Projectos

Nome:CORBINELLI, Francisco
Outros nomes:CORVINELLI, Francisco / CORVINEL, Francisco / CORBINELLI, Francesco di Parigi
Nascimento e morte:Florença, 19/6/1466 – Índia?, antes de 1526
Descrição:Oriundo de uma família ilustre de Florença ligada à actividade bancária, Francisco era filho de Parigi Corbinelli e irmão de Alessandro Corbinelli.
Ter-se-ia estabelecido em Portugal pouco depois de 1480. Afinal, a 2 de Setembro de 1483, o rei concedia-lhe uma carta de seguro. Corbinelli residia em Lisboa e, em 1493, casou-se com a filha de Bartolomeu Marchionni.
Dedicado aos negócios das especiarias e do açúcar da Madeira, tornou-se num importante contratador. Em 1502, junto com Julião Joconde, era membro do consórcio do monopólio do açúcar da Madeira. Nesse ano, contratou doze mil arrobas de açúcar das trinta destinadas a Liorne, Roma e Veneza, enquanto que as restantes dezoito mil foram arrematadas por Jerónimo Sernigi e João Francisco Affaitati. No ano seguinte, Corbinelli aparecia já associado a Sernigi e a Leonardo Nardi num contrato de cinco mil arrobas de açúcar.
Francisco continuava a se corresponder com Florença, comunicando os desenvolvimentos da empresa ultramarina portuguesa. Assim, numa carta de 22 de Agosto de 1503, enviava notícias sobre a chegada da segunda armada de Vasco da Gama.
No início de Quinhentos, Corbinelli alargou a sua actividade mercantil ao comércio africano. Em 1504, era citado como testemunha de um contrato de arrendamento dos quartos, vintenas e dízimos das ilhas de S. Tomé e Príncipe a João da Fonseca e a António Carneiro. Por volta de 1505, estava associado aos herdeiros de Pero Vaz de Almeida, antigo capitão do castelo de Arguim, num quinhão de mercadorias avaliado em 270 042 réis. Aliás, Corbinelli geriu o comércio daquela praça durante vários anos, sendo-lhe reservada uma parte dos lucros resultantes da actividade mercantil e outra das confiscações feitas aos estrangeiros ali arribados em negócios clandestinos. Assim, já em 1514, quando foi confiscado o navio de Michelle Pardo, acusado de conivência com os mouros, o florentino recebeu os bens confiscados por ordem régia, os quais estavam avaliados em 270 mil réis.
Porém, os negócios africanos não tiveram os resultados esperados e Corbinelli acabou por acumular dívidas. De acordo com um assentamento da sisa dos panos do Algarve, de 1507, devia 150 mil réis a João Mendes do Rio.
Segundo Virgínia Rau, Corbinelli estava na Índia em 1508. No ano seguinte, como capitão-armador, participou do ataque a Calecute, sob o comando de Afonso de Albuquerque. Porém, no inicio de 1510, regressou a Portugal, embora por pouco tempo visto que, no final daquele ano, já se encontrava novamente na Índia
Dados os serviços prestados durante a tomada de Goa e os seus latos conhecimentos na área comercial, Afonso de Albuquerque, em 25 de Novembro de 1510, designou-o feitor de Goa. Corbinelli manteve-se neste cargo desde Novembro de 1510 até Dezembro de 1515 e, novamente, de 10 de Março de 1518 a 22 de Novembro de 1521. Acabaria por acumular também as funções de tesoureiro da moeda, vedor das obras e contador de Goa.
Porém, Corbinelli nunca chegou a conquistar a confiança de D. Manuel. Este ficou relutante com a sua nomeação para aquele cargo e eram constantes as queixas do florentino sobre a falta de resposta do rei às suas cartas.
A 22 de Outubro de 1513, Corbinelli escrevia a D. Manuel, pedindo-lhe autorização para regressar a Portugal. Garantia que a sua intenção era apenas a de ir ao reino dar contas sobre a feitoria de Goa e que, após isso, aceitaria ser colocado onde quer que o monarca desejasse. Porém, o seu pedido apenas foi aceite em 1516.
Logo no ano seguinte, Corbinelli era novamente nomeado feitor de Goa por mais três anos e recebia, em doação hereditária, a localidade de Cidapor, na ilha de Goa. No exercício deste cargo, contava com a ajuda do filho Parigi Corbinelli.
Francisco Corbinelli volta a aparecer na documentação em 1524. Nesse ano, com mais cinco italianos, participou de um seguro, registado na conta de um agente de Florença, sobre um navio que efectuava a viagem de Livorno a Alicante ou Cartagena.
Não se sabe a data exacta da sua morte mas apenas que fora antes de 1526, data de uma carta de quitação passada aos seus herdeiros.
Bibliografia
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