Projectos

Nome:AMBIVERI, Alberto Maria
Nascimento e morte:Bérgamo, 16/7/1618 – Lisboa, 6/8/1651
Descrição:Filho de Francisco Ambiveri e de Maria Benedita Donesana, Alberto Maria era originário de duas famílias nobres: a paterna da nobreza de Bérgamo e a materna de Caravaggio. Aliás, por parte da mãe, era neto de Jacome Donesano, conde do Sacro Apostólico Palácio e criado do papa Gregório XV.
O seu nome de baptismo era Fernando, em homenagem a um antepassado que fora general das armas de Bérgamo no confronto contra os turcos. Quando entrou para a ordem dos Clérigos Regulares, em 1634, adoptou o nome de Alberto Maria. Foi, então, enviado para o noviciado em Cremona. A 9 de Fevereiro de 1636, professava os votos. Estudou filosofia e, após oito anos de estudos, foi admitido nas ordens sacras.
Porém, a saúde de Ambiveri sempre se revelou frágil e chegou mesmo a ter de abandonar o claustro para ir passar uma temporada a uma quinta em Gierra de Adda, a qual pertencia à sua família. Foi ali que começou a ganhar fama de taumaturgo. Tal custar-lhe-ia uma ida a Milão para se apresentar perante o inquisidor da cidade. Afinal, ao regressar a Bérgamo, fora denunciado à Inquisição pelas suas acções na cura de enfermos em Gierra de Adda. Porém, Ambiveri acabou por convencer o inquisidor da pureza dos seus actos e comprometeu-se a apenas efectuar as suas curas em invocação de um santo, tendo escolhido S. Caetano.
Perante as solicitações do padre Pedro Avitabile sobre necessidade de mais religiosos teatinos para a evangelização da Índia, foi determinado o envio de novos missionários para aquele território. Ambiveri demonstrou logo interesse em participar dessa missão. Porém, a sua família mostrou-se contrária a tal intento e quer o pai, quer o irmão José, acabariam por tentar impedir os seus intentos. Contudo, apesar de alguns atrasos, Ambiveri acabaria por ser escolhido para seguir rumo à Índia.
A 12 de Janeiro de 1650, chegou a Florença, onde encontrou os seus companheiros de missão, o napolitano Crescencio Vivo e o maltês Onofre Cassia. De Liorne, embarcaram rumo a Lisboa, onde entraram a 27 de Fevereiro. Como os teatinos não tinham ainda casa nesta cidade, os missionários recém-chegados tiveram que se alojar em alguns conventos da corte. Ambiveri ficou no convento de Nossa Senhora da Graça, pertencente aos padres agostinhos.
Ambiveri e os seus companheiros foram recebidos por D. João IV, mas foi a rainha D. Luísa de Gusmão quem lhe dedicou uma especial atenção. Afinal, os rumores das curas milagrosas de Ambiveri haviam já chegado a Lisboa. Segundo a tradição, a rainha chamou-o para ir ver o infante D. Afonso, então enfermo de um braço, e benzê-lo com a relíquia de S. Caetano. Com a melhoria do filho, D. Luísa tornou-se particularmente devota daquele santo e passou a insistir para que Ambiveri a visitasse regularmente.
Mas o seu objectivo e o dos outros teatinos era partir o mais cedo possível para a missão na Índia. Alguns deles embarcaram na esquadra destinada a levar o vice-rei, D. João da Silva Telo. Porém, devido aos pedidos da rainha, Ambiveri permaneceu em Lisboa, junto com o padre D. João Maria Vincenti, o qual viera por terra de Florença.
Já convicto em fazer de Lisboa o palco da sua missão, Ambiveri zelou por aprender a língua portuguesa. Passou a pregar em português, conquistando muitos mais ouvintes e encomendando, em particular, a devoção a S. Caetano. Aliás, o teatino foi o grande responsável pelo crescimento da devoção ao santo naquela cidade, sobretudo devido ao alastramento de notícias de curas efectuadas por intercessão deste. Em 1650, insistiu perante a rainha para que se realizasse uma festa em honra de S. Caetano, o que D. Luísa aceitou, disponibilizando para isso a capela real. A devoção alastrou e realizaram-se outras festividades em nome do santo.
Após a partida dos missionários para a Índia, António Ardizzoni Spinola alugou uma outra casa dentro da cidade para a habitação dos teatinos que tinham ficado em Lisboa. Ambiveri passou, assim, a residir num hospício às Portas de Santa Catarina, no local da actual igreja dos Mártires. Apenas a 22 de Novembro de 1650 é que seria concedida a licença para a fundação da primeira casa de teatinos em Lisboa. Ambiveri foi quem solicitou ao rei a autorização para que esta fosse fundada. Assim, a 1 de Julho de 1651, dava início à fábrica da igreja. Foi comprado um palácio na freguesia de Nossa Senhora das Mercês, onde se construiu a casa, dedicada à Senhora da Divina Providência.
A sua devoção mariana levou a que Ambiveri fundasse em Lisboa uma congregação formada por senhoras nobres. Esta congregação estabeleceu-se no palácio da Marquesa de Niza, D. Inês de Noronha, e os seus elementos eram conhecidos como as Escravas da Senhora da Divina Providência.
Passara pouco mais de um ano da sua chegada a Lisboa quando Ambiveri começou a revelar os primeiros sintomas da enfermidade que o vitimaria. Já acamado, o teatino foi visitado por figuras cimeiras da aristocracia portuguesa, desde o próprio monarca e da rainha, até ao duque de Aveiro e o de Torres Novas.
Após a morte de Ambiveri, os seus bens pessoais acabaram nas mãos de alguns dos seus devotos: o Imitatione Christi de Kempis, livro que sempre o acompanhou, foi atribuído ao rei; o seu crucifixo à rainha; os seus óculos ao príncipe D. Teodósio; o breviário aos teatinos de Lisboa e as vestes a alguns devotos.
Alguns nobres encomendaram a Antonio Lastrosa um retrato de Ambiveri morto.
O seu corpo foi sepultado na igreja de Nossa Senhora da Luz, por vontade da rainha e dos duques de Aveiro.
Conhecem-se algumas obras da autoria de Alberto Maria Ambiveri. Enquanto ainda se encontrava em Itália, escreveu um Summario, ou Compendio da vida do Beato Caetano, impresso em Pádua, em 1649, escrito originalmente em italiano. É também autor de uma hagiografia do beato João Marinone em latim, Admirabilis vitae, ac praeclarae mortis B. Joannis Marinone selecta, &c.. Em 1650, Ambiveri pregou, no mosteiro de Madre de Deus em Lisboa, um sermão que, posteriormente, seria publicado como Sermão do Nascimento da Virgem Maria.
Palavras-chave:Nobre; Clérigo Regular; Taumaturgo; Missionário; Teatino; Bérgamo; Caravaggio; Cremona; Gierra de Adda; Milão; Florença; Pádua; Liorne; Lisboa; Índia; Graça; Santa Catarina; Nossa Senhora das Mercês; Francisco Ambiveri; Maria Benedita Donesana; Jacome Donesano; Sacro Apostólico Palácio; Gregório XV; Clérigos Regulares; S. Caetano; Crescencio Vivo; Onofre Cassia; Teatinos; D. João IV; D. Luísa de Gusmão; D. Afonso; D. João da Silva Telo; D. João Maria Vincenti; António Ardizzoni Spinola; Escravas da Senhora da Divina Providência; Marquesa de Niza; D. Inês de Noronha; Imitatione Christi de Kempis; Antonio Lastrosa; Compendio da vida do Beato Caetano; João Marinone; Admirabilis vitae
Bibliografia
Estudos:Giovanni Bonifacio Bagatta, Vita del venerabile servo di Dio D. Alberto Maria Ambiveri da Bergamo, Cherico Regolare Teatino e missionario apostolico all’Indie Orientali, Veneza, Giovanni Battista Tramontin, 1683.
D. Thomaz Caetano de Bem, Vida do V. P. D. Alberto Maria Ambiveri, clerigo regular, Lisboa, Regia Officina Typografica, 1782.
Idem, Memorias Historicas Chronologicas da Sagrada Religião dos Clerigos Regulares em Portugal, e Suas Conquistas na India Oriental, tomo I, Lisboa, Real Officina Typografica, 1792, pp. 154-166, 191-270.