Projectos
Nome: | CAPODIFERRO, Jerónimo |
---|---|
Outros nomes: | CAPODIFERRO, Girolamo / CAPODIFERRO, Hieronimo |
Nascimento e morte: | Roma, 22/6/1502 ou 1504 – Roma, 2/12/1559 |
Descrição: | Neto de Bartolomeo di Recanati, secretário e embaixador em Milão dos reis de Nápoles Afonso I e Ferrante I, Jerónimo Capodiferro descende de uma família aristocrática. O seu pai, Afonso di Recanati, era um nobre napolitano que fez carreira como advogado consistorial, e a mãe, Bernardina Capodiferro, pertencia a uma família patrícia de Roma. Jerónimo passou a sua juventude na corte de Alessandro Farnese, futuro papa Paulo III, onde contactou com vários artistas e letrados. Em 1527, recebeu um ofício na chancelaria romana que lhe exigia uma boa formação de jurista e a familiaridade com os segredos da cúria. Nove anos depois, Farnese, já na cadeira pontifical, nomeava-o governador de Fano. Capodiferro foi escolhido para a nunciatura portuguesa a 24 de Dezembro de 1536. A 17 de Fevereiro do ano seguinte, ainda em Roma, recebia as instruções de Paulo III. Seguia para Portugal destinado a resolver alguns dos assuntos deixados em aberto pela nunciatura de Marcos Vigerio della Rovere, nomeadamente, a questão das comendas novas da Ordem de Cristo e da imposição das duas décimas sobre os rendimentos dos clérigos. Outro problema sobre o qual Capodiferro se deveria debruçar prendia-se com o funcionamento do Tribunal da Inquisição. O papa alertava o núncio para controlar a acção dos inquisidores, vigiando se as cláusulas da bula de instituição da Inquisição eram observadas. Caso a sua autoridade para intervir não fosse aceite, o núncio tinha o poder de suspender ou mesmo revogar a Inquisição. Capodiferro ficava igualmente encarregue de observar eventuais abusos cometidos sobre os cristãos-novos e de tentar convencer o rei a revogar a lei que proibia a saída destes do reino. Capodiferro partiu de Roma a 17 de Fevereiro de 1537 e chegou à corte portuguesa a 11 de Abril. D. Miguel da Silva, bispo de Viseu e secretário de D. João III foi o informador do núncio, transmitindo-lhe constantes notícias sobre a política internacional. A questão da imposição das duas décimas sobre os rendimentos do clero tornou-se na mais relevante durante esta nunciatura. Paulo III considerava indispensável a contribuição financeira do clero português para a acção ofensiva contra os Turcos. A participação militar de Portugal no confronto e a convocação do concílio ecuménico em Mântua eram outras preocupações da cúria romana e que se espelharam na nunciatura de Capodiferro. Porém, foi o problema dos cristãos-novos que gerou a maior crise entre a nunciatura e a coroa portuguesa. O processo levantado contra o cristão-novo Aires Vaz, físico e astrónomo, acusado de heresia, colocou Capodiferro em confronto com os dois infantes eclesiásticos, o arcebispo D. Afonso e D. Henrique, bispo de Braga. D. João III escreveu uma carta ao papa a acusar Capodiferro de proteger Aires Vaz por este ser irmão de um pagem seu e de ter actuado, inibindo a decisão do cardeal, sem antes consultar a Santa Sé. Por outro lado, acusava-o também de descortesia e de fugir às instruções que recebera do papa. Segundo Lúcio de Azevedo, ao chegar a Lisboa, Capodiferro exigira dois mil cruzados dos cristãos-novos para que se desse bom andamento à sua causa em Roma. Além disso, estes acabaram por pagar mais 1 800 cruzados anuais ao núncio durante a sua estadia em Lisboa. Ora, D. João III acabaria por também o denunciar de conceder perdões e dispensas mediante dinheiro. Aliás, Capodiferro foi acusado de fazer soltar os detidos, de absolver em apelação dos condenados e de ajudar em fugas de suspeitos. O rei português acabou por pedir a Paulo III que retirasse o núncio de Lisboa. O papa consentiu a retirada de Capodiferro de Portugal. Porém, antes da substituição do núncio, deveria ser publicada a bula respondendo aos apelos dos cristãos-novos. Esta condição não se verificaria visto que, em meados de Dezembro de 1539, o núncio encontrava-se de partida de Portugal sem que a bula tivesse sido publicada. A 7 de Fevereiro de 1540, Capodiferro entrava em Roma. Poucos dias depois, era nomeado tesoureiro-geral da câmara apostólica, ofício que deixaria a Giovanni Poggio em 1541. Afinal, em Maio desse ano, foi nomeado núncio em França. No decorrer dessa nunciatura, tornou-se bispo de Nizza, a 6 de Fevereiro de 1542, tendo renunciado a esse cargo em 1544, em favor de Giovanni de Provanis. Em Abril de 1543, Capodiferro partiu de França para Bolonha. Porém, em Novembro daquele ano, estava de regresso à corte francesa, acompanhado pelo cardeal Farnese. Ali, manteve-se até Abril do ano seguinte, quando foi chamado de regresso a Roma. Pelos serviços prestados à Santa Sé, recebeu como recompensa, em Janeiro de 1545, o título de S. Giorgio dal Velabro. Assim, passou a ocupar uma posição influente no conselho privado de Paulo III. A 26 de Agosto de 1545, Capodiferro foi nomeado legado na província da Romagna. Dois anos depois, a 25 de Fevereiro de 1547, era escolhido como legado a latere perante Francisco I. Ainda se encontrava a caminho, quando o rei francês faleceu e Henrique II foi proclamado seu sucessor. Capodiferro recebeu, então, a incumbência de levar as condolências do papa. Em finais de 1548, estava de regresso a Romagna, como legado. Após a morte de Paulo III, Capodiferro apoiou a facção do cardeal Farnese para a eleição papal. Porém, a 8 de Fevereiro de 1550, foi o cardeal Del Monte o eleito. Tal não o afastou da corte papal e Capodiferro acabou por se tornar íntimo no novo papa, Júlio III. Este encarregou-o da construção e decoração do palácio edificado no bairro Regola. Reconhecendo a sua experiência francesa, em 1550 e 1553, Júlio III enviou-o novamente a França, como legado a latere perante Henrique II. Em Abril de 1555, foi eleito um novo papa, Marcelo II. Começou, então, um período desfavorável para Capodiferro nas suas relações com o pontífice. Quer este, quer o seu sucessor, Paulo IV, privaram-no de alguns dos seus cargos: em 1555, foi afastado da legação da Romagna e, em Agosto de 1557, obrigado a abandonar Roma, refugiando-se em Pádua. Capodiferro voltou a aparecer em Roma no conclave que elegeu Pio IV, em 1559, durante o qual acabou por morrer. O seu corpo foi sepultado em S. Maria delle Febbri e, dali, transferido para S. Maria della Pace. |
Bibliografia | |
Estudos: | Charles-Martial de Witte, La correspondance des premiers Nonces Permanents au Portugal (1532-1553), Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1986-90, vol. I, pp. 57-71; vol. II, pp. 185-398. David Sampaio Dias Barbosa, “Nunciatura de Lisboa”, Dicionário de História Religiosa de Portugal. Direcção de Carlos Moreira Azevedo, vol. III, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, p. 311-312. Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. II, Porto/Lisboa, Livraria Civilização, 1968, p. 583. Gigiola Fragnito, “Capodiferro, Girolamo”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 18, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1975, pp. 626-629. João Lúcio de Azevedo, História dos Cristãos-Novos Portugueses, 2ª edição, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1975, pp. 85-90. |
Fontes: | Instrucçoens dadas pela Corte de Roma a Mgr. Girolamo Capodiferro e a Mgr. Lippomano (coadjutor de Bergamo) Nuncios em Portugal, Paris, E. Guiraudet, 1829, pp. 17-33. |