Projectos
Nome: | CASALE, João Vicente |
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Outros nomes: | CASALI, Giovanni Vincenzo / CAZALI, João Vicente |
Nascimento e morte: | Florença, 1539 - Coimbra, 21/12/1593 |
Descrição: | Filho de um tintureiro, João Vicente Casale entrou, a 6 Janeiro de 1565, na ordem dos Servos de Santa Maria no convento da SS. Anunziata, onde professou os seus votos, em 1566, e disse a primeira missa em 1567. Discípulo do escultor florentino e igualmente servita Giovanni Angelo Montorsoli, Casale colaborou na decoração da capela e altar-mor da igreja de SS. Annunziata, obra que continuou sozinho após a morte do seu mestre em 1563. Após este trabalho, executou algumas esculturas para a decoração da Porta al Prato por ocasião da entrada, em Florença, de D. Joana da Áustria, esposa de Francisco I de Médicis, a 16 de Dezembro de 1565. Este teria sido o seu primeiro contacto com os Médicis. Posteriormente, chamado pelo arcebispo Guillemus d’Avançon de San Marcel, viajou até Embrun, em Placência. Casale foi encarregado de esculpir algumas estátuas para a catedral. Esta obra representou a sua primeira actividade fora dos claustros. A partir daí, Casale alargou a sua actividade à arquitectura e à engenharia hidráulica e militar. Ainda trabalhou em Roma, na vila Médicis, restaurando estátuas e esculturas antigas, antes de passar a operar como escultor, arquitecto e engenheiro em Nápoles. No Natal de 1577, encontrava-se no convento de Santa Maria do Parto, em Mergellina, ocupando-se na construção da capela de Santa Maria Ognibene. No ano seguinte, projectou uma fonte para a Loggia dei Genovesi. A partir de 1579, em Nápoles, Casale foi o responsável pelo projecto do novo arsenal na praça de Santa Luzia, obra que lhe valeu a atribuição do título de engenheiro e arquitecto régio por Filipe II. Em 1586, partiu para Espanha, possivelmente acompanhado pelo sobrinho, Alexandre Massai. Porém, Eugenio Battista e Mazimo Mossi afirmam que, em 1585, Casale já estaria em Espanha. A missão que o levou à Península Ibérica era a planificação do castelo de Santo Elmo. Nos primeiros tempos, Casale ocupou-se também dos restauros em S. Millán de la Cogolla e S. Domingo di Vallalpando. Em 1589, tornou-se arquitecto do Escorial. No final daquele ano, Filipe II decidiu enviá-lo para Portugal como engenheiro militar, com a função de preparar a fortificação de Lisboa, perante a ameaça de um ataque inglês. Chegou a Lisboa junto com o sobrinho Alexandre Massai. A 2 de Dezembro de 1589, Casale enviava a Filipe II uma carta em que abordava as primeiras alterações a serem feitas à Torre de Belém e falava de Cabeça Seca como o local mais apropriado para a construção do forte que o monarca pretendia ver erigido entre S. Julião e Cascais. Filipe II fez desta obra a prioritária do engenheiro, em colaboração com Tibúrcio Spannochi. Porém, as dificuldades colocadas pelas características do local atrasaram-na. Casale despendeu cerca de três meses, entre Dezembro e Fevereiro, a observar o local para avaliar as características naturais, sobretudo, a violência das vagas. Posteriormente, colocou dois projectos para o forte à consideração de Filipe II: um com uma planta circular e outro em forma de estrela. Porém, ele revelava as maiores vantagens que se teria na escolha do primeiro, mais resistente à força das marés e mais eficaz em termos militares. De facto, seria esse o projecto realizado. Casale estimou para dois anos o tempo que duraria a construção do forte e o orçamento em 134 mil cruzados. Porém, as obras arrastar-se-ão para lá da sua morte. Segundo Joaquim Ferreira Borça e Maria Rombouts de Barros, os trabalhos teriam começado ainda na Primavera de 1590. Contudo, após três anos, os alicerces do forte ainda não se encontravam concluídos. São conhecidos outros trabalhos de Casale em Portugal: na fortificação de Setúbal, no castelo de Santo António, no claustro do castelo de Vila Viçosa e no convento dos cartuxos de Évora. Casale dedicava-se também ao desenho de peças decorativas. Num álbum com notas do sobrinho Massai, encontram-se desenhos de mesas com embutidos, datados de cerca de 1570. Vítima de erisipela, uma inflamação aguda da pele, Casale morreu, deixando, em testamento, a quantia de mil escudos para a construção do convento de Montesenario, em Florença. |
Bibliografia | |
Estudos: | Eugenio Battisti e Mazzino Fossi, “Casali (Casale), Giovanni Vincenzo”, Dizionário Biográfico degli Italiani, vol. 21, Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1978, pp. 90-92. Fernando de Pamplona, “Cazali (João Vicente)”, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses ou que trabalharam em Portugal, vol. I, Lisboa, [s.n.], 1954, p. 209. Joaquim Manuel Ferreira Borça e Maria de Fátima Rombouts de Barros, O Forte e Farol do Bugio. São Lourenço da Cabeça Seca, Lisboa, Fundação Marquês de Pombal, 2004, pp. 45-64. L. A. Maggiorotti, “Architetti militari italiani in Portogallo”, Relazioni storiche fra l’Italia e il Portogallo, Roma, Reale Accademia d’Italia, 1940, p. 425. Orietta Lanzarini, “Il codice cinquecentesco di Giovanni Vincenzo Casale e i suoi autori”, Annali di architettura, n.º 10-11, 1998-99, pp. 183-202. Paulo Varela Gomes, “«Se eu cá tivera vindo antes...». Mármores italianos e barroco português”, Artis, n.º 2, 2003, p. 189. Rafael Moreira, “As máquinas fantásticas de Leonardo Turriano: a tecnologia do Renascimento na barra do Tejo”, Nossa Senhora dos Mártires: a última viagem, Lisboa, Pavilhão de Portugal – Expo 98, 1998, p. 52. |