Projectos

Nome:BONELLI, Miguel
Outros nomes:BONELLI, Michele / Cardeal Alexandrino
Nascimento e morte:Bosco, 25/11/1541 – Roma, 1/4/1598
Descrição:Filho de Marco Bonelli e de Domenica Giberti, foi baptizado com o nome Antonio, provavelmente em homenagem ao seu tio materno, Antonio Ghislieri, futuro papa Pio V. Através da intercessão deste, Bonelli ingressou na vida religiosa. Entrou para o colégio germânico e, por volta de 1560, para a ordem dominicana, mudando o seu nome para Michele e passando a residir em Perugia.
A 6 de Março de 1566, tornou-se cardeal titular da igreja de S. Maria sopra Minerva. A partir deste momento, Bonelli passou a ser mais conhecido como Cardeal Alexandrino.
Recebeu um priorado na Ordem dos Cavaleiros de Malta e, no fim de Novembro de 1568, foi-lhe concedido o ofício de camerlengo. Menos de dois anos depois, teve que renunciar a este ofício. Em compensação, foi privilegiado com a comenda da abadia de S. Michele di Chiusi.
Bonelli passou, então, a dedicar-se à organização da liga cristã contra as forças turcas e ao combate à crescente influência dos huguenotes em França.
Em 1570, o papa Pio V enviou-o à corte espanhola numa missão que incluía outros altos dignatários da Igreja, entre os quais, Hipólito Aldobrandino (futuro papa Clemente VIII) e S. Francisco de Borja. O objectivo era conseguir que Filipe II persuadisse o rei de França a integrar as forças cristãs no conflito e não as otomanas, como se começava a temer. As outras missões do legado prendiam-se com a discussão de problemas jurisdicionais relativos ao domínio espanhol em Itália e com a questão da atribuição do título de grão-duque a Cosme I. Agradado pela actuação do cardeal Alexandrino, Filipe II atribuiu-lhe o título de marquês de Bosco.
A 19 de Novembro de 1571, Alexandrino partia para Portugal, tendo chegado no dia 25 ou 28 daquele mês. Desta viagem, resultou uma relação, redigida por João Baptista Venturino. O legado papal levava consigo o objectivo de negociar com D. Sebastião a entrada de Portugal na liga contra os turcos e, por outro lado, o seu casamento com Margarida de Valois, irmã de Carlos IX da França. Os dois assuntos encontravam-se interligados – a entrada de Portugal e da França para a liga seria facilitada mediante esse matrimónio. Aliás, o casamento entre o rei português e a princesa francesa já há algum tempo que fazia parte dos planos papais, depositando-se neste enlace a esperança do reforço do partido católico em França.
A comitiva entrou em Portugal por Elvas. Foi recebida por D. Manuel, senhor de Monsaraz, por D. Constantino de Bragança, tio do duque de Bragança, pelo conde de Tentúgal e outras altas entidades locais. Acompanhados por D. João, duque de Bragança, dirigiram-se para Vila Viçosa, onde assistiram à missa na capela ducal. Mais tarde, Bonelli encontrou-se com a infanta D. Isabel (viúva do infante D. Duarte) e com a sua filha, D. Catarina, duquesa de Bragança. Seguiram para Estremoz e o legado pernoitou na casa do donatário, D. Constantino de Bragança. A caminho de Évora, almoçaram com o bispo da cidade e, já nas proximidades, foram acolhidos pelo governador, pelo alcaide e pelo juiz. Recebido festivamente na cidade, Bonelli foi hospedado no palácio do arcebispo de Évora, enquanto que o restante séquito ficou em casas de fidalgos.
Do Barreiro, embarcaram para Lisboa. Na capital do reino, a comitiva foi recebida com pompa por uma multidão que Venturino descreveu como sendo de cerca de cinquenta mil pessoas. Acompanhados pelo rei e pelos nobres da corte, seguiram em cortejo por Lisboa até ao paço real.
Perante D. Sebastião, Alexandrino apresentou os dois assuntos que trazia de Roma. O monarca deu um parecer positivo às propostas. Porém, quanto ao casamento com Margarida de Valois, colocou a condição de Carlos IX também entrar na liga e da negociação do casamento correr pela mão do papa e não de Filipe II.
A comitiva regressou a Madrid a 28 de Dezembro e, depois, seguiu até França. A 7 de Fevereiro, encontrava-se já em Blois, com o objectivo de ultimar as negociações para o casamento de D. Sebastião. Porém, Carlos IX decidira casar a irmã com o rei de Navarra, futuro Henrique IV.
Alexandrino regressou a Turim a 12 de Março de 1572. Os sucessos da sua missão na Península Ibérica foram escassos. Não conseguiu concretizar o tão aguardado matrimónio do monarca português com a princesa francesa e, apesar das intenções de D. Sebastião, a participação militar de Portugal na liga contra os turcos não foi a esperada. Embora tenha sido organizada uma armada, esta nunca chegou a sair do estuário do Tejo, devastada por uma violenta tempestade que se abateu sobre Lisboa a 13 de Setembro daquele ano.
Após a morte de Pio V e na sequência da eleição papal de Gregório XIII, Alexandrino perdeu alguma da influência que tinha na cúria papal. Contudo, manteve alguns cargos relevantes como o de membro da congregação do Concílio e da congregação para a revisão e nova edição do Índex.
Depois de ter apoiado, com sucesso, a eleição do cardeal Peretti para a cadeira pontifícia, Alexandrino passou a centrar a sua acção entre os dominicanos, sendo nomeado prefeito da congregação dos Regulares.
Bibliografia
Estudos:Adriano Prosperi, “Bonelli, Michele”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 11, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1969, pp. 766-774.
Mário Brandão, Uma carta àcêrca da viagem do Cardeal Alexandrino a Portugal. Separata de Biblos, Coimbra, 1926.
Queirós Veloso, D. Sebastião 1554-1578, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1935, pp. 140-144.

Fontes:"Viagem do Cardeal Alexandrino (1571)", Opúsculos, v. IV, Lisboa, Presença, imp. 1985, pp. 347-358.