Projecto Monções
O projecto Monções – Cristãos-novos, judeus e processados por judaísmo na Inquisição de Goa (1560-1812) foi concebido como forma de superar os condicionalismos documentais que afectam a investigação sobre os cristãos-novos no Estado da Índia. A perda do arquivo da Inquisição de Goa – irremediável a vários níveis – impossibilita, hoje, investigações que dependam da quantidade ou da diversidade de fontes inquisitoriais, da serialização de tipologias documentais ou da sua correlação entre si. Não é invulgar que uma comunicação ou uma conferência que versem sobre a Inquisição de Goa alertem para a exiguidade de fundos disponíveis para se historiar a actividade deste tribunal. Fundado em 1560 e abolido definitivamente em 1812 (após um primeiro encerramento entre 1774 e 1778), o Santo Ofício de Goa foi o único tribunal do sistema inquisitorial português cujo arquivo não se conservou. O carácter fragmentário e exíguo da documentação produzida pela Inquisição de Goa dificulta, por isso, análises similares às que a historiografia conduziu acerca de sociedades tuteladas por outros tribunais inquisitoriais como os de Coimbra, Évora ou Lisboa. Localizar, reunir e tratar criticamente a dispersa, fragmentária e heterogénea documentação produzida pela Inquisição de Goa é, pois, uma das preocupações deste projecto, cujo horizonte é o de resgatar as experiências individuais e colectivas de cristãos-novos e de judeus no Estado da Índia.
Espaço essencial para determinar, amplamente, quem nas sociedades portuguesas foi, ou não, cristão-novo, as fontes inquisitoriais constituem um rico repositório informativo sobre redes familiares e mercantis, estratégias comerciais, atitudes devocionais, trajectórias individuais ou de grupo, bem como de uma variedade de comportamentos sociais nos quais transparecem tensões, compromissos ou convergências entre cristãos-novos e cristãos-velhos: um equilíbrio para o qual a existência do Santo Ofício desempenhou um papel nada negligenciável. Por isso, o desaparecimento deste manancial documental privou, em larga medida, a historiografia das possibilidades de analisar, com a profundidade de outros contextos inquisitoriais, a tensa e desigual coexistência de cristãos-novos, cristãos-velhos e o Santo Ofício. No entanto, a investigação realizada permite ilustrar uma diversidade de contextos sociais e geográficos onde cristãos-novos e judeus residiram ou frequentaram, de Moçambique a Macau, passando por Goa, Cochim e Ormuz, revelando interacções, expectativas, angústias, alimentação e religiosidades.
Este projecto pretende colocar à disposição da comunidade académica e do grande público todo um conjunto de recursos que permitam diversas formas de acesso às experiências de cristãos-novos e judeus no Estado da Índia, assim como daqueles que, não o sendo, foram julgados por judaísmo. De biografias a mapas, de gráficos analíticos a artigos científicos. Através da Série Goana da Colecção Usque da Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste, o projecto pretende alimentar um conjunto de edições críticas dos processos da Inquisição de Goa contra cristãos-novos que chegaram aos nossos dias. De Moçambique a Macau, passando por Goa