Projectos

Nome:CORSALI, André
Outros nomes:CORSALI, Andrea
Nascimento e morte:Florença, 29/6/1487 – Etiópia, depois 1524
Descrição:Filho de Giovanni di Andrea e Caterina di Francesco del Cittadino, André nasceu numa família relacionada com os Médicis. Astrónomo, cosmógrafo e navegador, chegou a Lisboa nos inícios do século XVI, integrando-se, desde então, no comércio com a Índia.
Em 1514, o papa Leão X, ao saber do seu interesse em partir para a Índia, confiou-lhe a função de ser o seu intermediário perante o Preste João na negociação de uma aliança contra os “infiéis”. Desta embaixada, também fazia parte Duarte Galvão, enviado pelo rei D. Manuel.
Corsali partiu de Lisboa na frota de Lopo Soares de Albergaria, na qual também seguiram João da Empoli, Benedito Pucci e Rafael Galli. Além do desembarque da embaixada para o Preste João, a missão desta frota passava pela realização de uma incursão sobre as tropas do amir Husain e de Salman Otamni que bloqueavam o acesso ao Mar Vermelho.
Embora esta viagem não tenha cumprido nenhum destes dois objectivos, foi prolixamente narrada por Corsali em duas cartas dirigidas a Juliano (a 6 Janeiro 1515) e Lourenço de Médicis (a 18 Setembro 1517). Em ambas missivas, o florentino sublinhava as potencialidades do comércio da região e informava os seus destinatários das dificuldades da navegação no Mar Vermelho e Golfo Pérsico. Através destes dois testemunhos, Corsali revelava as suas capacidades de observador atento não só do funcionamento do comércio no Oriente como também das relações estabelecidas pelos portugueses com os indígenas.
Na carta a Juliano de Médicis, escrita em Cochim, Corsali comunicava o sucesso da viagem e a sua chegada a Goa, descrevendo com minúcia a população, as riquezas e o comércio praticado naquela região. Abordava igualmente as informações que obteve sobre outros pontos centrais do comércio do Oriente: Cananor, Calecute, Cambaia, Ceilão, Malaca, Sumatra e China.
Mais de dois anos depois, na carta escrita a Lourenço de Médicis, Corsali descrevia a viagem que empreendera, em Fevereiro de 1516, até à Etiópia, passando por Socotorá e Áden. Ao lado da armada portuguesa, o florentino participou da expedição militar contra o sultão do Egipto. Porém, uma tempestade causou o extravio de parte das embarcações da frota, nomeadamente da que levava Corsali que, durante algum tempo, vagueou sem rumo pelo Mar Vermelho, até aportar na ilha de Dahlak, onde esteve durante um mês. Foi ali que obteve informações sobre o Preste João e sobre um reino que, segundo ouviu, compreendia todas as terras a norte da Guiné portuguesa até à Etiópia. Depois da armada ter empreendido um ataque a uma fortaleza em Kamaran, rumaram até Zeila, no Norte da Somália, a qual foi atacada e saqueada. Corsali aproveitou para recolher ali alguns manuscritos, possivelmente na intenção de vir a estudar abexim. No regresso, passaram por Ormuz, Goa e chegaram a Cochim em Dezembro de 1516.
Corsali havia estabelecido contactos com outros mercadores florentinos que se encontravam a negociar na Índia. Foi o caso de Piero Strozzi. Aliás, na sua correspondência, Corsali chegou mesmo a revelar o seu interesse em seguir para o Coromandel na companhia deste mercador, dadas as riquezas que aquela terra prometia.
Segundo uma carta de Piero di Giovanni di Dino, no início de 1519, Corsali encontrava-se em Cochim. O mesmo documento sublinha que o florentino tinha vastos conhecimentos sobre a Pérsia e a língua malabar e que, em Cochim, mantinha-se muito activo na actividade comercial.
Nos últimos anos da sua vida, Corsali teria seguido para a Etiópia. Um manuscrito de um religioso abissínio, Abbã Tomãs, datado de Maio de 1524, testemunhava que o florentino encontrava-se, então, na capital da Etiópia, onde exercia funções de tipógrafo.
Bibliografia
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