Projectos

Nome:GESIO, João Baptista
Outros nomes:GESIO, Juan Bautista
Nascimento e morte:Nápoles, século XVI – Lisboa ou Madrid ?, 14/9/1580
Descrição:Engenheiro militar, diplomata, homem de ciência, Gesio era uma figura polifacetada que, desde 1565, se encontrava ao serviço de Filipe II de Espanha. Era irmão de Pompeio Gesio.
Na corte espanhola, Gesio foi conselheiro político do rei. Em 1567, era encarregado do aprovisionamento da armada real em Santander.
João Baptista chegou a Portugal na embaixada de D. Juan de Borja, em 1569. Foi em Lisboa que revelou toda a sua polivalência. Baseando-se nos seus conhecimentos astrológicos, prognosticou a data da morte do cardeal D. Henrique. Redigiu também ensaios sobre a arte de governar, abordando conceitos como o de “Mundo Maior” e “Mundo Menor”, de “Macrocosmos” e “Microcosmos”.
Contudo, a principal missão de Gesio em Portugal era a de ser os olhos de Filipe II no reino. Para tal, recolheu uma colecção de roteiros, cartas geográficas, relações e descrições, os quais se mantiveram secretos no Conselho das Índias e que, actualmente, se encontram distribuídos entre o British Museum e a Biblioteca do Escorial.
Gesio redigiu uma memória, Da Fabrica que falece ha cidade de Lisboa, na qual expôs a sua opinião sobre as condições defensivas da cidade. O napolitano retratava Lisboa como uma cidade debilitada nas suas construções e propunha algumas soluções para incrementar as suas defesas.
Em 1573, estava de regresso a Espanha, acompanhando o embaixador Borja. Gesio continuou, então, com as suas funções de conselheiro. Frequentemente consultado em matérias cosmográficas, geográficas e militares, redigiu pareceres sobre temas tão diversos como a fortificação do Estreito de Magalhães ou o problema da fronteira do Peru. Inclusivamente, foi responsável pela elaboração de um projecto para a transferência de plantas de especiarias para as ilhas americanas, coordenado pelo Conselho das Índias.
Mesmo após ter partido de Portugal, Gesio continuou a ser um importante informador sobre o reino luso e as suas possessões ultramarinas. Para isso, contava com os contactos que mantinha com Luís Jorge de Barbuda, cartógrafo português que lhe fornecia mapas e outros documentos.
Em Setembro de 1578, Gesio redigia uma memória sobre a questão sucessória da coroa portuguesa, o Discorso sopra li modi e mezz q’han de tener pera la recuperatione del Regno di Portogallo, e in elle se avertiscono molte cose, o qual Joaquim Veríssimo Serrão transcreve parcialmente na obra citada na bibliografia. Gesio aconselhava Filipe II a tomar o trono português mesmo que para isso tivesse de usar da força militar. Também alertava para a necessidade de enviar a Portugal um embaixador que pressionasse o cardeal D. Henrique no que respeitava à nomeação do sucessor da coroa.
Em 1579, era novamente enviado a Lisboa. Destinado a acompanhar o duque de Osuna nas cortes, João Baptista não conquistou a sua confiança. Por outro lado, aproximou-se do embaixador D. Cristóvão de Moura, passando ao seu serviço com engenheiro e estratego militar. Recebeu, então, ordens para estudar as fortificações do porto de Lisboa. Assim, elaborou desenhos da Torre de Belém e da Torre de São Gião. Foi também autor de uma carta, a Descriptio de la Cità de Lisboa e del suo distrito, na qual anotou todas as fragilidades existentes na defesa da cidade e de um Discorso sopra i disegni degli nimici, a abordar o mesmo tema. Este foi um contributo precioso para a conquista de Lisboa pelas tropas de Filipe II.
Apesar de tais serviços prestados à coroa espanhola, Gesio faleceu na miséria.
Bibliografia
Estudos:Joaquim Veríssimo Serrão, Fontes de Direito para a História da Sucessão de Portugal (1580). Separata de Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra, 1960, pp. 65-68.
Pedro Longás y Bartibás, “Carta del astrólogo italiano Juan Bautista Gesio al Rey Felipe II”, Congresso do Mundo Português, volume VI, Lisboa, Comissão Executiva dos Centenários, 1940, págs. 169-72.
Sylvie Deswarte-Rosa, “De l’emblema à l’espionnage: autor de D. Juan de Borja, ambassadeur espagnol au Portugal”, As relações artísticas entre Portugal e Espanha na Época dos Descobrimentos, Coimbra, Livraria Minerva, 1987, pp. 150-168.
Ursula Lamb, Nautical Scientists and their clients in Iberia (1508-1624): Science from Imperial perspective. Separata de Revista da Universidade de Coimbra, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1984.