Projectos

Nome:AMBRÓSIO, Marco António
Outros nomes:AMOROSO, Marco António
Nascimento e morte:n. Lagera [Nápoles], c. 1595
Descrição:Filho de Angelo Ambrozio, Marco António serviu, desde muito jovem, como ajudante de infantaria. Por volta de 1631, seguiu para o Brasil, acompanhando o conde de Banholo como artilheiro do exército. Anteriormente, havia já servido nas Índias Castelhanas. No Brasil, passou pela Bahia e por Pernambuco.
A 18 de Março de 1635, Ambrósio era preso pelo ouvidor e auditor da gente de guerra na capitania de Pernambuco, o Licenciado João Soares de Almeida, acusado de profanar cruzes. Encontrava-se, então, com o cargo de condestável, no arraial do cabo de Santo Agostinho. O dito ouvidor referiu que o napolitano era um “homem extravagante”, que se apartava dos seus companheiros e vivia na igreja de Nossa Senhora de Nazaré, dormindo numa esteira debaixo do púlpito. Além disso, não tinha práticas de bom cristão.
João Soares de Almeida acabaria por enviá-lo para os cárceres da Inquisição de Lisboa, onde lhe foi levantado um processo por heresia e luteranismo. Os seus companheiros de cárcere testemunharam a manutenção de tais comportamentos durante o período da sua prisão. Estes referiram que Ambrósio blasfemava continuamente, renegando a Cristo e defendendo a “religião dos holandeses”. Estêvão Pegado mencionou que ele dizia que o “Padre Eterno” criara o reino de Nápoles mil anos antes da vinda de Cristo, sendo os napolitanos os únicos verdadeiros na sua fé e que apenas tinha por santa Nossa Senhora do Carmo, a qual vivera “seicentos annos antes da vinda de Cristo”. Segundo João de Sequeira, Ambrósio ameaçava passar-se para “terra de Mouros” e ali matar “quatrocentos portuguezes”. Outro companheiro de cárcere, Luís Coelho, acrescentou que o napolitano afirmara ter tentado fazer um pacto com o demónio.
Ambrósio, na sua confissão, começou por negar parte das acusações que lhe eram feitas. Contradisse, nomeadamente, os testemunhos que o colocavam a residir em Lisboa, na rua das Flores, junto à Cruz de Cataquefarás, por volta de 1633. Nessa data, segundo o seu testemunho, encontrava-se já no Brasil. Porém, acabaria por confessar muitas das culpas de que era acusado, embora atribuindo-as às falências do seu estado mental. Confessou que esteve preso durante dezoito meses em Pernambuco, no poder dos holandeses, os quais o haviam torturado e obrigado a professar a sua fé. Além disso, acrescentou que frequentemente se sentira desesperado e fora do seu juízo por “desconcertos dos soldados e artilheiros”.
No decorrer do seu processo, acabaria por ser feita uma diligência para se averiguar o seu estado mental. Esta gerou controvérsia, tendo um dos médicos afirmado que Ambrósio era incapaz de ter “juizo bastante para formar conceito do que disser ainda que seja sobre materia muito grave e tocante a nossa santa feé”, enquanto que os outros provaram que ele não tinha “nenhua lezão no juizo” e que, assim, deveria ser responsabilizado por tudo o que dizia e fazia.
Esta última opinião foi tida em conta pelos inquisidores que, no auto de 13 de Outubro de 1637, decretaram-lhe cárcere e hábito perpétuo, açoitamento público e degredo nas galés por um período de cinco anos.
Palavras-chave:Ajudante de infantaria; Artilheiro do exército; Condestável; Brasil; Bahia; Pernambuco; Cabo de Santo Agostinho; Lisboa; Nápoles; Angelo Ambrozio; Conde de Banholo; Capitania de Pernambuco; João Soares de Almeida; Nossa Senhora de Nazaré; Inquisição; Heresia; Luteranismo; João de Sequeira; Luís Coelho; Rua das Flores; Cruz de Cataquefarás
Bibliografia
Fontes:ANTT, Inquisição de Lisboa, Processo n.º 8074.