Projectos

Nome:CASTELHANO, João Rodrigues
Outros nomes:CASTIGLIANO, João Rodrigues
Nascimento e morte:m. Madeira, 1570
Descrição:João Rodrigues Castelhano, mercador genovês, encontrava-se estabelecido na ilha da Madeira desde finais do século XV. Segundo o processo de habilitação para familiar do Santo Ofício de um seu descendente, João José de Vasconcelos Betencourt, em 1751, o nome “Castelhano” não era o seu verdadeiro apelido, sendo apenas conhecido assim por falar a língua castelhana. O seu nome de família, Mondragão, apenas seria retomado pela sua descendência.
Prospero Peragallo propõe a hipótese de João Rodrigues Castelhano e Capellan de Capellani serem o mesmo indivíduo. Segundo o autor, Capellani, cujo nome era uma contracção de Catalano, era o genovês que Gaspar Frutuoso refere numa passagem das Saudades da Terra como um grande proprietário de canaviais, chamado de “Castigliano”, referência que corresponde ao biografado. Porém, consideramos esta conjectura de Peragallo pouco consistente.
João Rodrigues era casado com Maria Rodrigues, irmã de mestre Pedro Giraldes (Pietro Giraldi), o qual acabaria por se tornar também seu genro, ao casar-se com D. Francisca Mendes de Vasconcelos. Além de Francisca, Castelhano foi pai de mais sete filhos que, através dos seus casamentos, consolidaram a ligação dos Mondragão a alguns dos principais núcleos familiares da sociedade madeirense. Tal verifica-se nos enlaces matrimoniais das suas filhas: Catarina casou-se, em primeiras núpcias, com Francisco Achioli e, num segundo casamento, com Francisco Gonçalves da Câmara, filho natural do capitão Simão Gonçalves da Câmara; Joana casou-se com Duarte Mendes de Vasconcelos e Ana Morante com Ambrósio de Brito. Um filho de Castelhano, António Rodrigues Mondragão, estudou em Paris, integrou a casa do infante D. Luís e, mais tarde, foi um dos homens de confiança do rei Filipe I, isto além de ter desempenhado uma série de cargos na Madeira (juíz na Ponta do Sol, provedor das misericórdias da Calheta e do Funchal). Os outros filhos de João Rodrigues eram Francisco Mondragão, que se casou com D. Brites de Oliveira; João Baptista e Cristóvão Rodrigues Mondragão, o qual foi clérigo cubiculário do papa Paulo III.
Alguma bibliografia coloca a hipótese de João Rodrigues Castelhano ter sangue hebreu. Um neto, filho de João Baptista Mondragão, foi processado pelo Santo Ofício por heresia e luteranismo e confessou que o seu pai era cristão-novo.
Em 1495, João Rodrigues era porteiro da Câmara do Funchal, recebendo 3 500 réis de tença pelo exercício desse ofício.
Posteriormente, passou a dedicar-se ao comércio do açúcar, com o qual enriqueceu. Em 1512, era já senhor de uma extensa fortuna, proprietário de um grande corpo de escravos e de várias fazendas e casas no Funchal. Nesse ano, Belchior Imperiale pagou 35 908 reais a João Saraiva, em seu nome. No ano seguinte, na Calheta, Castelhano comprou 201 arrobas de açúcar meles a Gonçalo Fernandes e 94 arrobas de mascavado e 7 de escumas a Duarte de Brito.
Em 1513, João Rodrigues tinha alugadas umas casas no Funchal por 1600 réis anuais, para ali se guardarem cal, madeiras, ferramentas e outras coisas necessárias às obras da alfândega. Em 1515, existe o registo do aluguer de outras casas a Estêvão Fernandes para também albergarem as ferramentas e materiais destinados às obras da Sé e da alfândega, pelas quais recebia de renda 5 200 réis. Aliás, Castelhano era um dos principais fornecedores de madeira para essas obras.
João Rodrigues representava, na Madeira, vários mercadores, nomeadamente franceses, o castelhano Pero de Ayala e Bernardim de Medeiros. Ainda em 1515, junto com João Mendes, foi procurador de Pedro de Mimença e de Jorge Lopes Bixorda, situação que ainda ocorria em 1525. Tal como Gonçalo Dias e João de Valdeveso e Morais. Nesse ano, eles compraram o açúcar do rei e receberam do almoxarife da jurisdição de Machico, Leonel de Ponte, açúcar de todas as qualidades no valor total de 160 532 réis. Castelhano continuou a representar os contratadores do açúcar da Madeira nos anos seguintes. A 14 de Agosto de 1526, junto com João Pardo e João de Valdeveso, procuradores dos franceses Mimença e de Charles Correia, então contratadores do açúcar dos direitos da Madeira, passavam um conhecimento de que tinham recebido de Leonel de Ponte, até ao final de Julho, 1 909 arrobas e 23 arráteis de açúcar. O açúcar entregue por Ponte àquela sociedade, nesse ano, totalizou os 1 085 188 réis. A 3 de Setembro de 1528, Castelhano, Simão Fernandes e João do Vale apresentavam na alfândega do Funchal o contrato da venda do açúcar dos direitos da ilha da Madeira.
Quanto a negócios efectuados em nome próprio, destacam-se alguns registos: em 1517, comprava a João Ferreira, na Ribeira Brava, 40 arrobas de açúcar meles; seis anos depois, exportava para Livorno 854 arrobas de açúcar branco, 98 arrobas de escumas e cem arrobas de meles; em 1526, comprava, na Ponta do Sol, 80 arrobas de açúcar mascavado a Fernão Dias.
Em 1529, Castelhano era o recebedor do empréstimo para o contrato das Molucas. Nesse mesmo ano, também recebia as rendas do bispado do Funchal. No ano seguinte, em sociedade com João Coquet, Bernardim Medina, Afonso de Sevilha e João de Quintana, obteve o controlo dos direitos de todo o açúcar da ilha da Madeira.
João Rodrigues era também um próspero produtor de açúcar. Na Calheta, em 1534, produziu: 1100 arrobas de açúcar branco, 40 arrobas de meles, 50 arrobas de açúcar mascavado, 142,5 arrobas de escumas, 87,5 arrobas de rescumas. Nesse ano, pagou, de dízima, 2 moios e 3 alqueires de trigo.
Em 1537, Castelhano foi feito provedor da misericórdia da Calheta. Junto com a sua mulher, instituiu uma capela na Calheta.
Em 30 de Agosto de 1546, já moribundo, fazia o seu testamento, deixando uma boa parte da sua fortuna, em esmolas, às misericórdias da Calheta e do Funchal. Ao hospital do Funchal, deixou umas casas em frente à alfândega.
Bibliografia
Estudos:José Pereira da Costa, “A família Mondragão na sociedade madeirense do século XVI”, Actas do I Colóquio Internacional de História da Madeira, vol. II, Funchal, Governo Regional da Madeira, 1989, pp. 1096-1100.
Fernando Jasmins Pereira, “Estrangeiros na Madeira entre 1500 e 1537”, Estudos sobre a História da Madeira, Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico / Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração, 1991, pp. 388-390.
Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, p. 293.
Pierluigi Bragaglia, Os italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira). Tese de Laurea em História Moderna na Universidade dos Estudos de Bologna – Faculdade de Ciências Políticas, Bolonha, 1992, exemplar policopiado, pp. 400-402.
Rui Carita, História da Madeira (1420-1566). Povoamento e produção açucareira, Funchal, [s.n.], 1989, pp. 239, 283.

Fontes:ANTT, Corpo Cronológico, parte II, maço 48, n.º 53; maço 127, n.º 130 e 175; maço 133, n.º 42; maço 135, n.º 38; maço 137, n.º 176; maço 139, n.º 65; maço 149, n.º 26; maço 158, n.º 107; maço 159, n.º 16; maço 162, n.º 8.
Fernando Jasmins Pereira e José Pereira da Costa (prefácio, leitura e índice), Livro de contas da Ilha da Madeira 1504-1537, vol. II, Coimbra, Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração / Centro de Estudos de História do Atlântico, 1989, pp. 103, 229, 234, passim.