Projectos
Nome: | SABÓIA, Margarida de |
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Nascimento e morte: | Sabóia, 28/4/1589 – Miranda (Espanha), 25/6/1655 |
Descrição: | Quarta filha de Carlos Manuel I e de D. Catarina de Habsburgo, Margarida de Sabóia ocupou o vice-reinado de Portugal entre os anos de 1634 e 1640. Porém, esta não foi a sua primeira experiência política. Desde cedo que lhe foram atribuídos cargos de alta responsabilidade. Em 1603, quando o pai seguiu para Nizza, acompanhando três dos seus filhos que partiam para Espanha, foi à princesa que confiou a regência do reino. No ano seguinte, iniciavam-se as negociações para o seu casamento com Francesco Gonzaga, príncipe de Mântua. Este matrimónio colidia com os interesses de Espanha que pretendia a união de Margarida com o imperador. Porém, a 10 de Março de 1608, o casamento era concluído em Turim e, quatro anos mais tarde, após a morte de Vincenzo I, Margarida tornava-se duquesa de Mântua e Monferrato. Nesse mesmo ano de 1612, enviuvou e a sucessão do ducado passou para o seu cunhado, o cardeal D. Fernando. Tal gerou um confronto que apenas terminou em 1631, com a assinatura do tratado de Cherasco e o empossamento dos Gonzaga-Nevers. A sua filha, Maria, acabaria por se casar com Carlo Gonzaga-Nevers. Em Agosto de 1633, Margarida era enviada para França, estabelecendo-se em Pavia. No ano seguinte, Filipe IV nomeava-a vice-rei de Portugal. Essa nomeação justificou-se pela consanguinidade da duquesa com a casa de Bragança – as suas avós paterna e materna eram princesas portuguesas. A 10 de Novembro de 1634, encontrava-se já em Madrid, onde, acompanhada pelo duque de Olivares, foi recebida pelo monarca. No final do mês, abandonava aquela cidade, rumo a Portugal. Antes de partir, o rei concedeu-lhe 8 mil escudos de ouro para as despesas de viagem. Pelo título de vice-rei, Margarida recebia uma provisão anual de 25 mil escudos. Chegou a Portugal já em 1635. Embora tenha sido inicialmente bem acolhida pelo povo português, cedo percebeu as dificuldades que assombravam o cargo para o qual fora nomeada. Muitos eram os obstáculos ao exercício da sua autoridade. Como refere António de Oliveira, Margarida de Sabóia fora colocada em Portugal para vice-reinar e não para governar. As instruções secretas redigidas em nome do Conselho de Estado colocavam o poder efectivo nas mãos dos ministros adjuntos: o marquês de Puebla, conselheiro de Estado e governador da Fazenda de Castela, e Gaspar Ruiz Escaray, secretário de Estado do Conselho de Guerra. Escaray era também o secretário da vice-rei, enquanto que o marquês de Puebla estava encarregue da superintendência da sua casa. Todas as acções da princesa ficavam, assim, sob a estreita vigilância destas duas personalidades. A questão tributária foi o problema central do vice-reinado de Margarida de Sabóia. Aliás, as instruções secretas que lhe foram dadas em Madrid definiam como principais objectivos a obtenção de uma renda fixa e a defesa e recuperação do Brasil. Margarida era igualmente instruída para pressionar os ministros portugueses a aceitarem a imposição de um aumento tributário, factor determinante para a concretização das metas traçadas. O acréscimo da carga fiscal e a impopularidade dos ministros suscitaram a revolta popular, emergente um pouco por todo o reino. Margarida de Sabóia tentou desempenhar um papel moderador. Ao constatar as irregularidades cometidas por D. Miguel de Vasconcelos e por outros oficiais do governo, a vice-rei endereçou algumas cartas a Madrid onde denunciava tais problemas e avisava para o perigo da perda do reino caso esses não fossem devidamente solucionados. Assim, pedia a D. Filipe III que impusesse limites aos seus ministros e lhes aconselhasse uma maior benevolência para com o povo português. Quando, em 1636, foi decretado o imposto da quinta (5% sobre os rendimentos e mercadorias), a intervenção de Margarida foi fundamental para moderar os ânimos no litoral sul de Portugal, então à beira da revolução. Os seus alertas caíram na indiferença. Os ministros de Filipe III intensificaram a intimidação do povo português, algo particularmente evidente na parada militar em Lisboa a 8 de Abril de 1639. A indignação de Margarida para com D. Miguel de Vasconcelos também recrudescia. Todos os despachos que a vice-rei emitia para Madrid acabavam por ir ter às suas mãos. Este clima animoso deu lugar à acção dos revoltosos. As previsões de Margarida confirmaram-se e ela própria acabaria por sofrer as consequências da revolução. A 1 de Dezembro de 1640, um grupo de revolucionários invadiu o Paço da Ribeira e fez prisioneiros vários elementos do séquito da vice-rei, nomeadamente o marquês de Puebla, D. Didaco Cardenas, D. Fernando de Castro e o conde de Barnette, seu mordomo. Também Margarida foi feita prisioneira no interior do paço. Apenas acompanhada por D. Ludovico de Almada, recolheu-se na capela. Quando D. João IV foi proclamado rei, a 4 de Dezembro, Margarida recebeu ordens para abandonar o palácio para o novo soberano. A pé, acompanhada pelo seu séquito, atravessou a cidade de Lisboa, em direcção à casa real de Xabregas. Foi ali que se instalou, tendo-lhe sido concedida uma companhia de duzentos soldados para sua guarda. Poucos meses depois, o monarca mandou-a em liberdade para Castela, escudada por alguns cavaleiros. Uma conjura arquitectada pelo arcebispo de Braga, visando o seu regresso ao trono português, provou o quanto perigosa poderia ser a sua presença em Portugal. Atravessada a fronteira, Margarida quis dirigir-se a Madrid para ser recebida pelo rei. O conde-duque de Olivares tentou impedir o contacto da duquesa com o monarca, obrigando-a a permanecer em Mérida. Incapaz de suportar as condições climáticas da cidade, Margarida adoeceu. Só após várias súplicas dirigidas à corte madrilena é que obteve autorização para se transferir para Occanga, onde acabou por recuperar parte das suas forças. As profundas dificuldades financeiras por que passou levaram a que o seu mordomo tivesse de mendigar o seu sustento entre as casas e os conventos da região. A 3 de Janeiro de 1642, Margarida fugia de Occanga sem informar o governador, cúmplice de Olivares. Chegou a Madrid e, através da intercessão da rainha, foi recebida sigilosamente por Filipe IV. O monarca concedeu-lhe vários privilégios, entre os quais o governo da cidade de Vigevano, uma provisão de 36 mil ducados de prata anuais e 50 mil ducados para a sua viagem de regresso a Itália. Acompanhada pelo rei até Fonte Castigliana, Margarida abandonou Madrid a 5 de Julho de 1655. Perto de Miranda, a viagem foi interrompida, dada a precariedade da sua saúde. Foi chamado o alcaide do lugar e Margarida confirmou o seu testamento, já elaborado em 1652. Os seus restos mortais foram levados para Burgos, em cortejo solene, e depositados no mosteiro de Las Vuelgas. |
Bibliografia | |
Estudos: | Alberto Sonnaz, Relazioni fra il reali di Savoia ed i reali di Portogallo. Gli italiani in Lusitania nei secoli scorsi (1146-1849), Torino, Fratelli Bocca, 1908, pp. 37-43. António de Oliveira, Poder e Oposição Política em Portugal no Período Filipino (1580-1640), Lisboa, Difel, 1990, pp. 144-159, passim. Fernando Bouza, Portugal no tempo dos Filipes: política, cultura, representações (1580-1668), Lisboa, Cosmos, 2000. Francesco Cognasso, “Le Realazioni tra lo Stato Sabaudo ed il Portogallo nei secoli XVI e XVII”, Relazioni Storiche fra l’Italia e il Portogallo. Memorie e Documenti, Roma, Reale Accademia d’Italia, 1940, pp. 435-437. Romolo Quazza, Margherita di Savoia. Duchessa di Mantova e Vice-Regina del Portogallo, Torino, G. B. Paravia, 1930. |