Projectos
Nome: | CRETICO, Giovanni Matteo |
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Outros nomes: | CAMERINI, Giovanni Matteo |
Nascimento e morte: | Sécs. XV-XVI |
Descrição: | O seu apelido tinha origem no facto de ter vivido, durante sete anos, em Creta. Professor de retórica grega na Universidade de Pádua, Cretico era um grande latinista e helenista. Foi enviado para a Península Ibérica como secretário de Domenico Pisani, o qual fora nomeado embaixador veneziano em Espanha em Setembro de 1500. Assim, enquanto Pisani se encontrava na corte espanhola, Cretico ficou em Lisboa, a representar os interesses da Sereníssima. Numa carta de 27 de Junho de 1501, Cretico informava a República de Veneza sobre a chegada a Lisboa de uma das naus da armada de Cabral, a Anunciada, e noticiava que tinha sido descoberta a “terra dos papagaios”. Estas foram as primeiras notícias que a República de Veneza teve sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral e, por conseguinte, sobre a descoberta do Brasil. Foi também o primeiro relato da expedição a ser publicado em Veneza, embora actualmente essa edição não seja conhecida. Posteriormente, a carta foi incluída na obra de Francanzano de Montalboddo, Paesi novamente retrovati.... Ao redigir esta carta, Cretico ter-se-ia apoiado, sobretudo, em testemunhos orais, como demonstra o seu conteúdo e algumas imprecisões existentes ao longo do texto. O relato centra-se na rota tomada pela armada de Cabral e evidencia a alegria com que a Anunciada foi recebida em Lisboa, em particular pelo rei D. Manuel. O texto termina com a referência às especiarias trazidas a bordo da nau. Uma carta trocada entre Domenico Malipiero, historiador de Veneza, e Angelo Trevisano, membro da embaixada de Pisani em Espanha, fazia alusão a um tratado composto por Cretico sobre a viagem de Cabral. Contudo, desconhece-se o paradeiro de tal texto. Este facto levou alguns autores, como Marcondes de Sousa e Carlos Malheiro Dias, a associarem o dito tratado de Cretico à “Relação do Piloto Anónimo”, datada de Julho de 1501, e assim conhecida desde a sua publicação na obra de Giovanni Battista Ramusio, Delle navigationi et viaggi.... William Greenlee não concorda que Cretico fosse o autor desta relação e considera igualmente improvável que tenha sido ele o responsável pela sua tradução para italiano, como sugere alguma bibliografia. Afinal, não se conhece nenhum indício de que o diplomata veneziano soubesse português e, além disso, o estilo da narrativa não é o próprio de um erudito. Segundo Greenlee, o autor da relação seria um português que participara da armada de Cabral. António Banha de Andrade corrobora esta opinião, considerando que a relação evidenciava uma estrutura similar aos diários de bordo e que a relevância dada ao descobrimento do Brasil e as poucas notícias sobre o comércio de especiarias não seriam naturais num diplomata veneziano, tendencialmente interessado em fornecer informações coincidentes com os interesses da República. Porém, Cretico teria sido o responsável pela chegada da relação até Veneza. Numa carta de 3 de Dezembro de 1501, Angelo Trevisiano dizia que Cretico tinha comunicado tantas particularidades sobre a viagem de Cabral como se tivesse estado mesmo em Calecute. Por essa altura, o veneziano já se encontrava em Espanha. Tinha deixado o seu posto em Lisboa em Setembro desse ano. |
Bibliografia | |
Estudos: | António Banha de Andrade, Mundos Novos do Mundo. Panorama da difusão, pela Europa, de notícias dos Descobrimentos Geográficos Portugueses, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1972, pp. 248-252, 260-262. D. S. Chambers, “Venetian Perceptions of Portugal, c. 1500”, Cultural links between Portugal and Italy in the Renaissance, Oxford, Oxford University Press, 2000, pp. 28-29. José Honório Rodrigues, Teoria da História do Brasil (Introdução Metodológica), 3ª ed., S. Paulo, Companhia Editora Nacional, 1969, pp. 355-357. Prospero Peragallo, La Biblia dos Jeronymos e la Biblia di Clemente Servigi. Studi comparativi, Génova, Stab. Papini, 1901, pp. 21-22. William Brooks Greenlee, A Viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e à Índia pelos documentos e relações coevas, Porto, Civilização Editora, [s.d.], pp. 147-150, 215-218, 221-226, passim. |