Projectos

Nome:BUGLIO, Ludovico
Outros nomes:BUGLIO, Luigi / Li Lei-sseu Tsai-k’o
Nascimento e morte:Mineo [Sicília], 26/1/1606 – Pequim, 7/10/1682
Descrição:Filho de Mario Buglio, barão de Burgio, Bifara e Favarotta, e de Antonia Gravina Isfar Corilles, Ludovico, aos quatro anos, foi viver para Palermo. A 18 de Maio de 1612, entrava na ordem dos Cavaleiros de Malta.
Tornou-se noviço da Companhia de Jesus a 20 de Novembro de 1622. Tendo estudado primeiramente em Palermo, em 1626, passou-se a Roma, onde completou os seus estudos no Colégio Romano e foi ordenado sacerdote.
Após ter leccionado em Ancona, Fermo e Roma, Buglio ofereceu-se para ir em missão para a Índia. A 13 de Abril de 1635, embarcou de Lisboa para o Oriente, em conjunto com outros religiosos, nomeadamente Francesco Bracanti e Girolamo Gravina.
Em 1636, chegou a Macau, onde se dedicou ao estudo da língua chinesa. No ano seguinte, era enviado na missão de Kiang-nan.
Conheceu Gabriel de Magalhães, o qual se tornaria no seu companheiro de missão até ao final dos seus dias. Os dois tiveram uma extensa obra de evangelização, tendo edificado as igrejas de Pao-ning e Tch’ong-k’ing. Este período da missão dos dois padres encontra-se testemunhado na obra de Magalhães, Relação das viagens que fes o pe. Luis Buglio no ano de 1639, e o Pe. de Magalhães no de 1642...
Tchang Hsien-tchong, que tomou o poder na província de Se-tch’oan em 1644, chamou Buglio e Magalhães para seus conselheiros. Os dois jesuítas trabalharam no campo da matemática e astronomia e chegaram a construir duas esferas em bronze, uma terrestre e outra celeste. Os dois esperavam que esta colaboração sensibilizasse Tchang a aceitar novas missões. Contudo, as suas expectativas acabariam por sair frustradas. Quando os manchus conquistaram Se-tch’oan, em 1648, os dois jesuítas foram aprisionados em Pequim, acusados de colaborar com um rebelde, Tchang Hsien-tchong. Buglio e Magalhães acabariam por sair em liberdade, mesmo sem a esperada intercessão do jesuíta Adam Schall von Bell, influente na corte manchu. Sobre estes acontecimentos, Gabriel de Magalhães escreveu a Relaçao da perda e destruiçao da Provincia e Christandade de Su chuen e do que os pes Luis Buglio e Gabriel de Magalhães passarão em seu cativeiro...
Buglio e Magalhães, regressados a Pequim, construíram uma nova igreja na cidade. Porém, no início da década de 60, os dois jesuítas acabariam por ser atingidos pela campanha anti-cristã lançada durante a menoridade do novo imperador, K’ang-hi, por Yang Koang-sien. Os missionários jesuítas foram acusados de difundirem uma doutrina falsa e de fomentarem a rebelião contra o imperador com o fim de prepararem a conquista armada do país a partir de Macau. Entre 1665 e 1671, foram detidos em Cantão todos os missionários estrangeiros, exceptuando os quatro que se encontravam em Pequim, ou seja, Buglio, Magalhães, Schall e Fernando Verbiest. O processo apenas acabou com a morte de Schall. Porém, Buglio exprimiu a sua resposta às acusações de Yang Koang-sien na obra apologética Pou té i pien (“Apologia da religião cristã”), em 1665, e no prefácio a uma obra de Ho Shih-chen, em 1672.
Após estes acontecimentos, Buglio passou a dedicar-se à tradução para chinês de obras ocidentais. Assim, traduziu três obras litúrgicas (o Missale Romanum em 1670, o Breviarum Romanum, em 1674, e o Rituale, em 1675) e uma parte da Summa Theologica de S. Tomás de Aquino, a Tch’ao-sing hio-yao, publicada em 30 tomos, em Pequim, entre os anos de 1654 e 1677.
Porém, ao longo da sua missão no Extremo Oriente, Buglio não se limitou à tradução de obras, tendo também escrito inéditos em chinês. Em 1668, em colaboração com Magalhães e Verbiest, redigiu uma “Memória compendiosa sobre os lugares ocidentais”, a qual acabou por integrar uma colecção de livros imperiais. Dez anos depois, na ocasião da oferta de um leão africano pelo rei de Portugal ao imperador da China, escreveu Che-tse chouo (“Opúsculo sobre um leão de África”). Logo no ano seguinte, aquando da visita do imperador à biblioteca dos jesuítas e perante o seu interesse em ver traduzida para chinês a parte da Ornithologiae sive de avibus historiae, de Aldrovandi, relativa aos falcões e gaviões, Ludovico compôs Tsin tch’eng ing chouo (“Opúsculo sobre os falcões”). Foi também autor de uma breve biografia de Gabriel de Magalhães que acabaria por ser integrada na Nouvelle relation de la Chine, publicada em Paris no ano de 1688, obra que Buglio acabaria por traduzir para chinês
Além destas, o jesuíta preocupou-se também em redigir obras destinadas à formação do clero chinês: Cheng kiao yao-tche (“O significado essencial da doutrina do Senhor”), 1668; Tcheng kiao yo-tcheng (“Critério da verdadeira doutrina”), 1669; I-wang je-k’o (“Ofício dos mortos”), c. 1670; Cheng-kiao kien-yao (“Compêndio da santa doutrina”), c. 1671; Se-touo tien-yao (“Curso de teologia moral para o padre”), 2 vols., 1675; Cheng-mou siao je-k’o (“Pequeno ofício da Santa Virgem”), 1676; Ssu-to tien-yao (“Compêndio de regras para o sacerdote”), 1676.
Buglio deixou também obra artística. Segundo o testemunho do padre Verbiest, o jesuíta teria pintado três grandes quadros representativos de uma casa chinesa, de uma europeia e de um jardim, nos quais aplicou rigorosamente as regras da perspectiva.
Bibliografia
Estudos:Eduardo Brazão, A Diplomacia Portuguesa nos Séculos XVII e XVIII, 2 vols., Lisboa, Editorial Resistência, imp. 1979, p. 232.
Giuliano Bertuccioli, “Buglio, Ludovico”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 15, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1972, pp. 21-25.
Joseph Dehergne, Répertoire des jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma, Institutum Historicum, 1973, p. 39.
Joseph Sebes, “Buglio (Bouglio, Bulhio, Bullio), Ludovico [Nombre chino: LI Leisi, Zaike]”, Diccionario Historico de la Compañia de Jesus, vol. I, Madird, Universidad Pontificia Comillas, 2001, p. 568.
Louis Pfister, Notices biographiques et bibliographiques sur les jésuites de l’ancienne mission de Chine 1552-1773, 2ª edição, tomo I, Nendeln/Liechtenstein, Kraus-Thomson Organization, 1971, pp. 230-243.