Projectos

Nome:DURAZZO, Marcelo
Nascimento e morte:Génova, 6/3/1633 – Faenza, 12/4/1710
Descrição:Filho de Cesare Durazzo, que chegou a ser doge de Génova, e de Giovanna Cervetto, Marcelo era membro de uma das mais ilustres famílias daquela cidade. Lucas de Andrade, na dedicatória que faz a Durazzo da sua obra Visita geral, que deve fazer hum prelado no seu bispado, apontadas as cousas por que deve perguntar, refere os Durazzo como “os maiores Princepes do principado da nobilissima Republica de Genova de mais de quatrocentos annos a esta parte, e a mais calificada nobreza della”.
Marcelo veio para Portugal como núncio apostólico, função que desempenhou durante os anos de 1673 a 1685. Porém, quando chegou ao reino, tinha já uma longa carreira eclesiástica, na qual havia desempenhado cargos de alta responsabilidade.
Doutorado em Direito pela Universidade de Perugia, Durazzo foi para Roma, onde, por intermédio do seu tio, o cardeal Stefano Durazzo, iniciou a sua ascensão na hierarquia eclesiástica. Em 1660, era nomeado protonotário apostólico. Nos anos seguintes, desempenhou as funções de governador das cidade de Remini e Fano e, em 1665, foi vice-legado de Bolonha durante a embaixada do cardeal Carafa. Três anos depois, Durazzo encontrava-se à frente do governo de Ancona.
Quando Alexandre VII morreu e Clemente IX sucedeu-lhe no trono pontifício, Durazzo foi encarregue do governo das províncias de Maritima e de Campanha. Seguiu-se-lhe o governo de Viterbo, com superintendência sobre todo o estado de Castro e Rocilhon.
Durante o pontificado de Clemente X, Durazzo foi nomeado governador de Perugia. Já com o título de arcebispo de Calcedónia, em Junho de 1671, o papa escolheu-o para a nunciatura em Sabóia. Contudo, dadas as suas origens e o confronto que opunha Sabóia a Génova, Clemente X acabou por decidir substitui-lo nessas funções e nomeá-lo visitador da Santa Casa de Nossa Senhora do Loreto.
Durazzo encontrava-se em Avinhão, como vice-legado, quando foi nomeado para a nunciatura portuguesa, a 29 de Abril de 1673. No final de Maio, partia para Portugal mas, como adoeceu durante a passagem por Espanha, apenas chegou ao reino no final do ano. A situação em Lisboa estava tensa, gerada pela desobediência de alguns padres teatinos ao arcebispado e pela nomeação do cardeal de Estrées como protector de Portugal. Nos primeiros meses de nunciatura, Durazzo tentou refrear os ânimos, resolvendo a questão dos teatinos.
Mais conflituosa foi a aceitação do cardeal de Estrées. D. Pedro II opunha-se à designação do cardeal como protector do reino e o núncio foi levado a tomar uma posição mais radical. Em 1676, a situação ainda não estava resolvida e Durazzo pedia auxílio à rainha para ratificar a nomeação do cardeal.
Entretanto, outras questões surgiam, tornando mais complexa a sua missão. Cresceu a controvérsia entre os agostinhos calçados e os descalços sobre a nova fundação da ordem e as dioceses do Brasil e de África apresentavam novos problemas. Ainda em 1674, Durazzo autorizou a abertura de uma missão de padres filipinos em Pernambuco.
Outra situação polémica e que se arrastava havia já várias nunciaturas era a questão dos cristãos-novos e do funcionamento da Inquisição, a qual veio tornar mais tensa a relação entre o núncio e a coroa e clero portugueses. Afinal, Durazzo representava as dúvidas de Roma sobre a forma como decorriam os processos inquisitoriais e o funcionamento do tribunal do Santo Ofício.
A situação financeira do núncio também foi abalada pelo facto do papa ter suprimido os secretariados apostólicos, de onde provinha a maior parte dos seus rendimentos. A coroa portuguesa propôs-lhe que assumisse o arcebispado de Évora, solucionando, assim, esse problema. Porém, sem intenções de se fixar permanentemente em Portugal, Durazzo recusou a oferta.
A 8 de Setembro de 1676, o núncio conduziu o Santíssimo Sacramento para a igreja de Nossa Senhora do Loreto, reedificada após o incêndio de 1651. No dia seguinte, celebrou missa pontifical naquela igreja, na presença de D. Pedro. Já no final da sua nunciatura, em Setembro de 1685, Durazzo colocou o corpo de S. Justino Mártir no altar-mor da igreja.
As relações entre o núncio e D. Pedro apenas se amenizaram depois de 1680, na sequência das negociações do casamento entre a infanta D. Isabel e de Victor-Amadeu de Sabóia e da mediação pontifícia na querela entre Portugal e Espanha sobre as fronteiras do Rio da Prata. Já no final da nunciatura, Durazzo propôs a D. Pedro a participação na Liga contra os Turcos. Embora não tenha assumido nenhum compromisso, o rei manifestou interesse em participar.
Em 1685, Durazzo abandonava a nunciatura portuguesa para seguir, como funções similares, para Madrid. Em Outubro de 1689, regressava a Itália. Dois anos depois, foi destacado para a diocese de Spoleto. Encarregue da legação de Bolonha, em 1693, Durazzo foi nomeado bispo de Faenza. Esteve nessa diocese até ao final dos seus dias.

Bibliografia
Estudos:Eduardo Brazão, A Diplomacia Portuguesa nos Séculos XVII e XVIII, 2 vols., Lisboa, Editorial Resistência, imp. 1979, p. 208.
Matteo Sanfilippo, “Durazzo, Marcello”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 42, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1993, pp. 168-170.
Teresa Leonor Magalhães do Vale, Escultura Italiana em Portugal no Século XVII, Lisboa, Caleidoscópio, 2004, pp. 63-64.


Fontes:Corpo Diplomatico Portuguez contendo os actos e relações politicas e diplomaticas de Portugal com as diversas potencias do mundo desde o seculo XVI até aos nossos dias, tomo XIV, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1910, pp. 151-152, 181-182, 203-206, passim.
Marcelo Durazzo, Sentença apostolica a favor do Procurador da Fazenda de S. Alteza, 1675.
Lucas de Andrade, Visita geral, que deve fazer hum prelado no seu bispado, apontadas as cousas por que deve perguntar. O que devem os parochos preparar para a sua visita, Lisboa, Officina de João da Costa, 1673.