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Biografias

Diogo José Ramos

Nome:Diogo José Ramos
Outros nomes:Diogo Lopes Ramos, Diego José Lopez Ramos
Nascimento e morte:Osuna, c. 1680 - Portugal?, d. 1746
Descrição:Filho de Jerónimo Lopez Ramos e de Ana Margarida de Carvajal, Diogo José Ramos nasceu no seio de uma família de homens de negócio castelhanos que, a partir de inícios do século XVIII, viu parte dos seus membros atravessar a fronteira e estabelecer-se em solo português.
Grande parte das informações que temos sobre o percurso de vida de Diogo José Ramos provêm do processo inquisitorial que lhe foi movido em 1720 pela Inquisição de Évora e, posteriormente, transferido para a jurisdição da Inquisição de Lisboa. Na sua origem esteve uma denúncia do Dr. Francisco de Sá de Mesquita, médico de Beja que o enquadrou num grupo de perto de cem cristãos-novos que teriam participado de cerimónias judaizantes em conjunto. A esta acusação juntaram-se outras mais, inclusivamente oriundas da Inquisição de Granada, bem como os testemunhos de guardas e alcaides sobre alegados jejuns judaicos praticados no cárcere.
Interrogado pelos inquisidores, Diogo começou por referir que havia nascido em Saragoça e que não tinha sido criado pelos pais, os quais morreram quando ainda era criança de pouca idade. Logo que ficou órfão, fora enviado para Madrid, onde cresceu em casa de mercadores.
Porém, a versão de Diogo José Ramos sobre os seus primeiros anos de vida acabou por colher pouco crédito junto dos inquisidores. Estes tentaram apurar a verdade, buscando o seu registo de baptismo em Saragoça, embora sem sucesso. Posteriormente, foi apurado que Diogo era natural de Osuna. Porém, Diogo continuou a aludir uma desvinculação face aos progenitores (sem que fosse apresentada qualquer justificação) , inclusivamente quando começou a confessar, em Setembro de 1723. Então, afirmou que, quando ainda era criança, o seu pai o levara da vila de Ledesma, termo de Salamanca, para Mogadouro, onde conheceu um homem de negócio que tinha estado em Livorno, Manuel Videira Vidal, o qual o iniciou na “crença na Lei de Moisés”. Porém, quando Diogo refere este episódio, acrescenta que até àquele tempo, Jerónimo Lopes não o reconhecia por filho, “por não saber que era seu filho, ainda que o suspeitava”. Contudo, ao longo das várias sessões de interrogatório a que foi sujeito, Diogo acabou por revelar uma maior proximidade à família paterna e materna, alegando encontros e a partilha clandestina da sua crença com vários parentes.
Foi com 11 ou 12 anos de idade que Diogo se estabeleceu em Portugal, mais exactamente em Vila de Frades, no Alentejo. Ali viria a casar-se com Rosa Margarida a 26 de Maio de 1699, também ela oriunda de uma família castelhana que se estabelecera em Portugal, os Rivera de Sevilha. Rosa Margarida foi também presa pela Inquisição de Évora um dia após o marido. Já então de saúde frágil, não resistiu ao cárcere e faleceu a 5 de Outubro de 1722, antes do processo chegar ao seu termo.
Diogo chegou a desempenhar as funções de secretário e escrivão ao serviço do Marquês de Nisa e do Conde da Vidigueira e, em 1703, era escrivão do judicial em Vila de Frades. Porém, foi no âmbito dos negócios que angariou fortuna e fama. Desde 1716, era administrador do contrato do tabaco nas comarcas de Beja e Campo de Ourique e, ao longo do seu processo inquisitorial, são inúmeras as referências a contratos e rendas arrematadas, como as do cabido de Évora ou a comenda de Santiago em Beja. Além disso, todo o processo revela o quão próximo era da elite mercantil cristã-nova não só do Alentejo, como também de Lisboa e mesmo do Porto, onde viviam os parentes Lopes Pereira/Aguilar.
A 10 de Outubro de 1723, Diogo saiu em auto da fé e ouviu a sua sentença: cárcere e hábito penitencial perpétuos e sem remissão e degredo de cinco anos nas galés. Na esperança de ver comutada a pena de degredo, continuou a denunciar outros cristãos-novos, entre os quais vários parentes. Porém, a sua reputação profissional, maculada por suspeitas de falsificações em contratos do tabaco, contribuiu para que a comutação de pena desejada não lhe fosse concedida. Já sujeito a trabalhos forçados nas galés, Diogo endereçou uma carta ao Tribunal do Santo Ofício, dizendo-se gravemente enfermo e suplicando licença para se curar em terra. A autorização foi concedida e, no Verão de 1724, Diogo foi convalescer para Sintra, onde ficou na casa de José António Lopes, estanqueiro de tabaco e primo direito da sua falecida esposa. Pouco depois, a filha Ana Maria Rosa também se mudou para Sintra e passaram a viver juntos.
Ana Maria Rosa era a filha mais velha de Diogo e também ela estivera presa na Inquisição de Lisboa entre 1723 e 1724, tal como o seu marido, o Dr. Miguel Lopes Pereira. Os irmãos, alguns deles ainda muito novos, conseguiram escapar à prisão: Isabel Maria Rosa, que se casou em Castro Marim com Manuel Freire em 1725 e fixou residência em Santiago do Cacém, José (Vila de Frades, 1706 – Newport, 1767), Jerónimo (n. Vila de Frades, 1711) e Miguel (Vila de Frades, 1713 – Newport, 1775). Após reconciliada com cárcere e hábito penitencial perpétuos em Março de 1724, Ana Maria conseguiu convencer os inquisidores a comutarem-lhe o cárcere para Santiago do Cacém. No Verão desse ano, já estaria em Sintra. As consequências da prisão teriam sido mais nefastas para o marido, que saíra dos cárceres louco.
Argumentando com a sua doença e a falta de meios de sustento da sua família na sequência das prisões e da insanidade do genro, Diogo pediu que lhe fosse dada nova licença para sair da corte de Lisboa, rumo a “onde mais comodamente se possam reparar das misérias que padecem”. A licença foi prorrogada.
Findo o processo, pouco mais sabemos sobre o resto da vida de Diogo José Ramos. Em 1726, estaria a viver em Faro, onde administrava os contratos do tabaco da comarca. Por volta desta altura, Diogo casou-se novamente, embora não se conheça a identidade da noiva. Em 1731, era novamente pai de um rapaz, a quem deu o nome de Duarte. Mais dois filhos nasceriam deste segundo enlace: Gabriel e Henrique Lopes. O destino dos três não seria continuar em Portugal. Primeiro Duarte e, depois, Gabriel e Henrique, seguiram os passos do meio-irmão José Lopes (alias Moses Lopez) e rumaram à América do Norte, onde abraçaram publicamente a fé judaica e adoptaram os nomes judaicos Aaron, David e Moses, respectivamente.





Bibliografia
Estudos:Stanley F. Chyet, Lopez of Newport: Colonial American Merchant Prince, Detroit, Wayne State University Press, 1970, pp. 197-199.
Rui Miguel Faísca Rodrigues Pereira, "«Several other near connections of the Lopez name». As origens ibéricas de Aaron Lopez e Jacob Rodriguez Rivera", Raízes & Memórias, n.º 21, Dezembro 2005, pp. 103-126.
Idem, "The Iberian Ancestry of Aaron Lopez and Jacob Rodriguez Rivera of Newport", Rhode Island Jewish Historical Notes, vol. 14, n.º 4, 2005, pp. 559-580.






Fontes:Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, processos n.º 683, 1647 e 2400.
Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Évora, processo n.º 6367.






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