Projectos
Nome: | SASSETTI, Filippo |
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Nascimento e morte: | Florença, 24 ou 26/9/1540 - Goa, 3/9/1588 |
Descrição: | Erudito e mercador, Filippo era oriundo de uma família nobre florentina. O seu brasão era um escudo prateado cortado por uma banda azul perfilada de ouro. Desde cedo, Sassetti conciliou os estudos humanísticos com a actividade comercial. Porém, já na idade adulta, a sua carreira de mercador passou para segundo plano. Em 1568, entrava na Universidade de Pisa e, seis anos mais tarde, na Academia Florentina. Apoiado na sua experiência mercantil, em 1577, foi convidado a redigir um discurso relativo ao trato praticado entre Florença e os portos levantinos. O resultado foi um Raggionamento Sopra il Commercio tra i Fiorentini e i Levantini, dirigido a Francesco Bongianno Gianfigliazzi. As dificuldades financeiras da sua família levaram Filippo a regressar à actividade comercial. Em Abril de 1578, partia para Sevilha. Porém, foi em Lisboa que acabou por se estabelecer. A 10 de Outubro daquele ano, escrevia uma missiva a Baccio Valori, de Florença, a transmitir as primeiras impressões sobre a cidade. Sassetti era agente da companhia dos Capponi, operando entre Lisboa, Sevilha e Madrid. Na capital portuguesa, o florentino começou a tomar contacto com alguns autores portugueses. Aliás, nutria particular admiração por João de Barros. O autor das Décadas da Ásia teria contribuído para o aumento do seu interesse em partir rumo à Índia e ao lucrativo comércio ali praticado. Assim, a 6 de Abril de 1582, Sassetti zarpava de Lisboa rumo ao Oriente. Seguia como feitor do contratador João Baptista Rovellasco numa frota capitaneada por António de Melo e Castro. Porém, o navio em que seguia, o S. Filipe, ao se separar da restante frota, nunca chegou a atingir destino desejado. A 24 de Setembro daquele ano, Sassetti já se encontrava novamente em Lisboa, de onde remeteu uma outra carta a Baccio Valori. No ano seguinte, o mercador florentino empreendeu uma nova tentativa. A 8 de Abril de 1583, partia de Lisboa e, a 9 de Novembro, chegava a Cochim, após uma viagem inesperadamente longa e mortífera para uma boa parte da tripulação. Segundo uma carta escrita a Francesco Valori, a tripulação foi violentamente atingida por escorbuto, tendo morrido mais de cem homens na nau em que seguia. Em Cochim, Sassetti continuou a representar os interesses de Rovellasco. A sua correspondência é particularmente prolixa e rica em pormenores descritivos sobre o comércio indiano, as gentes e o próprio território. É o caso de uma carta remetida a D. Francisco de Médicis, a 20 de Janeiro de 1584, na qual o florentino, depois de informar o grão-duque da sua chegada a Cochim, mostrava as primeiras impressões sobre a costa indiana e enumerava algumas características da flora local, principalmente, das plantas de especiaria, além de apresentar uma completa descrição sobre a cidade. Nos anos em que esteve na Índia, Sassetti alternou a sua presença entre Cochim e Goa. Em Março de 1584, foi pela primeira vez a Goa, cidade que descreveu com grande pormenor numa missiva dirigida a Piero Vettori de 27 de Janeiro de 1585. A 6 de Janeiro de 1587, de Cochim, enviou, numa carta dirigida a Baccio Valori, um Discorso sopra il cinnamomo. Estas missivas revelam que Sassetti, além de um perspicaz mercador, era também um escritor bastante profícuo no campo epistolar. Tinha uma especial sensibilidade em adequar os conteúdos transmitidos aos interesses do remetente. Por exemplo, a Pedro Spina, cavaleiro de Malta e navegador experiente, Filippo enviava descrições pormenorizadas das viagens, tocando em questões de marinharia, enquanto que a Francesco Bonamici, professor em Pisa, debruçava-se, sobretudo, em pormenores de astronomia e metereologia. O interesse e a acutilância das observações de Sasetti eram particularmente evidentes nas informações comerciais que transmitia, descrevendo com grande pormenor os produtos transaccionados, os preços praticados e os lucros obtidos. Por outro lado, revelava também uma grande capacidade de observação das realidades indianas, abordando itens como o sistema de castas, o vestuário, a capacidade militar ou a religião. Além da produção epistolar, é também conhecida uma Vita de Francesco Ferrucci escrita por Sassetti. Em 1587, o florentino afirmava a sua intenção em partir da Índia logo que terminasse o contrato da pimenta de Rovellasco. Porém, revelava que não iria regressar a Lisboa sem antes ter ido a Malaca, Maluco, China, Manila e Nova Espanha. Possivelmente, Sassetti nunca teria chegado a concretizar esses planos visto que, logo no ano seguinte, faleceu em Goa. |
Bibliografia | |
Estudos: | Afonso Eduardo Martins Zúquete, Armorial Lusitano. Genealogia e Heráldica, Lisboa, Representações Zairol, 1961, p. 494. Carlos Passos, Relações Históricas Luso-Italianas. Separata de Anais da Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1956, p. 231. Carmen Radulet, “Os Italianos em Portugal”, Lisboa e os Descobrimentos, 1415-1580: A Invenção do Mundo pelos Navegadores Portugueses. Direcção de Carlos Araújo, Lisboa, Terramar, 1992, pp. 116. Eugenio Camerini, Lettere di Filippo Sassetti corrette, accresciute e dichiarate con note aggiuntavi La vita du Francesco Ferrucci scritta dal medesimo Sassetti rivista ed emendata, Milão, Csa Editrice Sonzogno, 1880. José Manuel Garcia, “Filippo Sassetti”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, 2º vol., p. 974. J. Lúcio de Azevedo, “Viagens de um florentino a Portugal e à Índia (século XVI)”, Novas Epanáforas: Estudos de História e Literatura, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1932, pp. 97-135. Pierluigi Bragaglia, Os italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira). Tese de Laurea em História Moderna na Universidade dos Estudos de Bologna – Faculdade de Ciências Políticas, Bolonha, 1992, exemplar policopiado, p. 314-315. Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, pp. 149-150. |