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Biografias

Abraham Mendes Seixas (I)

Nome:Abraham Mendes Seixas (I)
Outros nomes:António Mendes Seixas / Miguel Pacheco da Silva
Nascimento e morte:Celorico da Beira, c. 1681 – Londres, 1738
Descrição:A primeira notícia que encontramos sobre Abraham Mendes Seixas localiza-o em Londres em 1725. A bibliografia refere-o apenas como um mercador português cujo nome cristão seria Miguel Pacheco da Silva. Porém, o cruzamento de diferentes fontes permitiu-nos concluir que esse nome seria apenas um pseudónimo usado nos negócios que continuou a manter com os mercados ibéricos e que a sua verdadeira identidade corresponde à de António Mendes Seixas, mercador natural de Celorico da Beira que, a 22 de Agosto de 1703, foi preso pela Inquisição de Lisboa.
António Mendes Seixas nasceu numa família de mercadores com origens no eixo Celorico, Covilhã e Guarda. Em representação dos negócios do pai Diogo Mendes, o jovem mercador viajava regularmente a outras cidades, sobretudo a Lisboa, onde tinha contas com grandes homens de negócio, quer estrangeiros como José Glurton e Manuel Bequer, quer cristãos-novos, entre eles José Nunes Chaves, os irmãos Gabriel e Manuel Lopes Pinheiro e o seu conterrâneo Francisco de Alfaro Vilhalva. Com eles, António trocava mercadorias e, alegadamente, também os ensinamentos da Lei Velha. Os seus negócios (e, por conseguinte, as suas denúncias) prolongavam-se também até ao Porto, Vila Nova de Gaia, Vila de Santa Marinha (Coimbra), Viseu e a Guarda.
O processo de António Mendes Seixas foi relativamente curto, tendo saído reconciliado no auto da fé de 20 de Outubro de 1704, sentenciado a cárcere e hábito penitencial perpétuos. Logo a 8 de Novembro, recebeu termo de ida e penitência e, pouco depois, regressava a Celorico.
A 23 de Abril de 1706, António casava-se com a prima afastada Beatriz Mendes da Silva. O casal seria já então pai de uma menina, Ana, visto que Beatriz estava em final da gravidez quando se apresentou perante a Inquisição de Coimbra a 27 de Novembro de 1705.
Foi nos anos seguintes ao casamento que António se estabeleceu com a família em Lisboa. Sabemos que a 27 de Novembro de 1707 ainda residia em Celorico da Beira, tendo sido então padrinho de um baptismo. Como o seu nome não aparece no rol de confessados da paróquia de Santa Justa senão em 1709, julgamos que foi por volta desse ano que chegou a Lisboa. Então nascia mais um filho do casal, Rafael.
António estabeleceu a sua residência na Rua da Tarouca, na freguesia de Santa Justa. Ali acolhia alguns parentes que passavam por Lisboa, como os enteados Pedro Vaz da Silva e Leonor Mendes (filhos do primeiro casamento de Beatriz Mendes da Silva com Tomé Vaz) ou o sobrinho da sua esposa Manuel Henriques da Silva.
Dedicava-se então aos contratos com a coroa, estando possivelmente envolvido no negócio do tabaco, e mantinha sociedade com um outro cristão-novo, Rodrigo Álvares Corcho. Problemas inerentes a esta sociedade, bem como a ameaça da Inquisição, teriam levado António a ausentar-se de Lisboa entre 1714 e 1718, deixando, porém, a família na cidade. Em 1719, já estava de regresso à sua casa na Rua da Tarouca, mas não por muito tempo. Pouco antes de 1725, ele, a esposa e os seus três filhos (entretanto havia nascido mais uma menina, Rosa) ausentaram-se de Lisboa definitivamente.
O destino da família Mendes Seixas foi Londres. A documentação indicia que António seria o mesmo Abraham Mendes Seixas que, a 8 de Abril de 1725, se casava com Abigail Mendes Seixas na congregação Bevis Marks. Abigail corresponderia ao nome que Beatriz Mendes da Silva adoptara ao aderir publicamente ao Judaísmo. O casamento que aparece nos registos da sinagoga londrina seria a celebração, pelo ritual judaico, de uma união que já tinha vários anos e três frutos: Ana, Rafael e Rosa, a partir de então conhecidos pelos nomes judaicos de Judith, Isaac e Rebecca Mendes Seixas.
Poucos anos após a sua chegada a Londres, Abraham era já um importante membro da congregação sefardita de Londres. Entre 1730 e 1735, integrou o Mahamad da Bevis Marks. Além da posição de relevo que usufruía junto dos seus pares, Abraham também conseguiu angariar uma considerável fortuna, fruto dos negócios que mantinha em Inglaterra e nas colónias britânicas na América, nomeadamente com a Jamaica e Nova Iorque, mas também com Portugal.
Abraham passou os seus últimos anos de vida na freguesia de St. Dunstan Stepney, em Middlesex. Viver fora da cidade, em grande propriedades rurais, tornara-se então uma tendência entre a elite judaica de Londres que tentava, assim, aproximar-se de um estilo de vida associado à aristocracia britânica.
Foi na sua casa em Middlesex que Abraham assinou o seu testamento a 6 de Março de 1738, cerca de um mês antes do seu falecimento. A esposa havia já falecido e foram os filhos e genros os únicos herdeiros, exceptuando o caso de uma Esther da Silva que vivia casa de Abraham mas cuja ligação a ele não é clara. A Esther, deixou £50 e todas as roupas que tinha em uso. O mesmo montante foi atribuído ao filho primogénito Isaac, junto com uma anuidade no valor de £30 a ser administrada pelos executores do testamento, os genros Rodrigo Pacheco e Daniel Mendes Seixas, maridos de Judith e Rebecca, respectivamente. As razões que levaram Abraham a penalizar assim o seu único filho varão não aparecem, porém, especificadas no testamento.
O seu corpo foi sepultado no cemitério novo da congregação.




Bibliografia
Estudos:Carla Vieira, "Abraham Before Abraham, Pursuing the Portuguese Roots of the Seixas Family", American Jewish History, vol.99, nr. 22, April 2015, pp. 145-165.
Cecil Roth, A History of the Jews in England, Oxford, Clarendon Press, 1942.
David de Sola Pool, Portraits Etched in Stone. Early Jewish Settlers 1682-1831, New York, Columbia University Press, 1952, pp. 346, 467.
Malcolm Stern, First American Jewish Families: 600 Genealogies, 1654-1988, Baltimore, Ottenheimer Publishers, 1991, p. 263.




Fontes:ANTT, Chancelaria de D. João V: Doações, Ofícios e Mercês, liv. 36, fol. 264v.
ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. 13252 (António Mendes Seixas).
The National Archives, Records of the Prerrogative Court of Canterbury, PROB 11/689/18 (Testamento de Abraham Mendes Seixas).
“Items relating to the Seixas family, New York”, Publications of the American Jewish Historical Society, no. 27, 1920, pp. 346, 350-353, passim.




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