Projectos

Nome:BRANCATI, Francesco
Outros nomes:BRANCATO, Francesco / P’an Kouo-Kouang Yong-Kouan
Nascimento e morte:Palermo, 1607 – Cantão, 25/4/1671
Descrição:A 14 de Agosto de 1623, Francesco Brancati entrava para a Companhia de Jesus, em Nápoles. Estudou filosofia durante dois anos e, depois de ser transferido para Palermo, em 1627, frequentou aquele curso por mais um par de anos. Entretanto, durante quatro anos, ensinou gramática no colégio jesuíta daquela cidade. Em 1633, era ordenado sacerdote.
Brancati tinha apenas um ano de noviço na Companhia de Jesus quando pediu ao geral para ser enviado em missão e, preferencialmente, para a China. Porém, apenas foi destacado alguns anos depois. A 13 de Abril de 1635, embarcava de Lisboa, junto com Luís Buglio e Girolamo Gravina.
Chegou a Macau no início de Agosto de 1636 e, logo no ano seguinte, entrou na China, para a região de Kiang-nan (actual King-su), a sul do rio Yang-tse. Durante vinte e cinco anos, esteve naquela região, desenvolvendo o seu trabalho missionário em três centros: Suzhou, Songjiang e Xangai. Em 1639, era nomeado superior da missão em Xangai. Enquanto tal, iniciou uma nova comunidade cristã na ilha de Chogming, junto à foz do rio Yang-tze. Construiu uma igreja em Xangai em 1641 e, oito anos depois, adquiriu o terreno para o cemitério de Sheng-mu-t’ang (“cemiterio da igreja da Virgem”).
Brancati teve um evidente sucesso na missão de Xangai. A 10 de Agosto de 1661, escrevia para Roma que, em média, efectuava dois a três mil baptizados por ano, apontando para mais de 45 mil o número de fiéis naquela região. A sua acção missionária tinha como um dos principais financiadores Cândida Hsü, sobrinha do letrado Hsü Kwang-R’i, convertido por Mateus Ricci.
Pretendendo mostrar a amplitude e os desenvolvimentos da missão jesuíta naquela região, por volta de 1661, Brancati teria adquirido um mapa topográfico chinês de Xangai, o qual adaptou com informações relativas à disseminação do cristianismo naquela parte da China. Segundo Golvers, o jesuíta fez as inscrições em latim no mapa com o intuito de deixar uma herança às gerações vindouras e, sobretudo, mostrar uma prova de como a sua missão em Xangai estava a ser bem sucedida. Assim, anotou a localização de todas as comunidades cristãs e igrejas, além de notícias relevantes para a missão. Num momento posterior, Brancati acrescentou o título do mapa: Mappa Christianitatis Duarum Urbium in Provincia Nankinensi ubi supra 100 Ecclesiae numerantur et supra 60 Millia Christianorum. Este mapa integra, actualmente, a colecção de Björn Löwendahl, em Estocolmo.
Na sequência da campanha contra os jesuítas da Comissão de Astronomia de Pequim, Brancati, tal como os outros missionários, foi chamado à capital, tendo lá chegado em 18 de Julho de 1665. Menos de dois meses depois, era desterrado para Cantão, onde passou os últimos anos da sua vida.
Durante este tempo em Cantão, Brancati e outros missionários organizaram reuniões para delinearem os critérios para as futuras missões. O resultado é o documento Praxis servanda in missione sinensi, sobre a tolerância e compreensão perante os costumes e rituais chineses. Esta posição acabou por criar atritos com a linha mais conservadora das missões no Oriente.
Tendo falecido em Cantão, os seus restos mortais foram transportados para Xangai e enterrados no cemitério de Sheng-mu-t’ang, a 26 de Janeiro de 1674.
A maior parte das obras de Brancati, publicadas durante a sua vida, foram redigidas em chinês. Destacam-se os seguintes títulos: Che-kiai k’iuen-luen cheng-tsi (“Explicação dos dez preceitos do Decálogo, com exemplos para exortar os fieis a os observar”), Honan, 1650; T’ien kiai (“A escala celeste ou Ascensão da alma a Deus por meio das criaturas”), Xangai, 1650; Cheng-t’i koei-i (“Tratado sobre o dogma da Santa Eucaristia e sobre a maneira de a receber, ilustrado com vários exemplos”), Xangai, 1658; T’ien-chen hoei k’o (“Lições para a congregação dos Anjos”), Xangai, 1661; Cheng-kiao se-koei (“Explicação dos mandamentos da Igreja”), Yung-chien, c. 1662; Tchan-li k’euo-touo (“Comentários e exposição dos Evangelhos para os domingos de festa”), 1662; Wei-la pien-luen (“Crítica da divinização”), c. 1664.
Também é conhecido um documento de Brancati impresso em Paris, em 1700, De Sinensium ritibus politicis acta, seu R. P. Francisci Brancati, S. J., apud Sinas per annos 34 Missionarii responsio apologetica ad R. P. Dominicum Navarrette, ord. Prædic. Além destas obras impressas, Brancati deixou também uma extensa obra manuscrita. É o caso de uma Breve Relatione della persecuzione mossa da Tartari contra la Lege Christiana e suoi Predicatori nell’anno del Signore 1664, ou da obra Chang Ngan-té-lé tsong-t’ou tchanli (“Instruções para a festa do apóstolo S. André”).
Bibliografia
Estudos:Giuliano Bertuccioli, “Brancati (Brancato), Francesco”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 13, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1971, pp. 822-824.
Joseph Dehergne, Répertoire des jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma, Institutum Historicum, 1973, p. 35.
Joseph Sebes, “Brancati (Brancato), Francesco”, Diccionario Historico de la Compañia de Jesus, vol. I, Madird, Universidad Pontificia Comillas, 2001, pp. 521-522.
Louis Pfister, Notices biographiques et bibliographiques sur les jésuites de l’ancienne mission de Chine 1552-1773, 2ª edição, tomo I, Nendeln/Liechtenstein, Kraus-Thomson Organization, 1971, pp. 223-230.
Noël Golvers, “Jesuit cartographers in China: Francesco Brancati, S. J., and the Map (1661?) of Sungchiang Prefecture (Shanghai)”, Imago mundi, n.º 52, 2000, pp. 30-42.