Projectos
Nome: | BORRI, Cristóvão |
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Outros nomes: | BORRI, Cristoforo / BORRO, Cristóvão / BRUNO, Cristóvão / BRONO, Cristóvão |
Nascimento e morte: | Milão, 1583 – Roma, 24/5/1632 |
Descrição: | Tendo entrado na Companhia de Jesus em 1601, Cristóvão dedicou-se ao ensino de Humanidades em Mondovi entre 1606 e 1609. Posteriormente, mudou-se para Milão, leccionando Matemática no colégio Brera, até 1611. Durante este período, Borri revelou-se adepto da corrente anti-ptolemaica, o que lhe valeu as críticas dos professores veteranos do colégio Brera. Estas acabariam por chegar aos ouvidos do geral dos jesuítas, Cláudio Aquaviva, o qual o mandou penitenciar-se publicamente e ordenou o seu afastamento da cátedra. Dadas as circunstâncias, Borri voltou os seus olhos para o Oriente, onde Ricci e outros missionários jesuítas se destacavam no campo da astronomia. O padre Nicolau Longobardo, que sucedera a Ricci na liderança da missão na China, solicitava o envio de missionários versados em Astronomia. Assim, perante o interesse de Borri, o geral Aquaviva acabaria por concordar com o seu envio para a missão no Oriente. Em Abril de 1615, partia de Lisboa rumo à Índia. Logo depois, passou-se para Macau, onde leccionou no colégio da Madre de Deus. Porém, Borri chegou num momento em que os missionários jesuítas eram acusados pelos sábios chineses de estarem a lançar o caos na sua doutrina. Para acalmar os ânimos, o vice-reitor do colégio de Macau, o padre Francisco Vieira, chegou a ordenar-lhe que escrevesse um tratado, visando persuadir os jesuítas na China a abandonarem a defesa da teoria ptolemaica dos onze céus. Porém, desconhece-se se Borri teria alguma vez cumprido a ordem de Vieira. Foi, então, destacado para a missão na Cochinchina, onde já se encontrava o padre Buzome, jesuíta genovês que leccionara Teologia no colégio de Macau. Cristóvão chegou à Cochinchina em 1617 e, logo no ano seguinte, observou ali a passagem de um cometa. Depois de cinco anos a trabalhar naquela região, quer como professor, quer como astrónomo, na tentativa de encontrar um método de medição da longitude no mar através de mapas isogónicos baseados em observações da declinação magnética, Borri foi obrigado a abandonar a missão devido a problemas de saúde. Em 1623, estava já em Goa, destinado a regressar à Europa. Em Goa, ele entrou em contacto com Pietro della Valle que o convenceu a redigir um breve tratado, De Nova mundi constitutione juxta systema Tichonis Brahe aliorumque recentiorum mathematicorum. Valle acabaria por o traduzir para persa, em 1624, tornando este tratado num veículo de transmissão da astronomia nova na Pérsia, Arábia e Arménia. Sete anos mais tarde, já em Roma, o mesmo Pietro della Valle traduziu-o para italiano. Borri teria chegado a Portugal ainda em 1626. Ficou encarregado das cátedras de Matemática e Astronomia no colégio das Artes de Coimbra e destacou-se como o introdutor em Portugal da nova física de Tycho Brahe e de Galileu Galilei. Enquanto se encontrava em Coimbra, publicou umas Conclusões em defesa da teoria dos três céus. Possivelmente ainda no Natal de 1627, Borri foi chamado a Lisboa, onde ensinou na Aula de Santo Antão. Foi mestre de alguns notáveis do reino, como foi o caso de D. Gregório Taumaturgo de Castelo-Branco, 3º conde de Vila Nova de Portimão e último guarda-mor de D. João IV. Em Lisboa, Borri prestou também assistência técnica no Conselho Real. Redigiu, então, um regimento destinado aos pilotos das naus da Índia, onde encorajava a prática da sua teoria da navegação de leste a oeste. Essa teoria encontra-se expressa no seu tratado Arte de Navegar, datado de 19 de Março de 1628. Este resultara de uma encomenda do rei ao ser informado dos conhecimentos náuticos de Borri e dividia-se em três partes: “de alguns princípios comuns a toda a Arte de Navegar”, “do caminho em particular do leste-oeste” e “dos roteiros para as carreiras das Índias Orientais experimentados pelo Autor”. Nova astronomia na qual se refuta a antiga multidão de 12 céus pondo só tres: aéreo, sidéreo e empíreo foi o tratado escrito por Cristóvão Borri no qual ele sintetizava a sua doutrina astronómica. Este encontrava-se dividido em cinco partes: “Da antiga astronomia e sua refutação”, “Da nova astronomia, que é das novas aparências que no céu se observam nestes nossos tempos”, “Da constituição do céu líquido e movimento dos planetas e estrelas, com que se salvam as aparências, assim antigas como modernas”, “Do número ternário dos céus”, “Da criação dos céus”. Borri foi também o autor de uma breve exposição sobre a Arte da Memória, a qual fez parte das suas lições. Nesta obra, ele aborda a divisão da memória artificial e os vários tipos de memórias: das coisas materiais e temporais, das coisas imateriais, das palavras e das coisas permanentes. Em 1629 ou 1630, encontrava-se em Madrid, a convite de Filipe IV. Durante este período, foi alvo de alguma contestação junto dos seus irmãos jesuítas devido à sua obra Collecta astronomica. Neste tratado, Borri divulgava o telescópio e as descobertas de Galileu Galilei, tornando-se no pioneiro, em Portugal, na revelação da descoberta deste novo instrumento. Ao longo da Collecta, Borri defendia a corruptibilidade dos céus, apoiando-se nos matemáticos modernos e, em particular, em Tycho-Brahe, destruindo, assim, o fundamento da teoria astronómica aristotélica. Portanto, a Collecta tornou-se numa obra determinante para a reforma da Astronomia em Portugal. Iniciada ainda em 1623 e finalizada quatro anos mais tarde, a sua publicação foi constantemente adiada. Foi impressa em 1629 e só dois anos mais tarde iniciou-se a sua circulação. Afinal, o geral da Companhia, Múcio Vitelleschi, recusou-se a passar a licença de publicação, exigindo que ele voltasse a expor as suas conclusões perante a Universidade de Coimbra. A resposta da universidade foi positiva e Borri voltou a insistir com o geral que, então, alegou o argumento que, anteriormente, havia sido já apontado pelo padre Sebastião do Couto para o atacar: a inconveniência de, naquele momento, se contradizer as teorias aristotélicas. Quando a Collecta Astronomica recebeu, finalmente, a licença de publicação, Borri encontrava-se já em Roma. Perante Urbano VIII, apresentou uma relação que escrevera sobre as viagens que fizera durante a sua missão no Oriente intitulada, Relatione a Sua Santitá delle cose dell’India Orientale, del Giapone, della China, dell’Etiopia, dell’Isola di San Lorenzo, del Regno di Monomotapa, e della Terra Australe. Essa relação acabaria por ser publicada, em 1631, em Roma, com o título de Relatione della Nuova Missione delli Padri della Compagnia di Giesu al Regno della Cocincina. Borri alertou também o papa para o necessário envio de missionários a Madagáscar e propôs a fundação de uma nova base para as missões austrais. Nesse mesmo ano, Borri obteve uma licença para abandonar a Companhia de Jesus e passar para a Ordem de Cister, entrando para o convento de Santa Cruz de Jerusalém, em Roma. Um breve papal ordenava que, após três meses de noviciado, ele poderia professar os votos. Porém, como o abade do mosteiro recusou a sua admissão, Borri passou para S. Bernardo alle Terme, de onde, poucas semanas depois, seria expulso. Apesar de ter levantado um processo canónico visando a admissão na ordem, Borri não chegaria a concretizar esta sua última vontade, acabando por falecer pouco depois, na sequência de um acidente. |
Bibliografia | |
Estudos: | António Alberto de Andrade, “Antes de Vernei nascer... o P. Cristóvão Borri lança, nas escolas, a primeira grande reforma científica”, Brotéria, v. XL, 1945, pp. 369-379. António Ribeiro dos Santos, Arte de Navegar (1628) pelo Padre Mestre Cristóvão Bruno, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940. Domingos Maurício Gomes dos Santos, “Vicissitudes da obra do P.e Cristóvão Borri”, Anais, II série, v. 3, 1951, pp. 117-150. Francisco Rodrigues, História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, tomo III, vol. I, Porto, Livraria do Apostolado da Imprensa, 1944, pp. 166, 189-190, 193-194. Luís de Albuquerque, A “Aula de Esfera” do Colégio de Santo Antão no século XVII, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1972, pp. 17, 31-34. Norberto Cunha, “Cristóvão Borri: a revolução pela reforma (1583-1983)”, Revista Portuguesa de Filosofia, tomo 40, fasc. 1-2, Janeiro-Julho 1984, pp. 175-185. Thomas F. Mulcrone, “Borri (Bruno), Cristòforo”, Diccionario Historico de la Compañia de Jesus, vol. I, Madird, Universidad Pontificia Comillas, 2001, pp. 495-496. Ugo Baldini, “L’insegnamento della matematica nel Collegio di S. Antão a Lisbonna, 1590-1640”, A Companhia de Jesus e a Missionação no Oriente. Actas do Colóquio Internacional. Lisboa, 21 a 23 de Abril de 1997, Lisboa, Brotéria/Fundação Oriente, 2000, pp. 284, 300-304. |