Projectos

Nome:CONESTAGGIO, Jerónimo de Franchi
Outros nomes:CONESTAGGIO, Girolamo di Franchi
Nascimento e morte:Génova, c. 1530 – Flandres, antes de Outubro de 1618
Descrição:Filho de Simone Conestagio e neto de Gerolamo Conestagio, Jerónimo era membro de uma família aristocrática de Génova.
Ainda muito jovem, colocou-se ao serviço do cardeal Alessandro Sforza. Acabaria por abandonar as suas funções de secretário para seguir rumo a Antuérpia, onde se encontrava em 1552, dedicado ao comércio. Conestaggio estava ligado a um grupo de mercadores genoveses, do qual faziam parte Stefano Ambrogio Schiappalaria, Pier Francesco Moneglia Cicala, Benedetto Moneglia, Gerolamo Scorza e Desiderio Bondinario. Sob o auspício de Schiappalaria, esse grupo fundou a academia literária dos “Confusi”, onde Conestagio era conhecido pelo nome de “Attonito”.
Em Antuérpia, Conestaggio casou-se com a irmã de Nicolò Perez (ou Pieters), também ele membro da nobreza. Na sequência da revolta anti-espanhola nos Países Baixos do Sul ou do massacre de Antuérpia, Conestaggio chegou a Lisboa, onde passou a representar os interesses genoveses na alfândega. Não é conhecida a data exacta da sua chegada, porém é apontado o período entre 1578 e 1582.
A 7 de Março de 1584, Jerónimo recebia o privilégio de usar, em Portugal e em Espanha, as armas da sua família, possivelmente como recompensa por algum serviço prestado à coroa espanhola. O seu brasão consistia num braço armado de prata, em campo vermelho, a sair do lado esquerdo do escudo e a agarrar uma espada também de prata guarnecida de ouro e com uma coroa ducal na ponta; por timbre, tinha uma estrela cadente dourada.
Apenas em 1590 é que voltamos a ter notícias de Conestaggio. Era, então, cônsul da república de Génova em Veneza. Os últimos anos da sua vida teriam sido passados na Flandres.
A sua obra mais determinante, considerando a perspectiva portuguesa, foi a Dell’Unione del Regno di Portogallo alla corona di Castiglia, composta em Portugal entre 1582 e 1584 e publicada em Génova em 1585. Porém, a autoria desta obra tem gerado alguma discussão. Uma tese aponta Conestaggio como seu autor, enquanto que outra a atribui a D. João, quarto conde de Portalegre e embaixador de Filipe II na corte portuguesa, que teria assinado em pseudónimo. Porém, grande parte dos autores, entre os quais Mendes do Rosário e Giacinto Manupella, atribuem-na ao genovês Conestaggio, embora reconheçam que D. João da Silva tenha sido o responsável pela transmissão das informações relativas à expedição de D. Sebastião em Alcácer Quibir.
Dedicada ao doge e ao senado da república de Génova, esta obra gerou intensas críticas junto de alguns autores portugueses, considerada como contrária à facção portuguesa e justificativa da política de Filipe II. Conestaggio foi igualmente acusado de ficcionar os factos nesse sentido. Mesmo assim, a popularidade que o livro atingiu superou as críticas: foram publicadas seis edições em italiano entre 1585 e 164, era traduzido para alemão em 1589, para latim em 1602 e para castelhano em 1610. Também foi traduzido para francês, alcançando as seis edições no espaço de um século (1595-1695). Em Inglaterra, foi um dos primeiros livros históricos italianos a ser traduzido para inglês, por Edward Blount, em 1600. Segundo Manupella, a grande difusão obtida pela obra de Conestaggio ter-se-ia devido ao impacto que a morte do jovem rei de Portugal e a perda da independência de Portugal tivera na Europa, levando à eclosão de uma literatura sebástica.
Além da Dell’Unione, foram publicadas, nos primeiros anos de Seiscentos, outras obras de Conestaggio. Foi o caso da Rellatione dell’apparecchio por sorprendere Algieri, impressa na cidade de Génova em 1601. Esta relação era dirigida a Nicolò Petrococcino, provedor da Casa da Índia e amigo de Conestaggio, e dedicada a Giovan Carlo Doria, filho de um outro amigo, Agostino Doria. Ao revelar informações políticas e militares secretas, a Rellatione gerou a desaprovação da coroa espanhola, traduzida na emissão de uma Respuesta á la Relaçion del Conestagio á Nicolas Pedro Cochino Provedor de la Casa de la India.
Também severamente criticada pelas autoridades espanholas foi a Delle guerre della Germania Inferiore, publicada em Veneza, em 1614, e, no ano seguinte, em Colónia. Nesta obra, Jerónimo tomava posição contra várias acções da política de Filipe II na Flandres, mostrando como o absolutismo político e a intolerância religiosa num país onde a liberdade era cultuada havia séculos nunca resultaria. Tal posição acabaria por gerar a crítica de alguns autores espanhóis como Luis Cabrera de Córdoba, biógrafo oficial de Filipe II, e Lope Félix de Vega Carpio.
A edição das suas Rime, coligidas e publicadas por um amigo e admirador em Amesterdão, foi já póstuma, em 1619 pela oficina de Giacomo di Pietro. Ainda inédita, encontra-se uma obra biográfica de Conestaggio, a Vita del Conte di Santa Fiora, sobre Federico Sforza, irmão do Cardeal Alessandro.
Arturo Farinelli refere ainda um Itinerario overo descrittione del regno di Portugallo 1577, conservado na Biblioteca Palatina de Viena, como sendo da autoria de Conestaggio. Porém, Manupella duvida dessa alegada autoria.
Bibliografia
Estudos:Giacinto Manupella, “Jeronimo Franchi Conestaggio”, Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, III série, nº 1, 1957, pp. 216-287.
Idem, A lenda negra de Jerónimo de Franchi Conestaggio e da sua Unione del Regno di Portogallo alla corona di Castiglia (Génova, 1585). Separata da Revista da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1984.
Maristella Cavanna Ciappina, “Conestagio (Connestagio) de Franchi, Gerolamo”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 27, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1982, pp. 770-772.
Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, pp. 296-297.
Nello Avella, “Gerolamo de Franchi Conestagio, um mercador-intelectual na corte de D. Sebastião”, Convegno “Case Commerciali Banchieri e Mercanti Italiani in Portogallo”. Lisbona, 3-4-5 settembre 1998, Lisboa, Istituto Italiano di Cultura in Portogallo, 1999, pp. 9-15.