Projectos

Nome:CATANHO, Duarte
Outros nomes:CATTANEO, Edoardo
Nascimento e morte:n. Chios, finais séc. XV ou inícios séc. XVI
Descrição:A primeira notícia de um contacto de Duarte Catanho com as autoridades portuguesas remonta a 1538. Naquele ano, aportou em Diu, vindo numa embarcação portuguesa oriunda de Ormuz. O capitão da fortaleza, Pedro de Castelo-Branco, acabou por remetê-lo ao governador da Índia, Nuno da Cunha, então de visita à praça. Catanho confessou-lhe ter sido enviado pelo grão-turco Solimão II em serviço de espionagem. Tinha a missão de averiguar a forma como os portugueses se preparavam para fazer face a um novo ataque turco. Nuno da Cunha resolveu enviá-lo para Portugal com o fim de repetir o que lhe contara perante o rei e, assim, sensibilizá-lo a tomar uma atitude mais enérgica perante a ameaça turca.
Ao chegar a Portugal, Duarte convenceu a corte das intenções de Solimão II. A presença portuguesa no Índico trouxera dificuldades financeiras ao comércio turco e o soberano estava disposto a negociar um tratado de paz com Portugal, caso D. João III aceitasse fornecer-lhe, anualmente, cinco mil quintais de pimenta. Em contrapartida, o grão-turco comprometia-se a não atacar os portugueses no Índico e a fornecer cerca de cinco mil moios de trigo para o abastecimento metropolitano.
D. João III encarregou Catanho de ir negociar, a Constantinopla, a paz com Solimão II por um período de, pelo menos, quinze anos. Duarte deveria também tentar a redução das exigências do grão-turco para, no máximo, três mil quintais de pimenta. Assim, partiu para a Turquia, depois de receber algumas mercês régias, entre as quais, a honra da sua filha, Salvagina, ser nomeada dama da rainha.
Numa carta de 26 de Outubro de 1540, Catanho informava o rei sobre a sua viagem. Demorara-se em Constantinopla a observar a armação de quarenta galeões turcos destinados à Índia. Embarcou para Alexandria e dali para o Cairo, onde esteve até meados de Setembro, período durante o qual se informou sobre aquela armada turca.
Solimão mudara as bases do acordo com a coroa portuguesa. Exigia agora o envio de quatro mil quintais de pimenta e recuava na questão do fornecimento do trigo: este não seria trocado pela pimenta mas sim comprado nas mesmas condições em que o faziam os franceses e os venezianos. Catanho propunha-se a regressar à Índia com o fim de se encontrar com o vice-rei D. Garcia de Noronha e avisá-lo do novo perigo que se anunciava após a intensificação das forças turcas em Adem.
Temendo o ataque turco, catorze ou quinze navios portugueses haviam entrado no Mar Vermelho. Numa nova carta ao monarca português, a 20 de Setembro de 1541, Duarte criticava esse excesso de zelo: o grão-turco estava disposto a baixar a quantidade de pimenta exigida para três mil quintais e, caso esses navios não tivessem passado o estreito de Meca, teria sido possível uma mudança da sua posição face ao fornecimento do trigo. Esta missiva mostrava a intenção de Catanho em influenciar D. João III a aceitar as exigências de Solimão II.
Duarte regressou a Portugal e foi agraciado com várias mercês. Junto com Lucas Giraldi, Giacomo Botti e Nicolau Rojo, passou a conduzir os negócios entre Portugal e Espanha.
D. João III deu-lhe uma nova missão: ir a Constantinopla para concluir o acordo com o grão-turco. Uma carta de Pedro Cazado do Rego, de 22 de Julho de 1544, referia essa futura viagem de Catanho, porém, alertava para que “se tivesse olho nele” pois “onde vai o seu proveito não olha a honra nem a vergonha”.
De facto, essa viagem não chegou a realizar-se. Com o navio em Belém, pronto a partir para o Oriente, Catanho foi até Almeirim, onde se encontrava a corte, para se despedir do monarca. Porém, em Lisboa, ocorreu um misterioso desaparecimento de escravos e as suspeitas caíram sobre o navio onde partiria Catanho. Foi feita uma busca e foram encontrados, além dos escravos, armas e escritos comprometedores que provavam como Duarte não passava de um espião ao serviço de Solimão II.
Ao saber do sucedido, D. João III mandou prendê-lo em segredo e remeteu a Fernão Coutinho, enviado português em Constantinopla, uma ordem para regressar de imediato, temendo-se que o grão-turco retaliasse sobre este ao saber da prisão do seu espião. Numa carta de 11 de Fevereiro de 1546, o corregedor Filipe Antunes dava conta ao monarca que havia preso Catanho e o resto da tripulação da nau, pondo em depósito toda a sua fazenda, e que entregara a Gaspar Palha as instruções que o veneziano levava.
A 21 de Outubro de 1547, Gião Fialho escrevia a D. João III do castelo de Óbidos, onde Duarte Catanho estava preso havia então dois anos. Segundo Fialho, o veneziano lamentava-se constantemente, dizendo não conhecer a razão porque se encontrava preso e que tinha “a boca tapada para não falar e os olhos para não ver, as mãos atadas para não escrever”.
Bibliografia
Estudos:A. da Silva Rego, “Duarte Catanho, espião e embaixador”, Estudos de História Luso-Africana e Oriental (Séculos XVI-XIX), Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1994, pp. 27-44.
Morais do Rosário, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, [s.n.], 1977, p. 294.
Pierluigi Bragaglia, Os italianos nos Açores e na Madeira, das origens da colonização a 1583 (conquista espanhola da Terceira). Tese de Laurea em História Moderna na Universidade dos Estudos de Bologna – Faculdade de Ciências Políticas, Bolonha, 1992, exemplar policopiado, p. 324.
Prospero Peragallo, Cenni intorno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Genova, Stabilimento Tipografico Ved. Papini e Figli, 1907, pp. 54-55.

Fontes:ANTT, Corpo Cronológico, parte I, maço 68, n.º 57; maço 69, n.º 46; maço 70, n.º 90; maço 74, n.º 108; maço 77, n.º 81; maço 79, n.º 112.