Projectos

Nome:FLORENTIM, Bartolomeu
Outros nomes:FLORENTIM, Bartolomeu de Jacome / VANNI, Bartolomeo di Iacopo di ser
Nascimento e morte:m. 1470
Descrição:Irmão de Giovanni di Iacopo di ser Vanni, Bartolomeu era um mercador florentino que, desde a década de 20 do século XV, se encontrava a comerciar em Lisboa. Ainda em Florença, casou-se com Mona Lixa e, em segundas núpcias, com Mona Angiola. Destes enlaces, foi pai de, pelo menos, duas filhas.
Um documento de 25 de Setembro de 1424 refere-o como mercador estante em Lisboa. Representante e procurador da companhia dos florentinos André e Eduardo Cambini, desde 1423, Bartolomeu era um intermediário entre as praças de Lisboa e da Flandres e entre os mercados de Roma e Florença, não só na transacção de mercadorias como também no negócio dos fretes e seguros marítimos.
Em 1432, Florentim comprava 300 moios de trigo ao abade de Alcobaça. Anos mais tarde, adiantava dinheiro a câmbio ao mesmo abade. A 2 de Agosto de 1447, passava uma quitação àquele mosteiro de 60 mil reais brancos, parte de uma dívida que tinha a receber. No mês seguinte, seria paga a outra parte da dívida, de cuja quitação foram testemunhas Cosme Boni e Pedro Moscini.
No final da década de 30, os negócios de Bartolomeu em Lisboa não estavam a passar por uma fase favorável. Afinal, numa carta que, a 28 de Janeiro de 1437, escreveu ao abade do mosteiro beneditino de Santa Maria de Florença, revelou ter perdido o interesse em permanecer na cidade portuguesa. Florentim queria regressar a Florença logo após a chegada do seu sócio, Carlos Morosini.
De facto, ainda nesse ano, Bartolomeu partiu para Florença. Não se sabe o tempo que teria permanecido naquela cidade. Porém, em 1443, já se encontrava novamente em Lisboa. A 16 de Junho daquele ano, recebia o exclusivo da pesca do coral nos mares portugueses durante 5 anos, em parceria com João Forbim de Marselha, tornando-se, assim, num pioneiro na prática desta actividade em Portugal. As cláusulas do contrato determinavam que, nos primeiros cinco anos, os dois sócios apenas pagariam metade da dízima a que eram obrigados, e, só depois, é que passariam a pagar a dízima na íntegra. A exportação do coral seria feita livre de direitos, tal como também estavam isentos os barcos, as redes e os aparelhos para a pesca. Mesmo após a morte de Florentim, o contrato do coral permaneceu, associando as participações dos Cambini de Florença, dos Guidetti de Lisboa, da companhia de Filippo Pierozi de Valença e de alguns portugueses.
Florentim encontrava-se também activo na área financeira. A 10 de Novembro de 1451, Bartolomeu passava uma letra de câmbio, no valor de cerca de cem mil reais, para ser paga, em Florença, a D. Afonso, marquês de Valença e conde de Ourém. No ano seguinte, por ocasião do casamento da infanta D. Leonor com Federico III, passou letras de câmbio a Lopo de Almeida, vedor da fazenda (uma de 1095 e outra de 1205 florins) e ao Dr. João Fernandes de Silveira.
No início da década de 50, Bartolomeu vendia grã de Sintra e couros da Irlanda, Lisboa e Coimbra para a Península Itálica. Em 1451, numa única operação, exportou trezentas libras de grã. Em 1453, participava numa transacção de couros no valor de 2554 florins, 11 soldos e 7 dinheiros. Noutra operação, o valor do couro exportado superou os 1130 florins.
Menos significativas eram as importações efectuadas por Florentim de peles de raposas, lobos marinhos, lontras e de outros animais. Importava também de Itália sedas, veludos, damascos, cetins, peças de ouro, brocados, livros, jóias e peças de arte.
Bartolomeu Florentim operava sozinho ou em sociedade com João Guidetti, sobretudo no negócio dos couros. No caso das operações de crédito e de câmbio, os seus parceiros eram Bartolomeu e Leonardo Lomellini, a companhia de Giovanni Biliotti (filial dos Cambini em Barcelona), Piero Francesco de Medici, Filipe e Federigo Centurione, entre outros. Em Bruges, tinha como intermediários as companhias de Antonio Rabatta e Lucha Capponi.
Bartolomeu mantinha negócios também com mercadores portugueses, como Fernando Anes e Álvaro Gonçalves, ambos do Porto, Fernando Soares, Diogo Gonçalves e João Martins. Eram seus clientes algumas figuras cimeiras da sociedade portuguesa. Além dos já mencionados, destacam-se: D. Álvaro Afonso, bispo do Algarve; D. Gonçalo Anes de Óbidos, bispo do Porto; Frei Luís Anes, abade de Castro de Vilares; Álvaro Pires, feitor do bispo de Coimbra; e Pedro Vasques, capelão do bispo do Porto.
Bibliografia
Estudos:Federigo Melis, “Di alcune figure di operatori economici florentini attivi nel Portogallo, nel XV secolo”, Fremde Kaufleute auf der iberischen halbinsel, Colónia, Böhlau-Verlag, 1970, p. 58.
Judite Maria Calado Damas, Italianos em Portugal nos séculos XIII a XV (1278-1460). Elementos para o seu estudo. Dissertação para Licenciatura em História apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, 1971, pp. 58-64.
Nunziatella Alessandrini, Na comunidade italiana os florentinos em Lisboa e a Igreja do Loreto (Subsídios para o seus estudo no século XVI). Dissertação de mestrado em Estudos Portugueses Interdisciplinares, 1º vol., Lisboa, 2002, pp. 114-118.
Idem, “A comunidade florentina em Lisboa (1481-1557), Clio, nova série – 9, segundo semestre de 2003, pp. 66-67.
Virgínia Rau, “Bartolomeo di Iacopo di Ser Vanni mercador-banqueiro florentino ‘estante’ em Lisboa nos meados do século XV”, Do Tempo e da História, IV, 1971, pp. 97-177.
Sousa Viterbo, “A Pesca do Coral no século XV”, Archivo Historico Portuguez, v. 1, 1903, pp. 315-316.