Projectos

Nome:ADORNO, José
Outros nomes:ADORNO, Giuseppe
Nascimento e morte:Séc. XVI
Descrição:Irmão de Francisco, de Paulo e de Rafael Adorno, José era tio do jesuíta Francisco Adorno. Segundo o padre Vasconcelos, os irmãos Adorno eram membros de uma família nobre de Génova.
Alguma bibliografia aponta a Madeira como lugar de nascimento de José Adorno, porém, é mais provável que ele tenha nascido em Génova, tal como os seus irmãos. A família Adorno teria sido expulsa daquela cidade em 1528 devido à sua afinidade com algumas famílias judias. Aliás, alguma bibliografia atribui uma ascendência hebraica aos Adorno.
Segundo Elaine Sanceau, José Adorno teria passado a sua infância em França. Possivelmente, teria seguido depois para a Madeira, onde chegou a ser feitor de Bartolomeu Marchionni. Em 1533, já se encontrava no Brasil. Em Santos, junto com os irmãos, erigia o engenho de S. João, um dos três primeiros engenhos a ser construído na capitania de S. Vicente, junto com o de Martim Afonso de Sousa (engenho de Enguaguaçu ou do Governador) e o de Pero de Góis (engenho de Madre de Deus).
Numa das cartas do padre José de Anchieta, datada de 27 de Maio de 1563 e dirigida aos regedores das vilas da capitania de S. Vicente, Adorno era referido como capitão de um barco de cabotagem que comerciava ao longo da costa. Exactamente nesse ano, participou da expedição dos padres Anchieta e Manuel da Nóbrega durante o conflito dos tamoios. Aliás, era seu um dos dois navios que transportaram a comitiva. Porém, a sua actuação não se limitou ao transporte dos jesuítas, ele próprio teve um papel activo na negociação com os tamoios, tentando pacificar as relações entre o cacique Ambiré e os Portugueses. Nóbrega escolhera-o para aquela missão pela mútua amizade e confiança. Além disso, sendo genovês, mais fáceis seriam as negociações e o facto de ter sido educado em França captava as boas graças dos franceses no território.
Em 1565, José Adorno participava das obras da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Dois anos depois, teve um papel fundamental na expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, reunindo um exército armado praticamente à sua custa.
O seu património e a sua ligação à Companhia de Jesus no Brasil fomentou-se na sequência do seu casamento com D. Catarina Monteiro, filha do nobre Cristóvão Monteiro. Após a morte deste último, o casal herdou metade das terra de Guaratiba e de Guarapiranga, ficando a outra metade para a Companhia de Jesus. Pouco depois da escritura, Catarina e José Adorno doavam a sua parte também aos jesuítas, em troca de umas terras que tinham pertencido ao padre Fernão Luís Carrapeto na ilha de Santo Amaro, e de cerca de quarenta braças de terreno nos arredores de Santos. Porém, dada a desproporção da troca, eles ficaram com o estatuto de benfeitores perante a Companhia.
Adorno traduziu a sua devoção na construção de lugares de culto. Foi o fundador da capela de Nossa Senhora da Graça, em Santos, a qual doou aos frades carmelitas, a 24 de Abril de 1589, com a pensão de quatro missas rezadas nas festas do Nascimento, Purificação, Anunciação e Assunção de Nossa Senhora, além de uma missa cantada no dia do Orago da Igreja. Na ilha de Guaibe, Adorno também erigiu uma outra capela, em invocação a Santo Amaro. No seu testamento, impôs aos seus herdeiros a obrigação perpétua de conservarem esta capela, de manterem limpo o caminho de acesso e de mandarem dizer uma missa no dia do santo.
Antes de morrer, José Adorno doou alguns bens aos jesuítas e mostrou interesse em entrar na Companhia. Numa carta ao geral, datada de 1 de Janeiro de 1591, o padre Beliarte mencionava esse seu interesse, revelado após a morte da esposa, e pedia a licença para a sua integração na Companhia de Jesus, argumentando que Adorno tinha mais de 50 anos, sabia bem latim e aritmética e era homem de grande virtude. Porém, tal nunca teria chegado a acontecer.
Segundo a tradição, faleceu com mais de cem anos e com fama de santidade. Frei Gaspar narra uma lenda: fora pedida a uma confraria a cera necessária ao funeral de José Adorno, com a obrigação de se pagar a que se gastasse; porém, acabado o ofício, ao ser colocada na balança, a cera apresentava o mesmo peso que tinha ao início, isto apesar de ter estado a arder durante muito tempo.

Palavras-chave:Feitor; ; Génova; Madeira; França; Brasil; Santos; Enguaguaçu; Madre de Deus; S. Vicente; Rio de Janeiro; Baía de Guanabara; Guaratiba; Guarapiranga; Guaibe ilha de Santo Amaro ; Companhia de Jesus; Carmelitas; Bartolomeu Marchionni; Engenho; Tamoios; Anchieta; Nóbrega
Bibliografia
Estudos:Elaine Sanceau, Capitães do Brasil, Porto, Livraria Civilização, 1956, pp. 344-345, 373.
Frei Gaspar de Madre de Deus, Memórias para a História da Capitania de S. Vicente hoje chamada de S. Paulo. Introdução de Afonso Taunay, São Paulo, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1953, pp. 74-75.
Jorge Couto, A construção do Brasil. Ameríndios, Portugueses e Africanos, do início do povoamento a finais de Quinhentos, Lisboa, Cosmos, 1995, pp. 217, 227, 307.
Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, p. 290.
Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, p. 25.
Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, tomos I e II, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1938, pp. 368-371, 420-421; 434-435.


Fontes:Cartas do Brasil e mais escritos do P. Manuel da Nóbrega. Introdução e notas de Serafim Leite, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1955, p. 8.