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Biografias
Gershom Mendes Seixas
Nome: | Gershom Mendes Seixas |
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Nascimento e morte: | Nova Iorque, 14/01/1745 – Nova Iorque, 02/07/1816 |
Descrição: | De acordo com um registo patente na Bíblia que a mãe lhe ofereceu aos dois dias de vida, Gershom teria nascido às 4.20 da madrugada do dia 14 de Janeiro de 1745. Educado na escola da Shearith Israel, uma das figuras que teve maior importância na sua formação religiosa foi Joseph Jessurun Pinto, natural de Amesterdão e hazzan da comunidade de Nova Iorque entre 1759 e 1765. Foi ainda bastante jovem que Gershom começou a destacar-se na defesa dos interesses da comunidade de Nova Iorque. Em 1764, assinava uma petição contra a lei que impunha que todos os edifícios situados em South of the Fresh Water, no extremo norte da cidade (local onde se situava o cemitério judaico), deveriam ser construídos em tijolo ou pedra e cobertos com telhado de ardósia ou metal. Quatro anos depois, no Verão de 1768, Gershom foi eleito por unanimidade hazzan da congregação Shearith Israel. Aos 23 anos, tornava-se assim no primeiro ministro judeu nascido em solo americano. Recebia então um salário anual de 80 libras, o qual foi aumentado para 120 libras em 1775. Nesse mesmo ano de 1775, a 6 de Setembro, Gershom casou-se com Elkalah (ou Elkaley) Myers Cohen, filha única de Abraham e Sarah Myers Cohen. O casal teve quatro filhos – um deles, Isaac, morreu ainda na primeira infância, enquanto que os outros três ficaram órfãos de mãe em 1785. Gershom voltou a casar em 1786, então com Hannah Manuel, com quem teria mais doze filhos. Durante a Revolução Americana, Gershom revelou-se um acérrimo apoiante da causa patriota. Perante o desembarque dos militares britânicos comandados por Lord Howe na baía de Nova Iorque, em Agosto de 1776, e após consultar os membros da congregação, Gershom decidiu fechar as portas da Shearith Israel e abandonar a cidade. Num sermão comovente, anunciou que aquele era o último serviço que celebrava na sinagoga. Assim, a 22 de Agosto, Gershom partiu para o Connecticut com o irmão Benjamin, a mulher e o filho Isaac, então com apenas algumas semanas de vida. Levou consigo a Torah e os restantes objectos litúrgicos da congregação nova-iorquina. Cinco dias depois, a 27 de Agosto, George Washington mandava evacuar a cidade depois de perdida a batalha de Long Island. Porém, a Shearith Israel não chegou a encerrar completamente os seus serviços. Embora de forma irregular, estes continuaram a ser assegurados por Isaac Touro de Newport e Jacob Raphael Cohen de Montreal. Entre 1776 e 1780, Gershom viveu em Stratford, onde se dedicou ao comércio. Foi nesta cidade que viu nasceu a filha Sarah Abigail, futura esposa do mestre asquenazita Israel Baer Kursheedt. Além dos irmãos Mendes Seixas, também seguiram para o Connecticut outros membros da elite judaica de Nova Iorque, como Samson Mears, Myer Myers, Manuel Myers, Solomon Simson, Solomon Hays ou Judah Hays. Em Stratford, Gershom e Benjamin encontraram o pai, o qual havia igualmente encontrado refúgio naquela cidade. A sua estadia em Stratford só foi interrompida ocasionalmente por dois regressos temporários a Nova Iorque, ambos para celebrar casamentos: o de Samuel Lazarus com Fannie Cushell, em Março de 1777, e o de Alexander Zuntz e Rachel Abrahams em 1779. Nesse mesmo ano, Gershom viajou até Filadélfia para oficializar o casamento do irmão Benjamin com Zipporah Levy. Regressaria à cidade no ano seguinte, então de forma mais permanente. Possivelmente, Gershom teria recebido um convite da comunidade judaica que se estabelecera em Filadélfia durante a Revolução e que ambicionava criar uma nova congregação. Dando uso aos objectos litúrgicos que trouxera da Shearith Israel, Gershom começou a presidir aos serviços celebrados numa pequena sinagoga improvisada num edifício em Cherry Alley. Só mais tarde, em 1782, seria erigida a sinagoga Mikveh Israel na Cherry Street. Foi Gershom quem conduziu a cerimónia de lançamento da primeira pedra da nova sinagoga, a 10 de Junho. Três meses depois, a 13 de Setembro, era inaugurada. No discurso de consagração da nova sinagoga, Gershom abençoou os feitos dos patriotas e pediu a protecção divina para o General Washington e para o Congresso Continental. Durante o tempo que permaneceu em Filadélfia, Gershom empenhou-se na defesa da liberdade religiosa. Em 1783, ao lado do parnas Simon Nathan e de Asher Myers, Bernard Gratz e Haym Salomon, o hazzan assinou uma petição para que a Constituição da Pensilvânia fosse alterada no que respeitava à obrigatoriedade do juramento sobre o Antigo e o Novo Testamento para todos os que eram eleitos e tomavam assento na Assembleia. Gershom e os outros signatários consideravam tal exigência injusta e excludente de quem, como os judeus, também servira a causa patriota. Após o abandono de Nova Iorque por parte das tropas britânicas, muitos judeus regressaram à cidade e quiseram reabilitar a congregação. Hayman Levy tomou a presidência da sinagoga e tentou convencer Gershom a voltar a Nova Iorque e às suas anteriores funções de hazzan. O sim não foi imediato. A 21 de Dezembro de 1783, Gershom escrevia a Levy, expondo uma série de condições, nomeadamente a aplicação de algumas reformas litúrgicas e administrativas e a garantia de um salário correspondente ao que recebia em Filadélfia. Tendo conseguido a anuência dos parnasim da Shearith Israel, Gershom pediu a resignação à Mikveh Israel a 15 de Fevereiro de 1784. Porém, os membros da congregação de Filadélfia mostraram-se inconformados, considerando demasiado repentina a decisão de Gershom. Só depois de ter sido nomeado um novo hazzan, Jacob Raphael Cohen, aconselhado pelo próprio Hayman Levy, é que Gershom regressou finalmente à sua cidade natal. Além do cargo de hazzan, Gershom também desempenhou as funções de professor, shohet e mohel. Aliás, durante muito tempo foi ele o único mohel da costa nordeste americana, empreendendo viagens a outras comunidades judaicas mais ou menos distantes, como Newport ou Montreal. Em 1793, Gershom assinou um contrato no qual se comprometia a organizar uma escola que ensinasse hebraico a crianças maiores de 5 anos. Quando a Polonies Talmud Torah School foi fundada 1802, Gershom passou a desempenhar a função de professor, a qual manteve durante apenas dois anos, ao fim dos quais saiu, sem chegar a um acordo com os administradores sobre o valor do seu salário. Como consequência, a escola foi encerrada e só voltou a abrir em 1808, com Emanuel Nunes Carvalho como professor. Mas a carreira de educador de Gershom não se limitou à comunidade judaica. Logo em 1784, o estado de Nova Iorque elegeu-o para integrar o quadro de regentes do Columbia College, recentemente promovido à categoria de universidade. Os laços com a instituição eram antigos. Afinal, ele estivera presente na sua fundação, ainda enquanto King's College. Os mesmos laços mantiveram-se por muitos mais anos. Só em 1815, e por razões de saúde, é que Gershom abandonou o cargo. A sua experiência no Columbia College, em permanente convívio e diálogo com indivíduos de outros credos, fortaleceu o seu espírito ecuménico. Gershom cultivava amizades nos círculos cristãos e era um convicto defensor da tolerância religiosa. Em 1813, perante a polémica suscitada pela publicação da obra de George Bethune English, The Grounds of Christianity Examined by Comparing the New Testament with the Old, a qual rejeitava o Cristianismo sustentando-se numa argumentação pró-judaica, Gershom fez questão de se afastar de qualquer posição anti-cristã. Mas a reputação conquistada entre os congéneres de outras religiões já se havia manifestado vários anos antes. Em 1789, Gershom foi um dos catorze líderes religiosos que participaram na cerimónia de nomeação de George Washington como presidente dos Estados Unidos. A notoriedade de Gershom dentro e fora da comunidade judaica foi reforçada pelos seus sermões. É de sua autoria o primeiro sermão pregado em inglês no jovem estado de Nova Iorque, no Dia de Acção de Graças de 1789. Anos mais tarde, a 9 de Maio de 1798, no dia designado pelo presidente como de humilhação nacional, Gershom pronunciou um sermão no qual tentou acalmar os receios de uma futura acção da França revolucionária sobre Nova Iorque. O mesmo acabaria por ser publicado ainda nesse ano: A discourse, delivered in the sinagogue in New York, on the ninth of May, 1798: observed as a day of humiliation [...], conformably to a recomendation of the President of the United States of America. Em manuscrito conservou-se o sermão que pregou a 19 de Dezembro de 1799, num momento em que Nova Iorque enfrentava as consequências do surto de febre amarela que assolara a cidade no ano anterior. Numa outra ocasião, a pedido do Common Council, Gershom dissertou em prol da colecta de fundos destinados à assistência de 12 mil pessoas da parte noroeste do estado de Nova Iorque que haviam fugido de um ataque índio. Estes e outros exemplos demonstram um pensamento marcado pela conjugação de elementos religiosos judaicos com uma filosofia social e política na senda por princípios iluministas. Segundo Gershom, era obrigação de todos os judeus, enquanto povo escolhido, zelar pelo bem do Estado através das suas orações e das suas boas obras. E ele próprio dava o exemplo. Gershom chegou a servir como administrador da instituição filantrópica New York Humane Society e, em 1802, tornou-se no primeiro presidente da sociedade mortuária Hebra Hased Ve Amet. Thomas Kessner sublinha igualmente como a herança marrana de Gershom e a sua relação estreita com meios cristãos se encontra patente nos seus escritos, em particular na terminologia usada, ao aplicar conceitos oriundos ou mais comuns no Cristianismo. Por outro lado, a obra do hazzan é igualmente reveladora dos contactos que mantinha com judeus asquenazitas, então já maioritários na comunidade de Nova Iorque. A vida de Gershom Mendes Seixas chegaria ao termo às nove da manhã de terça-feira, 2 de Julho de 1816. Em sua honra, a sinagoga cobriu-se de negro durante 30 dias. O corpo do hazzan foi sepultado no cemitério de Chatham Square. |
Bibliografia | |
Estudos: | Alan D. Corré, “The Sephardim of The United States of America”, The Sephardi Heritage. Essays on the history and cultural contribution of the Jews of Spain and Portugal, vol. II, Grendon, Northants, Gilbraltar Books, 1989, pp. 392 e 409. David de Sola Pool, Portraits etched in stone. Early jewish settlers 1682-1831, Nova Iorque, Columbia University Press, 1952, pp. 344-375. Idem, “Gershom Mendes Seixas’ Letters, 1813-1815, to his daughter Sarah (Seixas) Kursheedt and son-in-law Israel Baer Kursheedt”, Publications of the American Jewish Historical Society (1893-1961), n.º 35, 1939, pp. 189-206. Fritz Hirschfeld, George Washington and the Jews, Newark, University of Delaware Press, 2005, pp. 70 e 134-135. Howard B. Rock, City of Promises. A History of the Jews of New York, vol. 1: Haven of Liberty. New York Jews in the New World, 1654-1865, New York, New York University Press, 2012, pp. 139-146, passim. Jacob Rader Marcus, The Jew and the American Revolution. A Bicentennial Documentary”, American Jewish Archives, vol. 27, no. 2, 1975, pp. 214-217. Kenneth Libo e Abigail Kursheedt Hoffman, The Seixas-Kursheedts and the Rise of Early American Jewry, New York, Bloch Publishing Company, 2001, pp. 1-24. Leo Hershkowitz, “Seixas”, Encyclopedia Judaica, Jerusalém, Keter Publishing House, 1971, cls. 1116-1117. Leon Hühner, “Jews in connection with the colleges of the thirteen original states prior to 1800”, Publications of the American Jewish Historical Society (1893-1961), n.º 19, 1910, p. 119. Malcolm Stern, First American Jewish Families: 600 Genealogies, 1654-1988, Baltimore, Ottenheimer Publishers, 1991, pp. 141, 223 e 263-264. N. Taylor Phillips, “The Levy and Seixas Families of Newport and New York”, Publications of the American Jewish Historical Society (1893-1961), n.º 4, 1896, pp. 189-214. Idem, “Rev. Gershom Mendez Seixas: 'The Patriot Jewish Minister of the American Revolution'”, American Jewish Yearbook, 1904-05, pp. 40-51. Sabato Morais, “Mickvé Israel Congregation of Philadelphia”, Publications of the American Jewish Historical Society (1893-1961), n.º 12, 1904, pp. 13-24. Samuel Oppenheim, “The Jews and Masonry in the United States between 1810”, Publications of the American Jewish Historical Society Quaterly, no. 19, 1910, pp. 42-43. Sandra Cumings Malamed, The Jews in Early America. A chronicle of good taste and good deeds, Mckinlyville, Fithian Press, 2003, pp. 119-122. Thomas Kessner, “Gershom Mendes Seixas: His Religious “Calling”, Outlook and Competence”, American Jewish Historical Quaterly, n.º 58, Set.1968-Jun.1969, pp. 445-471. |
Fontes: | “The Earliest Extant Minute Books of the Spanish and Portuguese Congregation Shearith Israel in New York, 1728-1786”, Publications of the American Jewish Historical Society, no. 21, 1913, pp. 100-101, passim. “Items relating to Gershom M. Seixas”, Publications of the American Jewish Historical Society, no. 27, 1920, pp. 126-143. “Items relating to the Seixas family”, Publications of the American Jewish Historical Society, n.º 27, 1920, pp. 161-174. Leon Hühner, “Items Relating to Congregation Shearith Israel, New York”, Publications of the American Jewish Historical Society, no. 27, 1920, pp. 52-54, passim. |
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