Projectos

Nome:CADAMOSTO, Luís de
Outros nomes:CA’ DA MOSTO, Luís de / CADAMOSTO, Alvise de / DA MOSTO, Alvise
Nascimento e morte:Veneza, 1429? 1432? – Veneza, 16/7/1483
Descrição:A origem familiar de Cadamosto é controversa. Segundo alguma bibliografia, provinha de uma família nobre oriunda de Lodi que, desde a segunda metade do século XII, residia em Veneza. Rinaldo Caddeo, porém, refere que os Cadamosto eram originários de Oderza e que se encontravam na Sereníssima desde 925.
Filho de Giovanni Da Mosto, que fora provedor da República em Verona em 1439, e de Giovanna di Matteo Quarini, Luís era irmão de Pietro e Antonio Cadamosto.
A data do seu nascimento também levanta algumas questões. A sua relação de viagem conduz à data de 1432. Porém, Ugo Tucci considera essa data inviável, apontando o nascimento de Cadamosto para alguns anos antes, provavelmente 1429. O autor justifica essa inviabilidade com o facto de, em 1442, Cadamosto ser já agente comercial de Andrea Barbarigo. Ora, caso tivesse nascido em 1432, isso significava que ele teria iniciado a sua carreira mercantil aos dez anos, idade exageradamente precoce.
Cadamosto viu-se privado da sua herança familiar dada a condenação do pai ao exílio, na sequência de actividades ilícitas. Tal facto levou-o a aventurar-se no comércio internacional ainda muito jovem. Em 1445, teria feito a sua primeira viagem. Foi à Barbaria, em ligação comercial com a empresa de Andrea Barbagio. No ano seguinte, navegava até Creta. Em 1451, embarcou na esquadra comandada por Alvise Contariro que se dirigia para Alexandria. No regresso, partiu para a Flandres, de onde voltou em 1453.
Em Agosto de 1454, junto com o irmão Antonio, Luís voltou a embarcar rumo à Flandres, nas galés comandadas por Marco Zen, tendo deixado o irmão Pietro em Veneza, a liderar os negócios da família. No decorrer da viagem, os ventos conduziram-no ao Cabo de São Vicente. O infante D. Henrique aproveitou para enviar a bordo Antão Gonçalves e Patrício de Conti, cônsul veneziano, destinados a mostrar à tripulação alguns dos produtos que Portugal recebia dos territórios recém-descobertos e a falar-lhes das riquezas que destes advinham. Cadamosto mostrou o seu interesse nas potencialidades desse novo comércio e, numa reunião com o infante, colocou-se ao seu serviço para futuras viagens. D. Henrique, sabendo do seu conhecimento sobre o comércio de especiarias com o Oriente, aceitou-o e deu-lhe a oportunidade de escolher entre duas propostas: Cadamosto encarregar-se-ia da armação da caravela, entregando-lhe apenas um quarto das mercadorias que trouxesse, ou remeter-lhe-ia tal encargo, dividindo em partes iguais a carga com que regressasse. Dada a precariedade da sua situação económica, Cadamosto optou por deixar a armação da caravela completamente a cargo de D. Henrique.
A 22 de Março de 1455, embarcou numa caravela armada pelo duque de Viseu e da qual era capitão Vicente Dias, de Lagos. Seguiu pelos arquipélagos atlânticos e passou o Cabo Branco. Aportou em terras do rei Budomel, ligeiramente a norte de Cabo Verde, onde ficou durante quase um mês, trocando cavalos, panos de lã e outros tecidos por escravos. Prosseguiu, então, a viagem em torno do Gâmbia, região que tinha fama de ser rica em ouro. No decorrer desta jornada, encontrou Antonioto Usodimare, ao qual se agregou até à foz do rio Gâmbia. Apesar dos ventos serem favoráveis ao prosseguimento para sul, os ataques dos indígenas dissuadiram os dois navegantes de continuarem a exploração da costa africana, acabando por regressar a Portugal.
Já com meios suficientes para assumir os encargos da armação da caravela, em 1456, Cadamosto enveredou por uma nova viagem, agora possivelmente acompanhado por Usodimare e por uma segunda caravela do Infante. O objectivo era o regresso ao Gâmbia. Saiu de Lagos a 1 de Maio de 1456 e fez a rota pelas Canárias, rumo ao Cabo Branco. Subiu o rio Gâmbia durante cerca de 90 quilómetros até à região do Batimansa. Continuou pelo Sul e alcançou o rio Casamansa, o cabo Roxo, o rio de Santana, o rio de S. Domingos e chegou ao rio Grande.
Na sua relação, Cadamosto atribui a si o descobrimento das ilhas orientais de Cabo Verde no decorrer desta sua segunda viagem. Ao passarem o Cabo Branco, foram surpreendidos por uma tempestade que os pôs em deriva durante três dias, no final dos quais avistaram terra. Desembarcam, então, numa primeira ilha, à qual deram o nome de Boa Vista. São Tiago seria o nome dado a uma segunda ilha descoberta.
Porém, nenhum outro autor daquela época atribui o descobrimento das ilhas orientais de Cabo Verde a Cadamosto. João de Barros, por exemplo, refere António da Noli como o seu descobridor. Outros autores mencionam que a descoberta foi partilhada entre Diogo Gomes e Noli.
Depois das duas viagens, Cadamosto dedicou-se sobretudo ao comércio. Durante alguns anos, viveu ainda em Portugal, estabelecendo-se provavelmente em Lagos. Afinal, era ali que se encontrava quando, em 1462, tomou conhecimento da relação da viagem à Guiné de Pedro de Sintra.
Em 1463 ou 1464, regressou a Veneza, onde escreveu a relação das suas viagens. Ali, casou-se com Elisabetta Venier, em Janeiro de 1466, recebendo de dote dois mil ducados.
Entre 1469 e 1481, comerciou com a Espanha (sobretudo urzela das Canárias), Alexandria (para onde exportava castanhas), Síria e Inglaterra (onde vendia malvasia e seda). Em 1470, foi eleito auditor novo da sentenze. Quatro anos mais tarde, a 17 de Abril de 1474, foi enviado como orador extraordinário à noze do duque herzegovino Vlatko di Santa Sava. Também participou na luta contra os turcos nos Balcãs, ficando encarregue da defesa do porto montenegrino de Cattaro.
Em 1479, Cadamosto estava de regresso a Veneza e, dois anos depois, era capitão das galés que iam negociar a Alexandria. A 26 de Novembro de 1482, era eleito provedor em Biave.
Já depois da sua morte, a 6 de Novembro de 1490, seria impresso em Veneza um Portulano del Mare não assinado cuja autoria é atribuída a Cadamosto por alguns autores, entre os quais Rinaldo Caddeo.
Da sua experiência ao serviço da coroa portuguesa resultaram duas relações de viagem compostas, segundo Luisa D’Arienzo, em Veneza e relativas, respectivamente, à sua primeira e segunda viagem pela costa africana. Cadamosto compôs ainda uma terceira relação, na qual narrava a viagem de Pedro de Sintra até aos confins meridionais do actual Líbano.
Dos escritos de Cadamosto resultaram quatro versões, duas manuscritas e duas impressas. Os dois manuscritos apógrafos encontram-se na Biblioteca Marciana de Veneza, um composto na segunda metade do século XV e outro nos primeiros anos do século XVI. Este último encontra-se integrado numa colectânea de relações de viagens coligidas por um franciscano sob o título de Viaggiatori antichi. A impressão de 1507, de Francanzio da Montalboddo, trata-se do mais antigo texto impresso relativo aos descobrimentos portugueses. É uma colectânea de relações de viagem intitulada Paesi nuovamente ritrovati et Novo Mondo da Alberico Vesputio Florentino intitulato, impressa na oficina de Giovanni Maria da Ca’Zeno, em Vicenza, na qual o primeiro e segundo livro integravam as relações das viagens de Cadamosto e de Pedro de Sintra. No ano seguinte, era publicada a tradução latina de Arcângelo Madrignano, Itinerarium Portugallensium e Lusitania in Indiam et inde in occidentem et demum ad aquilonem. Em 1550, Giovanni Battista Ramusio publicava, em Veneza, a obra de Cadamosto na sua colectânea Delle Navigationi et Viaggi.
Segundo Caddeo, a notabilidade de Cadamosto não residiu tanto no seu papel de descobridor e explorador mas sim na obra escrita que deixou. Foi pioneiro na redacção de um modelo de relação de viagem sobre o continente africano marcado pela profundidade das observações e descrições. Além disso, com esta obra, deixou um legado proficuamente aproveitado pela cartografia: a carta de Fra Mauro, de 1460, assinala os territórios visitados por Cadamosto e a de Grazioso Benincasa, de 1466, utiliza a nomenclatura corrente na relação do veneziano.
Bibliografia
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