Projectos
Nome: | EMPOLI, João de |
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Outros nomes: | EMPOLI, Giovanni di Leonardo da |
Nascimento e morte: | Florença, 24/10/1483 - Cantão, Outubro 1517 |
Descrição: | Natural de uma família originária de Empoli mas que, desde a segunda metade do século XIV, se encontrava em Florença, João era filho de um banqueiro, Leonardo de Empoli. Tendo recebido uma educação profundamente religiosa, João de Empoli, segundo confidencia no seu testamento, chegou mesmo a ponderar ingressar na vida religiosa como frade no convento de San Marco. Porém, acabou por se dedicar à actividade mercantil, iniciando a sua carreira na casa comercial do pai. Em 1500, João transferia-se para Siena embora tenha ali ficado por um curto período de tempo, acabando por regressar a Florença. Teve, então, a oportunidade de trabalhar em Bruges para a companhia de Martino Scarfi e Giovanni Gualberto Buonagrazia. Assim, esteve durante nove meses com os Scarfi-Buonagrazia, ao fim dos quais passou a trabalhar com a companhia de Antonio e Filippo Gualterotti e de Girolamo Frescobaldi, também em Bruges. Os Gualterotti-Frescobaldi pretendiam enviar um agente à Índia e escolheram Empoli para essa missão. A 27 de Dezembro de 1502, Empoli partia para Lisboa, onde se aproximou de Lucas Giraldi e da companhia de João Francisco Affaitati. Meses depois, a 6 de Abril de 1503, Empoli embarcava na frota de Afonso de Albuquerque, a qual havia sido financiada, além da companhia Frescobaldi-Gualterotti, por Jerónimo Sernigi, Bartolomeu Marchionni e por Bernardo Gondi, activo banqueiro em Florença e Lyon. Segundo o relato de Bernardo de’Pilli, a 11 de Setembro, a frota chegava ao porto de Cananor e dali seguiu para Calecute até Cochim. Foram enviadas por Albuquerque, ao porto de Quilon, duas naus, numa das quais seguiu João de Empoli. Este estava encarregue de ir a terra para negociar com o soberano local, o qual acabou por se comprometer a abastecer as naus de especiarias. Regressaram a Calecute e, depois de abastecidos de víveres para a viagem, partiram de regresso a Portugal, a 27 de Janeiro de 1504. A 16 de Setembro daquele ano, chegavam a Lisboa. A frota vinha carregada com dez mil cantaras de pimenta, cerca de 600 (segundo Ca’ Masser 500) de canela, 300 (ou 450) de cravo e 100 (ou 130) de gengibre, além de outras especiarias em quantidades mais reduzidas como cubeba, cânfora, macis ou aloés. Assim, apesar de todas as dificuldades encontradas, os lucros rondaram os 200%. Entusiasmado com o sucesso da missão, Empoli dirigiu-se a Bruges para dar conta do seu negócio. A 22 Outubro 1506, encontrava-se já em Florença, onde apresentava, perante o gonfaloneiro Piero Soderini, no Palazzo Vechio, uma relação da sua viagem. Essa relação acabaria por ser publicada, em 1530, por Giovanni Battista Ramusio com o título de Viaggio fatto nell’India per Giovanni Da Empoli fattore su la nave del Serenissimo Re di Portogallo per conto de Marchionni di Lisbona. De Florença, seguiu para Bruges, em 1507, acompanhado por Carlo da Terranuova. Durante a viagem, passou por Lyon, onde contactou com os Nasi, os quais também participariam no financiamento da próxima viagem à Índia. Com os resultados que advieram desta primeira viagem de Empoli ao Oriente, a sua posição na companhia dos Gualterotti (Frescobaldi teria, entretanto, saído da companhia) saiu reforçada e ele ganhou uma maior autonomia. Assim, João passou a investir, a título individual, na armação das naus para a próxima viagem à Índia. A casa Gualterotti estava decidida a alargar os seus negócios até Malaca. Em Março de 1510, João de Empoli voltava a partir para a Índia numa embarcação de Jerónimo Sernigi, integrada na frota de Diogo Mendes de Vasconcelos, e com destino final a Malaca. Empoli entrara com 285 625 réis para a expedição. Entre os outros financiadores, encontravam-se Jerónimo Sernigi (armou quatro embarcações), a companhia Gualterotti (1 646 286 réis), a companhia Nasi (573 115 réis), Adriano Bava (76 570 réis) e Rafael de Médicis (72 800 réis). Embora o objectivo da frota fosse seguir para Malaca, ao chegar à Índia, Afonso de Albuquerque encaminhou-a para a acção militar contra Goa, o que causou o desagrado entre alguns mercadores, entre os quais Empoli. Afinal, tal conduziu a graves prejuízos nos seus negócios. A 25 de Novembro, Goa era conquistada e o saque repartido pelos vencedores. Porém, Empoli nunca chegou a ver o seu quinhão, tendo recebido, em compensação, o título de cavaleiro. Após esta acção militar, a frota começou os preparativos para seguir rumo a Malaca. Empoli foi encarregue de reunir os mantimentos para a expedição e, para tal, seguiu para Cananor e Cochim. Entretanto, em Goa, Diogo Mendes de Vasconcelos havia empreendido uma tentativa de seguir para Malaca sem notificar o vice-rei, o que lhe valeu a sua prisão. Em simultâneo, o governador de Cananor recebeu ordens para também prender Empoli, por cumplicidade com os planos de Vasconcelos. Após 22 dias de cárcere, Afonso de Albuquerque chegava a Cananor para o libertar e convidá-lo a seguir consigo até Malaca. Tendo aceitado a proposta do vice-rei, no final de Abril de 1511, João partiu para Malaca, onde chegou a 2 de Junho. Cerca de um mês e meio depois, iniciava-se o ataque português à cidade. Após a conquista, Empoli permaneceu ainda ali durante alguns meses, dedicado ao comércio, regressando a Cochim no final do ano. Porém, poucos meses depois, Albuquerque voltava a coagi-lo a voltar a Malaca. João de Empoli viajou novamente para o sueste asiático. Ao chegar a Pasai, foi encarregue de representar os interesses portugueses perante o soberano local. Assim, foi estabelecido um acordo em que os portugueses se comprometiam a comprar toda a seda que a cidade pudesse vender, ao mesmo preço oferecido pelos outros mercadores. Chegado a Malaca, Empoli participou da reconquista militar da cidade. Embora Afonso de Albuquerque tenha tentado persuadi-lo a receber o cargo de feitor de Malaca, João de Empoli decidiu-se pelo regresso a Portugal. A 22 de Agosto de 1514, entrava em Lisboa. Relativamente a esta viagem, João redigiu duas cartas: uma datada de 19 de Outubro de 1514 e outra de 9 de Janeiro de 1515. Regressado à capital portuguesa, João avançou com um protesto formal contra Afonso de Albuquerque. Apresentou queixa ao rei que, por sua vez, mandou D. Martinho de Castelo-Branco analisar a questão. Sem obter a resposta esperada da coroa portuguesa, João recorreu ao Papa, o qual, em Fevereiro de 1515, despachava um breve a D. Manuel. Porém, o breve acabaria por não ter qualquer efeito. Durante esta temporada em Lisboa, João reforçou os negócios que mantinha com Giraldi e passou a também se relacionar com João Bicudo (Jehan Bicudt), mercador originário da Picardia com negócios na Flandres. No início de Abril de 1515, Empoli partia novamente para a Índia, então na frota de Lopo Soares de Albergaria, com a missão, solicitada pelo rei português, de fundar uma feitoria em Samatra. Porém, ainda antes de partir, em frente a Belém, a bordo da nau Espera, João redigiu o seu testamento perante o notário apostólico Afonso de Sevilha. Os seus herdeiros universais seriam o pai e o tio Girolamo. Além disso, favorecia alguns amigos e instituições religiosas. A Lucas Giraldi confiava dois livros de contabilidade, jóias, pedras preciosas e outros objectos de valor e a Bicudo um saco com escritos relativos à sua segunda viagem. Saiu de Belém junto com os florentinos André Corsali, Benedito Pucci e Rafael Galli. Nos últimos dias de Setembro, a frota entrou em Goa. Dali, a 15 de Novembro, escreveu uma carta, na qual exprimia o seu desejo de seguir rumo à China. De facto, no início de Maio de 1516, Empoli deixava a Índia para seguir rumo ao Extremo Oriente. Porém, no porto de Pisai, em Samatra, a nau onde tinha embarcado quase todas as mercadorias ardeu, acidente que abalou profundamente as suas finanças (a perda foi estimada em mais de cem mil ducados) e atrasou a sua partida para a China. Apenas a 17 de Junho de 1517 é que Empoli voltou a partir, integrando uma frota de oito embarcações comandada pelo capitão Fernão Peres de Andrade. A 4 de Julho de 1517, com a frota parada no porto de Singapura, João compilou o seu testamento. Pouco mais de um mês depois, chegavam Tun-men, porto vizinho de Cantão, onde se encontrava a frota de Duarte Coelho que chegara ali havia um mês. Após ficar decidido o prosseguimento da viagem, Empoli foi encarregue de ir junto das autoridades locais solicitar a autorização oficial para seguirem até Cantão. Após alguma pressão, a autorização foi concedida e, no final de Setembro, entravam em Cantão. As autoridades da região concordaram um encontro oficial com os recém-chegados e Empoli foi escolhido para chefiar a embaixada. Os resultados do encontro foram positivos e os chineses concordaram em preparar uma relação para ser enviada ao imperador. Entretanto, Empoli iniciara os primeiros contactos comerciais com a população e mercado locais. Porém, em Outubro de 1517, uma epidemia alastrou entre a tripulação da frota e, na sequência desta, João de Empoli faleceu. O seu testamento apenas foi aberto a 15 de Setembro de 1519. A figura de João de Empoli tem inspirado uma profícua produção bibliográfica. Pouco após a sua morte, o seu tio, Girolamo da Empoli, escreveu uma “Vita di Giovanni da Empoli, da che nasque a che morí”, a qual seria publicada em Livorno, em 1841, integrada na obra Vita del Pensiero Miscellanea di Letteratura e Morale. Posteriormente, outros autores têm-se dedicado ao estudo deste mercador florentino. Além da bibliografia apresentada, são de destacar ainda outros estudos: E. Masini, Giovanni da Empoli, mercante e viaggiatore, Empoli, 1929; G. Caraci, “Giovanni da Empoli. Un florentino alle Indie Orientali nel primo Cinquecento”, Le Vie del mondo, Novembre 1942, pp. 757-770; G. Lastraioli, “Spiriti avventurosi del Cinquecento. Giovanni da Empoli donó al Portogallo l’impero dei commerci com i paesi dell’Oriente”, La Navigazione, 29 Out. 1953. |
Bibliografia | |
Estudos: | António Alberto Banha de Andrade, Mundos Novos do Mundo. Panorama da difusão, pela Europa, de notícias dos Descobrimentos Geográficos Portugueses, 2 vols., Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1972, pp. 321-323, 763-767. Giuliano Bertuccioli, “Da Empoli, Giovanni”, Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 31, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1985, pp. 635-640. Gustavo Uzielli, Piero di Andrea Strozzi, viaggiatore fiorentino del secolo delle scoperte”. Separata de Memorie della Societá Geografica Italiana, Roma, 1895, passim. Hermann Kellenbenz, “The Portuguese Discoveries and the Italian and German Initiatives in the Indian Trade in the first two Decades on the 16th Century”, Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua Época. Actas, vol. III, Porto, Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1989, pp. 611-612, 620-621. Laurence A. Noonan, John of Empoli and his relations with Afonso de Albuquerque, Lisboa, Instituto de Investigação Científica e Tropical, 1989. Marco Spallanzani, Giovanni da Empoli. Un mercante fiorentino nell’Asia portoghese, Firenze, Edizioni SPES, 1999. Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, pp. 71-74. Rosa Figueiredo Perez, “João de Empoli”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. 1, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, p. 365. |