Projectos

Nome:CORTONA, Serafim de
Nascimento e morte:Cortona, 1614 - Florença, 7/9/1660
Descrição:Frade capuchinho, Serafim entrou para aquela ordem em 1631. Anos mais tarde, a 17 de Julho de 1646, foi um dos catorze missionários destacados para o Congo. Além dele, integravam essa leva de capuchinhos Jerónimo de Montesarchio e Francisco de Licodia, entre outros. Partiram de Cádis a 14 de Outubro de 1647, tendo chegado a Pinda a 9 de Março de 1648.
Em Dezembro daquele ano, Serafim foi destacado para seguir rumo a Luanda, na companhia de Francisco de Licodia. Embora tenham sido bem acolhidos por alguns moradores, foram recebidos com alguma desconfiança por outros. Susceptível a esta divisão de opiniões, o governador de Angola, Salvador Correia, permitiu que, nos primeiros dias, os dois capuchinhos dormissem debaixo de um alpendre e, depois, num recanto da Misericórdia, até lhes conceder uma casa modesta para sua residência.
Serafim estava em Luanda também em missão de paz. Junto do governador, tentou interceder para o cessar das hostilidades com o Congo, embora sem sucesso. Melhor sucedida foi a sua obra de evangelização. Em 1650, fundou, na igreja de Santo António, as congregações masculina e feminina de S. Francisco. Serafim criou mais duas congregações, uma sob o orago da Virgem Maria e outra de S. Boaventura. A primeira, mais destinada às mulheres de Luanda, era vocacionada à declamação do rosário, enquanto que a segunda, fundada numa capela particular, dedicava-se à instrução dos mais jovens.
A 27 de Dezembro de 1654, Serafim foi eleito prefeito da nova missão de Matamba. Partiu de Luanda em meados de Fevereiro de 1655 rumo a Massangano, sede daquela missão. Um dos objectivos com que partia era a aproximação à rainha Jinga, preparando a sua conversão e o desenvolvimento da missão de Matamba. Durante o tempo em que esteve dedicado a esta missão, o capuchinho percorreu o território em constantes diligências para a evangelização daquele povo. A 10 de Maio, saiu para visitar Maupungo, de onde seguiu para Ambaca, no final daquele mês. Após ter adoecido, regressou a Massangano, onde recolheu entre os fiéis uma grande quantidade de mantimentos para serem enviados ao exército português que se encontrava em Quissama, passando por sérias dificuldades.
Serafim de Cortona tinha de dar contas do estado da missão a Roma e, para tal, estava disposto a enviar um missionário como embaixador. Perante a morte do papa Inocêncio X e a eleição do cardeal Fabio Chigi, Serafim decidiu ir pessoalmente à Santa Sé para felicitar o novo pontífice, do qual era amigo pessoal. O capuchinho esperava que aquela antiga amizade facilitasse a anuência aos seus pedidos. Assim, deixou o cargo de prefeito a António de Gaeta, sob a condição deste passar a residir em Massangano, e, em Julho de 1658, embarcou de Luanda para Roma, seguindo no barco do ex-governador D. Martinho Luís de Sousa. Junto com ele iam também Frei Jerónimo de La Puebla, irmão leigo da província de Aragão.
Ao largo da costa brasileira, um navio holandês abordou-os. A tripulação foi aprisionada e parte ficou gravemente ferida, como foi o caso do governador. Porém, Serafim conseguiu conquistar a confiança dos captores e convenceu-os a não atirarem ao mar os feridos mais graves, como o desejavam fazer, mas sim a abandoná-los numa ilha despovoada, a “Baía da Traição”, com os devidos mantimentos. O capuchinho também foi deixado naquela ilha. D. Martinho Luís de Sousa não resistiu aos ferimentos e faleceu. Já depois da sua morte, um marujo ofereceu-se para ir a nado até ao porto mais próximo, o de Paraíba, para pedir ajuda. Tendo conseguido tal proeza, os náufragos foram resgatados e acolhidos pelo governador da fortaleza.
Serafim de Cortona e Jerónimo de la Puebla quiseram seguir por terra de Paraíba até Pernambuco, tendo sido acompanhados por uma escolta armada. Em Pernambuco, o capuchinho foi escolhido para pronunciar o elogio fúnebre de D. Martinho Luís de Sousa.
No início de Dezembro de 1658, Serafim chegava a Lisboa para pedir à coroa que o hospício de Santo António, em Luanda, concedido pelo governador de Angola, nunca fosse retirado aos capuchinhos. A regente D. Luísa de Gusmão anuiu àquele pedido por decreto de 4 de Fevereiro de 1659. O capuchinho havia também sugerido a criação de um seminário em S. Salvador, destinado à formação do clero indígena. A Congregação de Propaganda Fide considerou que este deveria ser construído, embora, tal nunca chegasse a ser realizado.
Serafim seguiu, então, de regresso a Roma, na companhia de la Puebla. Em Janeiro de 1659, já se encontrava naquela cidade, onde se separou do seu companheiro de viagem, acabando por seguir para a Toscana. Em Florença, após ter sido nomeado guardião, o capuchinho faleceu. O seu corpo foi enterrado no convento da Concenzone, fora da cidade.
Bibliografia
Estudos:António da Silva Rego, Curso de Missionologia, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1956, pp. 280, 295.
António de Oliveira de Cadornega, História Geral das Guerras Angolanas. Anotado e corrigido por José Matias Delgado, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1972, vol. II, pp. 50-51, 492-493; vol. III, pp. 348 e 442.
Fidelis M. de Primerio, Capuchinhos em Terras de Santa Cruz nos séculos XVII, XVIII e XIX, S. Paulo, Livraria Martins, 1940, pp. 114-116.
João António Cavazzi de Montecúccolo, Descrição Histórica dos Três Reinos do Congo, Matamba e Angola. Tradução, notas e índices de Graziano Maria de Leguzzano, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1965, v. I, pp. 397-407, passim; v. II, pp. 112, 461-462, passim.