Projectos

Nome:ANDREONI, João António
Outros nomes:ANDREONI, Giovanni Antonio / ANTONIL, André João
Nascimento e morte:Luca, 8/2/1649 – Bahia, 13/3/1716
Descrição:Filho de João Maria Andreoni e de Clara Maria, João António estudou Direito durante três anos na Universidade de Peruggia. A 20 de Maio de 1667, entrou para a Companhia de Jesus em Roma. Durante um ano e meio, dedicou-se aos estudos literários na casa de S. Andrea al Quirinale. Acabou por ingressar no Colégio Romano, onde estudou durante os anos de 1671 e 1672. Completados os estudos, leccionou gramática, humanidades e retórica no colégio de Borgo S. Sepolcro. Durante mais quatro anos, Andreoni frequentou o curso de teologia em Roma.
Em 1681, era ordenado sacerdote. Andreoni foi um dos três jesuítas que, em Janeiro daquele ano, acompanharam o Padre António Vieira para a Bahia. Aliás, os dois haviam-se conhecido ainda em Roma. Em 1685, esteve prestes a embarcar para a missão de Cabo Verde, a pedido do bispo D. Bernardo Juzarte. Porém, tal não aconteceu e Andreoni continuou a missionar no Brasil.
Durante dez anos, ensinou retórica no Colégio da Bahia. Posteriormente, exerceu uma série de cargos, nomeadamente de director da congregação dos estudantes, de mestre dos noviços e de secretário do provincial. Andreoni foi também director do colégio máximo da Bahia durante dois períodos: 1698-1702 e 1709-1713. Entre estes períodos, desde 1706 até 1709, foi provincial dos jesuítas no Brasil. Enquanto tal, chegou a visitar as missões dos tapuias do Rio Grande do Norte e do Ceará.
A sua relação com o Padre António Vieira pautou-se pela irregularidade. Se, nos primeiros tempos, Andreoni foi o seu homem de confiança, chegando mesmo a ser o seu secretário e enviado como visitador a Pernambuco, poucos anos depois, Vieira apresentaria uma queixa sobre ele em Roma, acusando-o de sustentar a resistência e a rebelião entre os jesuítas brasileiros. Assim, acabaram por se formar duas facções na missão jesuítica no Brasil, ou seja, a que apoiava Vieira e a que confiava em Andreoni. Afinal, a intenção de Vieira era limitar a acção dos jesuítas italianos no Brasil, apoiando-se em três decretos reais, emanados consecutivamente em 1693, que interditavam aos religiosos estrangeiros o exercício das funções de mestres de noviços, secretários e adjuvantes do provincial. Porém, Andreoni gozava de um estatuto especial, tendo conseguido mesmo a autorização do provincial Diogo Machado e do padre Alexandre de Gusmão para suspender, em seu favor, o último decreto. Até em 1698, quando o geral da Companhia de Jesus mandou dispersar os jesuítas italianos concentrados no colégio da Bahia, Andreoni conseguiu conservar o seu cargo de reitor. Aliás, tal tratamento privilegiado era resultado directo das estreitas relações mantidas com algumas figuras cimeiras da hierarquia religiosa portuguesa. Afinal, o jesuíta toscano era protegido do confessor do rei, Sebastião Magalhães, o qual intercedeu para que fosse considerado, pela corte, um súbdito português. Além do mais, era o homem de confiança do arcebispo D. Sebastião Monteiro de Vide, o qual chegou a lhe confiar os cargos de censor e revisor das constituições sinodais e que o consultava com frequência, mesmo quando entrava em desacordo com os ministros do rei.
Andreoni teria sido o autor da obra Cultura e Opulencia do Brasil por suas drogas e minas; com varias noticias curiosas do modo de fazer o assucar, plantar e beneficiar o tabaco, tirar ouro das minas e descobrir as da prata; e dos grandes emolumentos que esta conquista da America Meridional dá ao Reino de Portugal com estes e outros generos e contactos reaes, assinando com o nome de André João Antonil.
Apenas em 1886, Antonil foi identificado com Andreoni pelo historiador Capristano de Abreu. A suspeita de Antonil ser apenas um pseudónimo surgiu pelo facto do prólogo da obra ser assinado com o nome de “Anonymo Toscano”. Segundo Mansuy Diniz Silva, André João Antonil era um anagrama de José Antonio Andreoni, excluindo a letra “l”, possivelmente indicadora da origem geográfica do autor, Luca.
A obra foi impressa em Lisboa, em Março de 1711, pela tipografia real, e dedicada “aos senhores de engenhos e lavradores do açúcar e do tabaco, e aos que se ocupam em tirar ouro das minas do Brasil”. Com esta dedicatória, Andreoni pretendia convidar tais homenageados a contribuírem para as despesas do processo de canonização do padre José de Anchieta.
Este é o primeiro texto dedicado ao inventário das actividades agrícolas e extractivas do Brasil no início do século XVIII. Para tal, Andreoni foi fortemente influenciado pelos autores clássicos como Varrão ou Xenofonte. A obra inicia-se com um autêntico tratado de economia agrícola, dedicado sobretudo à questão da cultura sacarina. O autor manifesta-se também fiel às preocupações da Companhia de Jesus no Brasil, nomeadamente, à questão do tratamento dos escravos.
Ao nível estrutural, a obra revela algum desequilíbrio. Cerca de metade da obra é dedicada à produção sacarina, reservando-se apenas a outra metade às restantes actividades económicas da colónia. Segundo Mansuy, esse desequilíbrio encontra justificação no facto de Andreoni ter-se estabelecido na Bahia, região especializada na produção de açúcar. Além disso, o mesmo autor suspeita que, num momento inicial, a intenção do jesuíta teria sido a de dedicar a obra apenas a essa questão, tendo as restantes partes sido acrescentadas apenas num momento posterior. Afinal, o jesuíta teria iniciado a redacção da obra antes do impacto da descoberta das minas de ouro, factor que tê-lo-ia levado a modificar os seus objectivos iniciais.
Poucos dias após a impressão da primeira edição, a obra foi mandada destruir por ordem real, alegando-se razões de Estado. A 20 de Março de 1711, ou seja, só catorze dias após a última licença do paço para a publicação, D. João V mandou transmitir ao duque de Cadaval, presidente do Conselho Ultramarino, a ordem para a apreensão da obra. Uma cópia de uma consulta do Conselho Ultramarino, de 17 de Março de 1711, revelava as razões que estariam por detrás dessa apreensão: o Conselho avisava o rei dos perigos existentes na revelação dos itinerários dos caminhos para as minas, nomeadamente na eventualidade dessas informações chegarem às mãos de outras potências estrangeiras.
Palavras-chave:Doutor em Direito; Professor; Sacerdote; Jesuíta; Director; Reitor; Censor; Revisor; Peruggia; Roma; Borgo; Bahia; Cabo Verde; Rio Grande do Norte; Ceará; Lisboa; João Maria Andreoni; Clara Maria; Companhia de Jesus; S. Andrea al Quirinale; Colégio Romano; Borgo S. Sepolcro; Padre António Vieira; D. Bernardo Juzarte; D. Sebastião Monteiro de Vide; Cultura e Opulencia do Brasil; André João Antonil; Anonymo Toscano; Mansuy Diniz Silva; Varrão; Xenofonte; Açúcar; Ouro; D. João V; Conselho Ultramarino;
Bibliografia
Estudos:Affonso de E. Taunay (estudo bio-bibliográfico), Cultura e opulência do Brazil por suas drogas e minas, S. Paulo, Melhoramentos, 1923.
Alberto Merola, “Andreoni, Giovanni Antonio”, Dizionario degli Italiani, Roma, Societá Grafica Romana, 1961, pp. 148-150.
André Mansuy Dinis Silva (estudo crítico), Cultura e opulência do Brasil com suas drogas e minas, Lisboa, CNCDP, 2001.
Dauril Alden, The Making of na Enterprise. The Society of Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond, 1540-1750, Stanford, Stanford University Press, 1996, pp. 269, 292, 409, 471, 512.
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Isabel Castro Henriques e Alfredo Margarido (introdução ) Cultura e opulência do Brasil, Lisboa, Alfa, 1989.
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