George Sears em Newfoundland e as firmas John Turner & son e Hayley & Hopkins na Europa. As transacções de mercadorias como melaço, rum, espermacete ou madeiras suplantavam o negócio negreiro. De facto, Aaron não operava no comércio de escravos ao nível do sogro Jacob Rodriguez Rivera e, normalmente, não enviava mais do que uma embarcação por ano para a costa africana. Até à Revolução, os seus negócios desenvolveram-se numa espiral ascendente. Estima-se que, em 1775, Aaron era proprietário, parcial ou totalmente, de mais de trinta embarcações.
O sucesso nos negócios reflectiu-se no prestígio angariado junto da comunidade judaica de Newport. Aliás, Aaron e os irmãos tiveram um papel determinante no estabelecimento da congregação Jeshuat Israel e, mais tarde, no financiamento da construção da nova sinagoga. Porém, a Revolução trouxe uma mudança drástica na sua vida. E os primeiros sinais fizeram-se sentir nos negócios. Com o dinheiro a escassear em Newport, Jamaica e Londres, surgiram as dificuldades em obter pagamentos e créditos. Por outro lado, o clima de insegurança, o aumento do risco das viagens no Atlântico e o confisco de embarcações conduziram ao estagnamento de boa parte dos negócios.
A ocupação de Newport pelas tropas britânicas também obrigou à mudança de morada. Apesar dos reveses provocados nos seus negócios pelo movimento revolucionário e da perda de importantes contactos em Inglaterra e mesmo na América, Aaron abraçou a causa patriota. Ao lado dos parentes Rivera e da família Mendes Seixas, perante uma Newport ocupada, Aaron abandonou a cidade e estabeleceu-se em Leicester, Massachusetts. Nesta cidade, construiu uma grande mansão, onde passou a residir, a qual, anos mais tarde, já após a sua morte, daria lugar à Leicester Academy. Nela, recebia vários convidados e cedo a sua hospitalidade ganhou fama, tal como a magnificência das festas que promovia.
A actividade comercial de Aaron Lopez não cessara completamente. Mesmo durante os anos mais conturbados da Revolução, os negócios em Boston mantiveram-se activos. Quando o conflito começa a pender para o lado dos patriotas e perante o abandono de Newport pelas tropas britânicas, Aaron viu crescer as expectativas de um novo recomeço. Contudo, foi numa viagem a Rhode Island, quando tentava restabelecer os seus negócios, que ele encontrou a morte em Scott's Pond, Smithfield. Conta-se que havia parado ali para dar de beber ao cavalo, quando, acidentalmente, o animal entrou pelo rio adentro. Aaron acabaria por morrer afogado.



Bibliografia
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Idem, “Jewish activity in American Colonial Commerce”, Publications of the American Jewish Historical Society, 10, 1902, pp. 47-64.
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Idem, “«And Don’t Forget the Guinea Voyage»: The Slave Trade of Aaron Lopez of Newport”, The William and Mary Quaterly, 32 (4), 1975, pp. 601-618.


Fontes:Commerce of Rhode Island, 1726-1800, 2 vols, Boston, Massachusetts Historical Society, 1915.
Harold Korn, “Documents Relative to the Estate of Aaron Lopez”, Publications of the American Jewish Historical Society, 35, 1939, pp. 139-143.
Manuel Josephson, “Items relating to the Jews of Newport”, Publications of the American Historical Society, 27 (2), 1920, pp. 175-216.
Morris Aaron Gutstein, “Descriptive Index of Aaron Lopez Material at the Newport Historical Society”, Publications of the American Jewish Historical Society, 37, 1947, pp. 153-162.

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